VINDA DE BANCOS ESTRANGEIROS NÃO ALIVIOU OS BOLSOS DOS CORRENTISTAS
Durante seis anos, o economista Luiz Fernando de Paula pesquisou a abertura do sistema bancário ao capital estrangeiro e constatou que a medida não trouxe benefícios aos correntistas. Reproduzimos texto sobre o assunto, da jornalista Bianca Deo, publicado na edição de hoje do Jornal do Brasil. Confira.
BIANCA DEO
A abertura do sistema bancário nacional ao capital estrangeiro, há cinco anos, não trouxe benefícios aos correntistas brasileiros. Criaram-se mais tarifas sobre os serviços, que continuam caros, não houve expansão de créditos e nem redução das taxas de juros nos empréstimos, tanto para as pessoas físicas quanto para as empresas. Na época, para justificar as mudanças no sistema financeiro nacional, o governo prometeu à população uma série de benefícios, mas não existem motivos para comemorar.
Esta é a principal conclusão de um estudo realizado pelo coordenador do Núcleo de Finanças e Macroeconomia da Universidade Cândido Mendes, o economista Luiz Fernando de Paula, que durante seis anos pesquisou as mudanças no sistema financeiro internacional e seus impactos no Brasil. Com a tese, ele ganhou uma bolsa de estudo de pós-doutorado na Universidade de Oxford, na Inglaterra, para onde embarca nas próximas semanas.
Invasão – De 1996 até hoje oito instituições estrangeiras desembarcaram no Brasil, comprando 11 bancos nacionais, e passaram a disputar um mercado estimado em 50 milhões de contas correntes. Houve uma invasão de dólares, que mudou o perfil do sistema financeiro: a participação do capital externo no setor dobrou, passando de 9,79% para 18,38% até meados do ano passado, aumentando de 4,36% para 11,81% o volume de dinheiro brasileiro depositado em instituições estrangeiras.
Os números levantados por Luiz Fernando de Paula mostram, no entanto, que a anunciada concorrência não serviu para aliviar o bolso dos correntistas brasileiros. Pelo contrário: os bancos até institucionalizaram a cobrança de tarifas, argumentando que seria para recompor os ganhos perdidos com o fim da inflação.
Aperto – Essas cobranças se transformaram em mais um instrumento de captação de recursos: em 1994 as tarifas representavam apenas 2,41% de sua receita. Quatro anos depois, o índice subiu para 6,26%. “E não há evidências de que os bancos estrangeiros ofereçam tarifas mais baixas do que os nacionais e nem que estejam dispostos a afrouxar o crédito”, afirma.
Luiz Fernando de Paula explica que o comportamento conservador dos bancos deve-se às elevadas taxas de inadimplência – maiores aqui do que nos seus países de origem – e aos juros elevados. No lugar de aumentarem suas linhas de crédito, os estrangeiros optam por investir nos títulos públicos, que têm risco zero.
Queda – Com dados do Banco Central, o economista comprova a tese: o volume de títulos públicos na carteira dos bancos aumentou de 15,2% em 1994 para 32% em 1999, enquanto a disponibilidade de crédito foi reduzida de 41,5% para 33,3%, no mesmo período.
“Ao chegarem aqui, os estrangeiros se tupiniquizaram. Encontraram uma grande dívida pública, com a qual podem obter ganhos fáceis com as altas taxas pagas pelo governo”, destaca.
Contrapartida – O coordenador do Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais (Ibmec), Jairo Saddi, critica a “forma abrupta” com que se estabeleceu a abertura do sistema financeiro nacional e a ausência de regras claras, que estimulassem a concorrência para, em conseqüência, diminuir os custos do sistema.
“O governo poderia ter criado uma política específica para os bancos estrangeiros, exigindo contrapartidas, como a não-cobrança de tarifas, a obrigatoriedade de expandir o crédito ou atendimento a praças menos atrativas”, sugere o especialista em direito bancário.
Mas o Banco Central preferiu cobrar pedágios, arbitrando valores para que os estrangeiros se instalassem no país, ou obrigando-os a assumir o saneamento de algumas instituições. É o caso do Banco Bandeirantes, adquirido pela Caixa Geral de Depósitos (CGD) em 1998.
O negócio, considerado na época pelo Banco Central como uma solução para um problema bancário, saiu caro para o banco português. Segundo especialistas do mercado, os lusitanos estariam de malas prontas para deixar o país. Aguardam somente uma oportunidade para se desfazer do Bandeirantes.
fonte: AFUBESP