Difusão de boatos sobre coronavírus escancara uma questão urgente: como frear as fake news?
O novo coronavírus, uma família de vírus que causa infecções respiratórias e é considerada uma emergência global de saúde pública, alerta o mundo todo não somente pela epidemia em si – mas também pela disseminação de notícias falsas e de manifestações preconceituosas sobre ao assunto. No entanto, tudo começa pelo compartilhamento de informações aparentemente inofensivas que, dia após dia nos noticiários e nas redes sociais, vai montando um monstro feito de falácias.
De números hiperinflados de pessoas infectadas a mensagens garantindo que o consumo de vitamina C previne a doença, uma das mentiras mais difundidas é a que aponta como origem da contaminação a “sopa de morcego”. Para combater o avanço das fake news, um grupo criou uma força-tarefa para checar a veracidade de notícias espalhadas pelas redes sociais, e tem refutado a maioria delas.
A coordenação desta aliança de checagem é feita por uma brasileira, a jornalista Cristina Tardáguila, diretora-adjunta da IFCN (Rede Internacional de Fact-Checking) e fundadora da Agência Lupa. Por meio da hashtag #CoronaVirusFacts, é possível ler boatos como de que o vírus é espalhado através de bananas ou que beber cloro ajuda na cura. O que tem preocupado é a quantidade de pessoas que acredita nessas informações e compartilha o tipo
de conteúdo.
Pesquisa divulgada em fevereiro pela empresa de softwares de segurança Kapersky revela que 70% dos latinos não sabem identificar ou não têm certeza se conseguem diferenciar o que é fake news e o que não é. Os brasileiros alcançaram o sexto lugar entre os demais países, com 62%.
A manipulação existe há séculos, com registros do período de 1789-1799 de que um jornalista francês acelerou a queda da Bastilha com textos falsos publicados no jornal “O Amigo do Povo”, como destaca o pesquisador da Unicamp Cesar Augusto Gomes. Nos tempos atuais, a tecnologia facilita a difusão de notícias. “Com o advento da internet, o cidadão comum passa a ser produtor e distribuidor ativo de conteúdo e a competir com o jornalismo tradicional”, ressalta em artigo no blog da Universidade. Essa nova dinâmica, segundo ele, potencializou a proliferação de fake news a fim de legitimar crenças em detrimento de fatos científicos.
Estas informações falsas podem afetar a vida em sociedade em diversos ângulos – na política, na religião, na ciência -, principalmente na saúde. “Pode levar pessoas a comportamentos extremos, deixar de realizar tratamentos necessários e de usar remédios essenciais”, pontua Gomes, que lembra ainda das campanhas de vacinação que não cumprem metas por conta do alarmismo e mentiras espalhadas sobre a imunização. O resultado disso é que doenças antes erradicadas no Brasil voltaram a assustar a população, como o sarampo.
Numa sociedade onde se escolhe a realidade que se quer acreditar, ignorando fatos científicos e históricos, a necessidade de conscientização pode salvar vidas.
#EuNãoSouUmVírus
Conforme noticiado pelo jornal Folha de S.Paulo, um edifício comercial na Avenida Berrini em São Paulo exigiu que chineses usassem apenas o elevador de serviço. Em outro episódio, uma estudante descendente de japoneses foi xingada de “chinesa porca” por uma mulher no metrô do Rio de Janeiro. Cenas como as descritas têm, infelizmente, se tornado frequentes.
Face aos ataques xenofóbicos, uma campanha tem tomado força em resistência nas redes sociais. Usuários sino-brasileiros postam relatos de preconceito racial usando a hashtag #EuNãoSouUmVírus, com o objetivo de pedir respeito – não só para o povo chinês, como aos asiáticos em geral – e também em solidariedade a Wuhan.
O youtuber Leonardo Hwan foi um dos que aderiu à campanha. Ele lançou um vídeo sugerindo que as pessoas amarelas lutem contra os estereótipos de raça. “Ser colocado em qualquer caixa é ruim porque não é a gente que tem controle da caixa em que estamos inseridos”, disse. “É só uma coisa dessas acontecer para nos tirarem de uma caixa, a de que somos inteligentes e educados para colocarem em uma outra: a do estrangeiro indesejável.”
Vamos aos fatos
No Brasil, um caso suspeito foi confirmado em 26 de fevereiro pelo Ministério da Saúde. O homem de 61 anos de idade viajou para a Itália, onde contraiu a doença. Quem viajou para locais onde há casos de Covid-19 nos últimos 14 dias e apresenta sintomas como febre e tosse deve procurar atendimento médico.
Segundo os dados atualizados pela Comissão Nacional de Saúde da China, até a última quarta (26), a China somava um total de 2.744 mortos e 78.497 casos confirmados. Além de 2.744 mortos na China, onde o surto começou no fim do ano passado, há registro de mortes no Irã, na Coreia do Sul, Itália, Japão, Filipinas, França, em Hong Kong e Taiwan.
Proteja-se
A orientação para a população é de que se proteja lavando as mãos frequentemente, usando álcool gel e evitando locais cheios. Cubra o nariz e boca com lenço ou com a dobra do cotovelo ao tossir ou espirrar; evite contato próximo com pessoas resfriadas ou sintomas parecidos com o de gripe e lave e cozinhe completamente os alimentos, principalmente ovos e carnes.
(Matéria publicada no Jornal da Afubesp nº 102, atualizada em 27/02/2020)
Afubesp, com informações da Agência Brasil
Foto: Junior Silva