Impacto da inteligência artificial nos empregos: tecnologia não pode ser vilã
É fato e é irreversível: tecnologias que outrora só existiriam em filmes de ficção científica já fazem parte do cotidiano. É possível, inclusive, que o leitor já tenha se acostumado a usar a inteligência artificial (ou IA) para facilitar o dia a dia sem ao menos saber. No entanto, a ferramenta construída pelo homem para auxiliá-lo em suas tarefas precisa, no âmbito do emprego, agregar ao invés de eliminar. O setor financeiro, por exemplo, é uma das áreas que mais lucra com o uso de IA – e isso preocupa o movimento sindical que vê números de demissões e terceirizações subirem ano após ano.
O Santander não adotaria medida diferente. A presidenta mundial do Grupo Santander, Ana Botín, já mostrou em diversas ocasiões ser grande entusiasta da inteligência artificial. Em conferências, costuma dizer que tal tecnologia afetará o modo que vivemos, além dos modelos de negócios. Em novembro último esteve no Brasil e voltou a elogiar as ferramentas tecnológicas no trabalho bancário, sem citar avanços para
os trabalhadores.
Atualmente, mais de 14 milhões de clientes acessam o aplicativo do Santander para realizar transações, e cerca de 13% destes utilizam algum serviço de interação na plataforma, como o Santander On – assistente virtual que analisa a saúde financeira.
Há anos que Rita Berlofa, vice-presidenta da Afubesp, secretária de Relações Internacionais da Contraf-CUT e ex-presidenta da UNI Finanças já canta a bola sobre a nova revolução industrial e como o uso da tecnologia afeta todos os setores da economia mundial. Até mesmo CEOs do setor financeiro reconhecem tal realidade.
“O desafio dos trabalhadores é a tecnologia, a inteligência artificial tomando o lugar dos empregos. Preparar os dirigentes sindicais para enfrentar esse novo modelo, essa nova organização, é um desafio”, disse em entrevista ao Sindicato dos Bancários de São Paulo.
Posto que não é mais possível voltar atrás, é preciso equilibrar a presença da tecnologia com as necessidades dos trabalhadores, segundo Rita. “Precisa de formação, preparar o trabalhador e a regulação desse trabalho para trazer bem para todos. Afinal foram feitos investimentos públicos e isto tem de voltar em benefício de todos, e não para precarizar ou excluir empregos”, ressaltou.
Afinal, o que é IA?
O surgimento dos estudos sobre inteligência artificial surgiu com o advento dos computadores, no pós-guerra. Alan Turing, matemático e cientista da computação britânico, foi o primeiro a se debruçar sobre o assunto em 1950. Mais de setenta anos depois basta, por exemplo, baixar um aplicativo que constrói um texto pelo usuário, ter aparelhos que interagem, dão informações e tocam músicas, automação de espaços, geração de imagens artificiais, atendimento ao cliente via chat, entre outros.
Recentemente, a União Europeia chegou a um acordo provisório para regular o uso de sistemas governamentais que usam inteligência artificial, como a exigência de mais transparência antes de serem colocados no mercado. Com isso, o bloco pode ser o primeiro a criar leis que regem tais ferramentas.
Letícia Cruz – Matéria publicada originalmente na edição nº 147 do Jornal Afubesp