Saúde mental merece atenção redobrada nesse momento de distanciamento; Psicóloga responde dúvidas

No dia 6 de maio, o #QVNaQuarentena realizou uma necessária live sobre saúde mental com a psicóloga e psicanalista Mônica Rosa, com mediação da jornalista Érika Soares. Com um público interessado, o bate-papo teve o envolvimento de mais de mil pessoas, e os colegas participaram em peso nos comentários e enviando dúvidas para enriquecer a conversa.
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Questionada na live sobre os sentimentos gerados pelo isolamento social, a psicóloga ressaltou que é importante dar atenção aos sinais. “Aqueles que já tinham um diagnóstico (de transtornos psicológicos) e que não procuraram tratamento tiveram diante do afastamento um agravamento dos sintomas”, destacou. O medo do desconhecido desempenha um papel decisivo no psicológico de todos em um momento de pandemia. “Quem não tinha nenhum grau de sofrimento, provavelmente hoje está sentindo as consequências dessa quarentena. Não só disso, mas também das notícias que mudam a cada momento. Não temos uma resposta em relação à cura (do coronavírus). Tudo isso gera ansiedade.”
A especialista alerta também que se a pessoa perceber que vem sofrendo com sintomas de ansiedade (taquicardia, dor no peito, sensação de que vai desmaiar), de depressão (sentimento de infelicidade, apatia, falta de vontade para fazer suas tarefas), problemas de alteração do apetite, (para mais ou para menos), insônia, pensamentos perturbadores entre outros sintomas, é preciso procurar um psicoterapeuta.
Já que passamos por um momento de distanciamento físico, Mônica recomenda que haja uma aproximação afetiva com as pessoas que se gosta. “Lembre-se de que a crise vai passar, ainda que leve algum tempo, e permita que esse pensamento seja um combustível psíquico de qualidade para te manter saudável. Apesar da crise, permita-se ser feliz, da maneira que for possível, no aqui e agora.”
Abaixo, contemplamos algumas das perguntas dos espectadores que não puderam ser respondidas por conta da falta de tempo durante a live, mas foram gentilmente respondidas pela psicóloga.
Pergunta – Estávamos acostumados a sair para trabalhar, ver pessoas, conversar. E agora estamos dia a dia em casa 24 horas. Qual indicação e como fazer para passar a quarentena sem que nosso psicológico não fique transtornado, ansioso ou até que possa a tornar uma depressão?
Resposta – O sofrimento causado pela restrição de nossa liberdade de ir é vir é normal, já que somos seres sociais e necessitamos das trocas inerentes ao convívio. Penso que o termo utilizado, isolamento social, não foi o mais adequado. O que é necessário nesse momento é o distanciamento físico. Assim sendo, capriche na aproximação afetiva, o que promoverá uma parte da profilaxia psíquica.
No mais, a receita já foi difundida: meditação, alongamento, exercícios físicos que promovam o bem estar. Alimentação moderada e adequada às necessidades fisiológicas individuais. Música, artesanato, ou qualquer outra atividade manual pode vir a auxiliar a concentração, já que a dinâmica do tempo foi alterada, alterando também nossas reações. O sentimento de ansiedade, tem causa provável na nossa insegurança quanto ao futuro e na possibilidade de morte; e a depressão, ao nosso sentimento de impotência. A aceitação desta severíssima crise que estamos vivenciando, nos âmbitos da saúde, da economia e da política, propiciada por um vírus poderoso, o coronavírus, pode contribuir para minimizar nossos sofrimentos. Lembre-se de que a crise vai passar, ainda que leve algum tempo; permita que esse pensamento seja um combustível psíquico de qualidade para te manter saudável. Apesar da crise, permita-se ser feliz, da maneira que for possível, no aqui e agora.
Pergunta – Qual a dica daria para amenizar o estresse de pessoas com deficiência intelectual? Eles ficam muito agitados. Meu irmão aponta o tempo todo pra rua, querendo dizer: quero sair!
Resposta – Existem vários níveis de deficiência intelectual, mas de maneira geral, assim como as crianças, essas pessoas têm dificuldades para entender a importância do distanciamento social para evitar um mal maior.
Dentro de casa, é importante colocar uma rotina agradável, que não prejudique os demais membros da família, e usar da criatividade para lhes proporcionar pequenos prazeres diários. Se seguirem ansiosas e agitadas, vale à pena conversar com o médico que as acompanham.
Pergunta – Em qual momento devemos procurar um psicoterapeuta?
Resposta – O psicoterapeuta pode ser procurado em alguma dessas situações de sofrimento:
1) Quando a pessoa passa a sofrer com sintomas de ansiedade (taquicardia, dor no peito, sensação de que vai desmaiar, medo de morrer, suores frios, dor de barriga, etc.), com sintomas de depressão (sentimento de infelicidade, apatia, falta de vontade para fazer suas tarefas, desejo de ficar na cama, sem vontade até de tomar banho ou de se arrumar, muito emotiva/choros freqüentes, etc), problemas de alteração do apetite, (para mais ou para menos), insônia, irritação acima do normal, estresse, comportamentos/pensamentos novos, estranhos e perturbadores, ou qualquer outro sintoma que não era conhecido até então, em que a pessoa se percebe como “essa não sou eu”.
2) Quando a pessoa percebe que não está feliz com sua vida, com seu trabalho, com seus relacionamentos e precisa de ajuda para organizar suas idéias e refletir sobre elas.
3) Quanto a pessoa sofreu algum trauma ou tem algum sentimento de culpa e não consegue viver sem que isso a atrapalhe de algum modo, sem que a vivência do passado esteja sempre presente em sua mente.
4) Quanto a pessoa quer se conhecer melhor ou quando percebe que age de maneira que lhe parece contrária ao seu desejo ou por desconhecer seu desejo.
5) Quando não se consegue elaborar uma perda, seja de um amor, de um ente querido, de um emprego, de uma função social que ocupava, entre outras.
Pergunta – Para mim, como dirigente sindical, será muito difícil atender os trabalhadores na volta da quarentena. Os curados, desempregados, e que perderam familiares e amigos. Como fazer?
Resposta – Quanto ao sofrimento que você consegue antever, quando terminar a quarentena e retornar ao trabalho, é importante lembrar que, antes de você ter a função de dirigente sindical, você é um ser humano e, portanto, passível de sentir empatia. Empatia é a capacidade que alguma pessoas tem de se colocar no lugar do outro e de sentir o que o outro sente. Como pessoa que é, poderá escutar e expressar seus sentimentos a todos esses trabalhadores que você citou, dizer o quanto você sente pelo que estão passando.
Considere, porém, suas condições emocionais para esses atendimentos. Se perceber que estará fragilizado/a demais ou que já se encontra sob algum sofrimento psíquico, como estresse, ansiedade ou depressão, vale à pena procurar apoio psicoterapêutico o quanto antes, a fim de se preparar emocionalmente.
Como dirigente sindical, caso seja possível, uma boa alternativa para ajudar a minorar os sofrimentos desses trabalhadores, afetados pelo Covid-19 e pela crise econômica, seria oferecer-lhes grupos terapêuticos, com profissional da psicologia especializado.
Afubesp