Qualidade de Vida: Associados visitam os pontos mal-assombrados de São Paulo
Não poderia existir um clima mais conveniente para um passeio por locais mal-assombrados do que chuva e céu fechado. Ainda que seja um clichê por se tratar da capital paulista, foi de guarda-chuvas abertos que o grupo de colegas do Qualidade de Vida fez uma caminhada molhada pelo centro antigo da cidade em busca de lugares que carregam histórias verídicas e macabras. O guia turístico Laércio Cardoso de Carvalho liderou a jornada no último dia de maio por pontos em que a maioria dos paulistanos andam apressados, e sequer imaginam que no passado coisas bizarras aconteceram.
No ponto de encontro do passeio, escolhido não por acaso, há registro de muitas atrocidades: o Edifício Martinelli, no coração da cidade, foi palco de assassinatos, prostituição e tráfico de drogas no período em que ficou abandonado durante os anos 1950. Mostrando jornais da época, Laércio revelou detalhes funestos dos casos. Ao processo de retomada e limpeza do prédio, foram encontrados, além do lixo que chegava aos mais altos andares no poço dos elevadores, ossadas humanas e até mesmo de fetos. E a fama sombria não vem por acaso. Até hoje, funcionários que trabalham no local contam presenciar elevadores abrindo e fechando suas portas sem mais nem menos.
Dali para outro destino sobrenatural, os colegas caminharam pelo Viaduto do Chá – que não carrega, igualmente, boa fama. Existem inúmeros registros de suicídios que ocorreram no Vale do Anhangabaú e, por coincidência ou não, significa “rios dos malefícios do diabo” em tupi-guarani. Os indígenas, inclusive, acreditavam que o rio causava doenças físicas e mentais. Muitos acreditam que as almas atormentadas se sentem atraídas a cometer tal ato. Bem na outra ponta do viaduto, o imponente Theatro Municipal é assunto por ocasionais aparições, vultos, e barulhos de piano que muitos creem ser de espíritos dos músicos que tocavam no luxuoso palco, que abrigou a Semana de Arte Moderna de 1922. Da próxima vez que visitar o ponto turístico, vale a pena conversar com vigias ou com os guias do local.
Talvez a tragédia mais recente na memória da população seja a do incêndio do Edifício Joelma, que hoje se chama “Praça da Bandeira”. O fato ocorreu em 1974, e é considerada a pior tragédia em arranha-céus, ficando atrás somente dos atos terroristas no World Trade Center em Nova Iorque, em 2001. O incêndio começou por conta de curto-circuito no ar condicionado, e a construção não contava com as adequações necessárias para o combate ao fogo. Com o pandemônio, as pessoas subiam as escadas em vez de descê-las e acabavam morrendo por asfixia, carbonizadas, ou se jogavam nas alturas pelo desespero. Para se ter ideia, a temperatura no telhado do edifício chegou a 700 graus célsius. Foram 187 mortos e mais de 300 feridos. Treze deles foram encontradas sem condições de identificação dentro do elevador. São hoje conhecidas como as 13 almas, enterradas lado a lado no Cemitério da Vila Alpina.
A crença popular liga a “maldição” do local por conta de um crime que ocorreu ao lado, na mesma rua, muitos anos atrás, o “Crime do Poço”. Em 1948, um promissor estudante e professor de Química da Universidade de São Paulo decidiu matar a mãe e suas duas irmãs, uma vez que elas não aprovavam um relacionamento amoroso. Após o crime, o rapaz as enterrou em um poço dentro da casa. Ao que a polícia suspeitou que algo estava errado e descobriu os corpos, o professor decidiu colocar fim à sua vida, e o caso tornou-se escândalo nacional.
Na época da vergonhosa escravização dos povos africanos, era também naquele quadrilátero que essas pessoas escravizadas eram vendidas ou executadas. Pelourinhos, infelizmente, eram bem comuns – inclusive na região do bairro da Liberdade.
Outros contos de arrepiar
Nem é preciso comentar que, a essas alturas do passeio, os colegas já espantados lembravam de muitas outras histórias. O último ponto do passeio remonta aos tempos do imperador D. Pedro I e seu romance com a Marquesa de Santos e uma história que vive até hoje no imaginário popular. A Rua Roberto Simonsen abriga um sobrado com mais de 153 anos de história construída para jovem Maria Augusta de Oliveira e seu então esposo, o Conselheiro Francisco Dutra Rodrigues – presidente de São Paulo quando a princesa Isabel assinou a Lei Áurea. Hoje um café e restaurante, o Cama & Café, conta a história da antiga proprietária que virou lenda como a verdadeira Loira do Banheiro.
Ocorre que, após seu desquite com o Conselheiro, ela se mudou para Paris onde aproveitou a vida em bailes e luxo. Faleceu na França, aos 26 anos. Seu corpo voltou ao casarão dos pais, em Guaratinguetá, e foi velado por dias e dias em seu quarto. Passados anos, a mansão tombada se tornou a Escola Estadual Conselheiro Rodrigues Alves, onde estudantes e funcionários dizem sentir a presença até hoje da loira no mesmo local onde seu corpo esteve, e foi remodelado como banheiro.
Saiba mais
A Afubesp disponibiliza abaixo alguns vídeos e documentários acerca dos casos relatados no passeio.
Combate ao incêndio do Edifício Joelma – Clique aqui
A história completa do “Crime do Poço” – Clique aqui
A origem da verdadeira Loira do Banheiro de Guaratinguetá – Clique aqui
Conheça a maldição do Edifício Martinelli – Clique Aqui