“Mochileiras” depois dos sessenta: as mulheres que decidem se aventurar ao redor do mundo
Ficar em casa descansando depois da aposentadoria? Essa não é mais uma opção atrativa para muitos! Uma mochila nas costas e um destino na cabeça bastam para animar principalmente mulheres mais maduras a buscarem novas experiências e lembranças – seja conhecendo os cantos do país ou carimbando mais páginas do passaporte.
De acordo com o PNAD de 2016, a população na terceira idade correspondia a 29,6 milhões de pessoas. Desse número, as mulheres são a maioria: 16,6 milhões, contra 13 milhões de homens acima dos 60 anos de idade. E, nos últimos anos, o turismo direcionado para esta faixa etária tem ganhado força. Mas não pense que os destinos escolhidos são os mais pacatos possíveis: os locais de interesse vão de praias e cruzeiros a “mochilões” pelo mundo. Tudo, claro, se enquadrando na disposição do viajante.
Antes, o idoso vivia uma incerteza após a aposentadoria sobre quais atividades desempenhar depois de uma rotina de anos e anos. Agora, este período representa uma quebra nos medos sobre sair literalmente do lugar comum e conhecer outras culturas e desfrutar de um tempo que antes não havia disponível. A banespiana Lucia Canhada ilustra essa mudança de comportamento. “Viajar é renovar a roupa da alma, por isso irei continuar enquanto tiver saúde”, define.
Ainda nos anos dedicados ao ofício no Banespa (ingressou em 1978), a ex-bancária natural de Olímpia, interior paulista, lembra que suas férias eram sempre dedicadas ao lado dos pais e na criação de seus dois filhos Luiz Antônio e Antônio Carlos. Mais tarde, aposentada e com os filhos já crescidos, Lucia começou a focar o tempo livre para si e desbravar novos rumos. “Peguei gosto por viajar quando me aposentei . Hoje, estou com minha vida material bem consolidada e hoje sinto minha missão cumprida. Então devo cuidar de mim e fazer o que me proporciona bem-estar”, afirma ela que já pulou até mesmo de paraquedas.
A primeira aventura foi para a Serra Gaúcha, numa excursão de ônibus com desconhecidos que mais tarde se tornaram amigos. Aliás, foi em uma dessas aventuras que conheceu Nelson, seu esposo há 16 anos. Desde então, teve a oportunidade de visitar diversos locais do nordeste brasileiro e até outros países como Argentina, Paraguai, Chile, Portugal, Espanha e França. Destas andanças, a que mais a marcou foi a de Santiago de Compostela.
Inspirada por um livro de Paulo Coelho que narra essa experiência física e espiritual (“O Diário de um Mago”, 1987) e passando por um momento delicado de sua vida após a morte de seu pai, Lucia se sentiu tocada por encarar este desafio. Depois de anos de planejamento, ela embarcou em 2017 para Bilbao na Espanha ao lado de uma amiga, dormiu em um albergue, seguiu até Pamplona e, de lá, a Saint Jean de Port na França, onde começou seu caminho. “Andei 850 quilômetros em 33 dias, sob frio e calor intenso, chuva de granizo, muitas dores muitas alegrias, com uma emoção imensa. Cada passo dado é mágico, com as paisagens, os animais e cultura local. Caminhei com a bandeira brasileira nas costas, com orgulho”, lembra.
Dizem que quem vai ao caminho de Santiago, volta outra pessoa. Já a banespiana é a mesma de antes, cheia de gratidão e vontade de viver mais de cem anos. Acima de tudo, com o desejo de continuar caminhando e topando novas aventuras.
Afubesp