Tarsila Inspira – Centro de São Paulo ganha painéis gigantes feitos por mulheres

O ano de 2020 para o Centro de São Paulo chegou mais colorido. Cinco ruas ganharam painéis gigantes em homenagem à artista modernista Tarsila do Amaral, pintados por artistas mulheres, que trabalham em múltiplas linguagens – Simone Siss, Hanna Lucatelli, Mag Magrela, Katia Lombardo, Lau Guimarães e Crica Monteiro.
Financiadas pela segunda edição do edital do Museu de Arte de Rua (MAR), as obras fazem parte do projeto “Tarsila Inspira”, parceria da Secretaria Municipal de Cultura com o “Em branco”, escritório de comunicação criativa.
O prédio da sede da Afubesp foi um dos endereços contemplados. Na empena (espaço vazio), localizada na Rua Direita, “Preta Rainha”, da grafiteira Crica Monteiro, que se inspirou em “A Negra” (1923). O outro lado (Rua 15 de Novembro com Rua Direita) ficou a cargo da muralista Hanna Lucatelli, que discutiu a antropofagia como ato de atravessamento de corpos; além de enaltecer a vida tribal e coletiva, regida pelo feminino.
Para Hanna, é preciso ter muito cuidado com o que se “coloca na rua”. “Você joga a arte na cara de quem não pediu. Você pode mudar o dia das pessoas sem que estejam preparadas para essa reflexão. Essa responsabilidade do primeiro contato é fundamental”, explica.
A muralista destaca que as mulheres estão conquistando espaços na arte de rua, universo este dominado por homens. “A arte de museus e galerias nos acolhe melhor. O grafite, por exemplo, é uma manifestação artística que normalmente tem que ter um background da rua, precisa estar numa crew (grupo de grafiteiros que se juntam para realizar trabalhos grandes); é um ambiente fechado e masculino, isso filtra e faz com que quase nenhuma mulher chegue ao topo deste movimento. Quando se insere outras linguagens e técnicas, abre-se possibilidade para isso.”
O projeto contou também com o apoio do Masp (Museu de Arte de São Paulo), que ano passado bateu recorde de público com a exposição “Tarsila Popular”, recebendo cerca de 400 mil pessoas.
“A artista está na boca de muita gente. Não necessariamente a pessoa que olhar os murais vai ver Tarsila do Amaral, mas ela está por trás, é o que possibilita que outras mulheres estejam neste projeto, que sejam reconhecidas, estejam aí na rua”, ressalta Hanna, que ainda reforça que este apoio do Masp abre a possibilidade de entender que a arte de rua não é uma arte menor, “mas complementar, uma extensão e porta voz dos museus. ”
Confira os endereços dos murais:
- Rua 15 de Novembro, 41
- Rua Direita, 32
- Rua da Quitanda esquina com a Praça do Patriarca, 139
- Rua 15 de Novembro com Rua Direita
- Rua José Bonifácio, 93

A muralista Hanna Lucatelli
Texto: Mariana Valadares (MTB: 43155/SP)
Fotos: Junior Silva