Afubesp repudia declaração de deputado

Na noite da última terça, dia 14, em meio à pandemia de Covid-19, a maioria dos deputados decidiu retirar direitos dos trabalhadores aprovando a Medida Provisória 905, que institui a carteira verde e amarela, extingue direitos trabalhistas, altera a jornada dos bancários, permite o trabalho da categoria aos sábados, domingos e feriados e ainda coloca em risco a PLR dos trabalhadores.
A votação teve 322 votos a favor, 153 contra e duas abstenções. Agora, a MP deverá ser votada no Senado Federal antes do dia 20 para que não perca a validade.
Durante a votação realizada em sessão virtual, o deputado e empresário Alexis Fonteyne (Novo-SP), que foi eleito com financiamento do Itaú Unibanco, atacou os direitos dos bancários, consolidados por décadas de mobilização e luta.
“A orientação do partido Novo é sim. Agora tenho escutado tanto essa conversa dos bancários. Os bancários trabalham seis horas por dia, como se fosse um absurdo passar para oito. Todo mundo trabalha oito. Não trabalha sábado e domingo, não mexe mais com dinheiro, não tem mais a compensação. Tudo é digitalizado. Trabalha no ar-condicionado. E fazem todos os outros trabalhadores e o cidadão comum brasileiro terem de ir na hora do almoço para poder resolver coisas no banco, porque o banco só trabalha das 10h às 16h”, declarou o parlamentar.
“Eu estou, assim, incrédulo com o que nós estamos falando aqui. Por que eles não podem trabalhar como todos os outros trabalhadores do Brasil? Por que eles, que inclusive trabalham no ar-condicionado têm que fazer aquela pessoa da forjaria, da estamparia, sair da fábrica na hora do almoço, perder o seu almoço para poder resolver coisas no banco porque eles não podem abrir aos sábados? Então, presidente, eu não estou conseguindo entender essa defesa daquilo que devia ser comum a todos nós”, continuou o deputado.
Resposta da Afubesp
A fala do senhor deputado mostra seu total desconhecimento de como é a realidade da categoria. Uma coisa é o horário de atendimento e outra é a jornada do bancário. Embora a jornada de 6 horas seja uma conquista da Convenção Coletiva de Trabalho, a maioria já cumpre as 8 horas diárias e precisa judicializar para exercerem seu direito.
E a razão deste direito é a natureza da atividade que exige muito dos bancários. Ao longo dos anos, as doenças que os acometem foram mudando. Na década de 60 era tuberculose, depois veio a LER/Dort. Agora, são as doenças psicossomáticas que estão em alta, reflexo da violência organizacional dentro dos bancos. O que não mudou com o passar dos anos é o alto índice de adoecimento da categoria.
Inclusive, se os bancos cumprissem a jornada de 6 horas para todos os bancários, gerariam mais empregos, pauta que o senhor deputado deveria defender, considerando os mais de 11 milhões de desempregados no país.
Outro fato relevante é que o deputado fez seu voto atacando a categoria diretamente do conforto e segurança da sua casa. Ele não pode, mas defende que os bancários permaneçam expostos.
Sobre ar condicionado, mais um desconhecimento. O aparelho prolifera ainda mais o vírus e aumenta o risco de contágio.
Convidamos o senhor, a sair de sua quarentena e ir a uma agência bancária conhecer a realidade, pela ótica dos trabalhadores e não dos banqueiros.
Ataca a categoria como se fosse imoral ter direito a jornada diferenciada. Deveria usar seu mandato para defender melhores condições de trabalho para todos e não retirar direitos de um para igualar com quem não tem. Honre sua cadeira e suas prerrogativas.
E que tal falarmos dos privilégios dos parlamentares brasileiros, que são um dos mais bem pagos do mundo e em sua maioria não dão retorno para a população e ainda retiram direitos dos mais pobres?
Imoral são os salários e penduricalhos dos senhores parlamentares enquanto a maior parte da população sobrevive com salário mínimo. O Congresso deveria trabalhar muito, mas muito mais, para corrigir as desigualdades existentes no país. Não só deveriam trabalhar a semana toda (como todos os trabalhadores), mas também deveriam focar em projetos de lei que realmente representem os interesses do povo.
Camilo Fernandes – presidente da Afubesp