Na folia do carnaval
Conciliar trabalho com lazer é a máxima do bancário Milton Rodrigues da Silva Júnior. Carioca da gema, mais especificamente de Madureira, o gerente de apenas 31 anos da agência Guanabara do Banco Real, agora Santander, também é o Rei Momo do Carnaval do Rio de Janeiro.
Eleito pela terceira vez consecutiva para representar a figura responsável por abrir e fechar uma das manifestações culturais mais ricas e conhecidas em todo o mundo, Milton diz que a emoção de exercer este papel é forte.
“Quando toca a sirene na Marquês de Sapucaí anunciando a abertura do carnaval, o coração dispara, a boca seca, é muito bom não tem como descrever”, explica Milton. “Tem gente do país inteiro e até de fora assistindo a gente. É demais”.
Para conseguir cumprir a agenda apertada de Rei Momo, ele pega férias do banco no período da folia. “O pessoal que trabalha comigo sempre me deu força, desde quando me inscrevi pela primeira vez no concurso – na época era lotado na agência da Ilha do Governador – até hoje”, diz Milton, que começou a trabalhar no Real há 13 anos.
Ele conta que percorreu um longo caminho até conseguir a coroa. “Comecei a concorrer em 2003, fiquei em segundo lugar três vezes e, em 2007, decidi não disputar para me dedicar aos estudos para a prova de certificação da Anbid”, lembra o bancário.
Sempre dedicado às duas áreas de sua vida, viu todo seu esforço recompensado em 2008, que ele chama de ano de ouro: “Passei na Anbid, fui promovido no banco, minha filha nasceu e para encerrar com chave de ouro ganhei pela primeira vez o concurso de Rei Momo carioca”, contou cheio de empolgação.
O amor pelo samba, que começou aos 16 anos depois de ir à Quadra da Portela, é compartilhado com a família. Sua esposa, Suh Freitas, chegou a desfilar grávida na avenida do samba e, hoje, a filha Sophia de 2 anos adora carnaval.
Trabalho duro
Mas para quem pensa que a vida do Rei Momo carioca é só folia, o bancário explica: “É uma correria, tem que participar dos principais eventos do carnaval. Além dos desfiles do Grupo de Acesso e Especial, é preciso estar presente nos blocos, bandas, festas, feijoadas, que são realizados durante o ano inteiro. Se tem a ver com carnaval, o Rei Momo está lá”.
Toda esta agitação, no entanto, é mais intensa nos meses que antecedem os dias da maior festa cultural brasileira, a partir da realização do concurso – ocorrida sempre nos finais de ano – que escolhe o Rei Momo, a rainha e as princesas do Carnaval do Rio de Janeiro.
“Depois de cinco, seis visitas por noite nas quadras das escolas e mais os ensaios técnicos, no final do carnaval chego a perder até 10 quilos”, comenta Milton, que completa: “Nestes dias abuso dos carboidratos e energéticos para não perder o pique”.
O bancário diz que os inúmeros compromissos, a grande responsabilidade que tem com o maior evento turístico do Rio (o Rei Momo recebe a chave da cidade diretamente do prefeito na sexta-feira de carnaval) e a exaustão do corpo não o desanimam. “Se não fosse o samba estava louco!”, conclui.
Cuidadoso com o visual, ele diz que usará três fantasias este ano: a primeira representa a união das três raças predominantes no Brasil – negro, índio e branco -, a outra é de um nobre francês e a última é do Rei Sol.
Rei Momo na história
Os primeiros registros da presença da figura do Rei Momo no carnaval brasileiro datam de 1933, como não poderia deixar de ser no Rio de Janeiro.
A história que circula pela internet é que a ideia de criar o tal personagem foi de um cronista do jornal “A Noite’, que publicou desenho de um boneco e por conta própria o elegeu rei do carnaval.
O sucesso foi tamanho que ele o jornal promoveu dois desfiles do boneco – feito de papelão pela cidade. Posteriormente, o jornal decidiu colocar um rei representado por uma figura humana e elegeram um de seus redatores para ser coroado como Rei Momo.
O nome do escolhido era Moraes Cardoso, um homem muito gordo, característica que se tornou marca registrada daqueles que o sucederam.
Érika Soares – Afubesp
Foto: Pedro Kirilos/Riotur