Protestos em concentrações e agências mostraram a força dos bancários do Santander
Os trabalhadores do Santander mostraram sua força durante a paralisação em agências e concentrações contra a reforma trabalhista que ocorreu em todo o país, na quarta-feira, dia 20. A união dos bancários neste protesto teve o efeito desejado: afetou, e muito, as operações da instituição financeira. O banco apresentou altos índices de problemas nas operações online, site, acesso à conta e acesso remoto, e compras via cartão de débito e crédito, segundo apuração do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
“O executivos do banco perderam muito dinheiro hoje”, afirmou uma funcionária. “Pelas mensagens que recebemos, o impacto foi grande. Projetos sendo comprometidos. Reuniões de definição sendo canceladas. Cursos sendo remanejados. Um funcionário às vezes incomoda muita gente, mas a união sindical incomoda muito mais. Sou grato por sentir a força de vocês. Contem com meu apoio”, acrescentou um colega.
Por que protestar?
São muitos os motivos que levaram as entidades sindicais, com apoio da Afubesp, a organizar esse protesto nacional. Entre eles está, por exemplo, a implantação de um sistema para forçar a assinatura em um “Acordo Individual de Banco de Horas Semestral”, sem consultar, nem negociar com os trabalhadores ou seus representantes sindicais.
“O objetivo do protesto é reivindicar que o Santander revogue as medidas tomadas unilateralmente, de forma autoritária, em total desrespeito aos trabalhadores e seus representantes, mostrando ser um banco antissindical. E abra imediatamente negociações sobre os pontos de banco de horas com acordo individual, que é inconstitucional, sobre fracionamento de férias, alteração de datas de pagamentos, o aumento de 20% no plano médico e pelo fim das demissões”, destacou a diretora executiva do Sindicato dos Bancários de São Paulo e da Afubesp, Rita Berlofa.
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A arbitrariedade do banco não para por aí. Também sem nenhuma negociação, o banco informou a alteração do dia de pagamento dos salários, do dia 20 para o dia 30, e os meses de pagamento do 13º salário, antes março e novembro, agora passam a ser maio e dezembro. “O desrespeito aos trabalhadores e à sua organização é uma prática antissincial que o banco tenta aplicar repetidamente ”, diz Mario Raia, secretário de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e funcionário do banco espanhol.
União e mobilização
A Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) dos bancários tem vigência até 31 de agosto de 2018. No Santander há também um Acordo Aditivo. “Se não reagirmos a esse ataque agora, assim que terminar a vigência do acordo e da CCT, podem ter certeza de que o banco espanhol vai cortar todos os direitos dos trabalhadores que a nova lei trabalhista lhe permite. Ou cruzamos os braços agora ou vai piorar depois”, disse Maria Rosani, coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Santander, diretora do Sindicato e da Afubesp.
“Uma empresa transnacional tem que respeitar a cultura, a legislação onde quer que esteja e tratar com respeito seus trabalhadores. Não é essa a postura do Santander nos EUA onde ameaça com demissão os trabalhadores que querem o acesso ao direito fundamental de se organizarem em sindicatos”, acrescenta Rita Berlofa, que preside a UNI Finanças Mundial, braço da UNI Global Union (sindicato global que representa mais de 20 milhões de trabalhadores no mundo). “Não aceitaremos essa forma autoritária imposta pelo novo presidente do banco no Brasil, Sérgio Rial”, conclui.
Contestação à nota oficial do Santander sobre os protestos
O protesto repercutiu em veículos noticiosos de todo o país. Em nota enviada à imprensa, o Santander disse que as informações não correspondem à realidade, e que apenas está “procedendo um ajuste em sua estrutura de forma a adequá-la ao contexto competitivo da indústria”.
O Sindicato dos Bancários de São Paulo contestou a nota do banco espanhol. Confira abaixo:
O Sindicato sempre priorizou o processo negocial, mas, infelizmente, apesar do discurso de que é aberto ao diálogo, não é isso que observamos do Santander quando o banco delibera unilateralmente medidas que impactam os trabalhadores, sejam elas as do aumento abusivo do plano de saúde (da ordem de 20%) ou medidas inconstitucionais, como o acordo individual para o banco de horas. A Constituição estabelece que banco de horas tem de ser negociado com o Sindicato, e a nossa Carta Magna é superior a qualquer outro acordo ou convenção. Além dessas medidas, o Santander alterou a data de pagamento de salários e do décimo terceiro e promoveu demissões em massa.
O show de Ivete Sangalo nada mais foi do que uma cortina de fumaça que escondeu as arbitrariedades que seriam anunciadas a seguir. Lamentamos quando o banco diz que dará a maior remuneração variável da sua história. O banco não dá nada. Isso foi conquista dos trabalhadores, resultado de um trabalho árduo dos bancários para cumprir metas abusivas, pagando muitas vezes com a própria saúde. Se o banco teve esse lucro, foi graças ao esforço dos seus trabalhadores, que tiveram seus direitos ceifados com medidas unilaterais do banco.
O Sindicato espera que o Santander alie discurso com a prática, provando que é aberto às negociações, revogando essas medidas arbitrárias e vindo debater todos esses temas.