Qualidade de Vida mostra riquezas peruanas, cultura ímpar e influência da colonização em exposição no CCBB
Antes de os espanhóis pisarem nas terras vizinhas do Andes, em que as civilizações pré-Incas até o próprio Império Inca dominavam, existia uma riqueza material e cultural ímpar – ora destruída violentamente, ora saqueada no período da invasão espanhola. A exposição “Tesouros Ancestrais do Peru”, sediada até novembro no Centro Cultural Banco do Brasil, resgata essa história marcada por ritos e divindades. Foi na quarta (9) que os participantes do Qualidade de Vida tiveram a chance de entender melhor esse recorte histórico.
Muito do que não foi tomado durante a colonização foi descoberto séculos depois por meio de um minucioso trabalho arqueológico. Pouco a pouco, revelaram-se civilizações que habitaram as terras andinas durante aproximadamente 10 mil anos, sempre aperfeiçoando suas tecnologias. Desvendaram-se diversos objetos datados entre 900 a.C e 1600 d.C., principalmente tecidos usados em casa no cotidiano, na confecção de armamentos, roupas típicas e itens religiosos.
Até hoje existem nas ruas as coloridas celebrações típicas Incas que se mesclam com festividades católicas, herança da imposição da religião dominante na Espanha, talvez como forma de preservação de sua cultura.
Já os religiosos da antiguidade ofereciam oferendas (como milho e incenso de palo santo) e reverenciavam o deus Sol, ou “Apu Inti”, ao qual acreditava-se ser uma criança: todos os dias, o Sol nasce. Se ele nasce todos os dias, ele seria uma criança que rompe com a escuridão da noite. Os colegas tiveram a experiência de entrar neste local sagrado, ou “Waka”, que simulava os ritos e objetos.
As representações divinas mais prestigiadas eram feitas de ouro, e o nobre metal eraa utilizado pelas elites – não tão diferente dos tempos atuais, como pode-se ver nos ornamentos elaborados. Acredita-se que as cerâmicas mais nobres foram encontradas nas “Wakas”, locais sagrados. Com o tempo e aperfeiçoamento das técnicas, foram inseridas cores nas peças, além de modelagens mais rebuscadas, até mesmo com feições humanas em copos, garrafas e afins.
Instrumentos musicais como a flauta, tão intrinsicamente andino, também eram inicialmente fabricados em cerâmica. Em conversa pós visita, os associados chegaram a uma conclusão: as civilizações andinas eram extremamente ricas e espiritualizadas.
Um último comentário do monitor chamou a atenção. Aqueles povos, de tempos tão distantes, já enfrentavam tormentas parecidas com o El Niño, e eles acreditavam que o tempo severo era um castigo divino. Por conta disso, chegavam a fazer sacrifícios, inclusive de crianças. Com o que sabemos hoje cientificamente, qual seria o nosso sacrifício?
“Saqueo”: o escândalo das colonizações na América Latina
No hall de entrada do centro cultural, cinco grandes sacos de lona cheios de terra com diferentes datas estampadas, contando a partir dos anos 1400, chamavam a atenção de quem olhava. Algumas hipóteses surgiam. Será que eram terra recolhidas à época? A resposta é que aquela é uma instalação muito criativa chamada “Saqueo” (“pilhagem”, ou “saque”, em português), obra de Iván Sikic, simbolicamente chamando atenção às muitas coisas retiradas daquelas terras, predominantemente pertencente aos indígenas locais.
Cada ano escrito em dourado nos sacos de terra simbolizam, segundo o monitor da exposição, datas importantes para a história antiga e contemporânea peruana – como a invasão dos espanhóis ou a morte do último inca.
Um ato interessante sobre essa instalação é que, durante a montagem dos sacos de lona, foi encontrada uma pepita de ouro em meio à terra que faz parte da peça artística. O acontecimento foi, inclusive, registrado em cartório em São Paulo. Há de se registrar: o ouro continua sendo de posse do Ministério de Cultura do Peru e do Museo Oro del Perú y Armas del Mundo.
* A cada atividade do Qualidade de Vida, novos associados se juntam ao grupo. A próxima, em novembro, será a viagem para Foz do Iguaçú. Porém, em 2025 tem mais. Participe das experiências conosco!
Confira a galeria de fotos acima.
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Letícia Cruz – Afubesp
Fotos: Junior Silva