Sinais de alerta: depressão atinge cada vez mais idosos no Brasil

Discussão sobre saúde mental dos idosos precisa fugir dos tabus e alcançar toda a sociedade
No imaginário popular, a fase mais madura da terceira idade é o momento em que alguém consegue se livrar de alguns pesos e preocupações da vida como trabalhador. Entretanto, a aposentadoria deixou de ser um conto de fadas para se tornar um fator de risco a mais na vida do idoso. Além de estarem mais associados a doenças crônicas, ainda precisam se preocupar com questões que aumentam o risco de desenvolvimento de depressão ou ansiedade.
Segundo pesquisa Nacional de Saúde do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a doença psicológica atinge 13% da população entre 60 e 64 anos de idade – especificamente os indivíduos que acabam de encerrar suas atividades profissionais. O sentimento de inutilidade na sociedade e o abandono familiar estão entre os principais fatores – mas não são os únicos.
Ao Jornal da USP, o neurologista Vitor Tumas explica que o uso de medicamentos para doenças neurodegenerativas ou antivertiginosas também contribuem para tais sintomas. Alguns quadros podem ser confundidos com transtornos como Alzheimer ou mal de Parkinson, o que só pode ser diagnosticado por um especialista.
Questões econômicas e falta de perspectiva para o futuro também têm papel central nessa equação – os banespianos que o digam, pois sofrem com todo o imbróglio que envolve o Banesprev e a Cabesp. Por isso, é imprescindível que haja um senso de comunidade com pessoas que também passam pelas mesmas dificuldades, mesmo que elas próprias não consigam identificar ao certo os motivos.
Acolhimento é essencial
As pessoas ao redor precisam se atentar a alguns sinais em idosos, principalmente no ambiente familiar. Falta de vontade de realizar atividades básicas que antes geravam prazer, insônia, choro, mudança repentina de humor, irritabilidade, isolamento e falta de apetite são comportamentos que acendem o alerta. Mas atenção: somente um médico poderá diagnosticar se o caso se trata de depressão ou alguma doença degenerativa.
Integrar os idosos à vida ativa e estimular atividades físicas é um começo para recuperar a vontade de viver dessas pessoas. Estudo publicado pela Universidade Federal de São Carlos (“O envolvimento de idosos em atividades prazerosas”, de Heloísa Gonçalves Ferreira e Elizabeth Joan Barham) mostra que “a prática de atividades agradáveis atua como variável mediadora na prevenção e superação de desordens psicológicas, ajuda a lidar com os efeitos negativos de perda de funcionalidade, viuvez e pouco contato familiar, bem como prediz bem-estar físico e psicológico.”
Letícia Cruz – Afubesp
(Matéria publicada originalmente no Jornal Afubesp nº 143)