Bancários do Santander sob pressão
Sobrecarga de trabalho, metas abusivas e assédio moral fazem parte da rotina do bancário
Cada agência e unidade do Santander tem sua realidade. Há as que possuem grande volume de contas de pessoa física e jurídica para serem administradas diariamente, bem como frequência abundante de usuários e clientes. Do outro lado há as pequenas, que agregam números de atendimento bem menores, mas na contrapartida poucos bancários para darem conta do recado.
Realidades diferentes sim, mas que proporcionalmente tem um denominador comum: sobrecarga de trabalho. Essa é a constatação da Afubesp em meses de conversa com os bancários. Para agravar a principal reclamação dos funcionários, ela vem acompanhada de pressão para o cumprimento de metas e, não raramente, assédio moral.Por receio de serem demitidos, são poucos os que falam abertamente sobre o assunto, mas mostram em seus olhares que não tem sido fácil suportar o cotidiano exaustivo e muitas vezes opressor dentro do local de trabalho. Como trabalhar tranquilamente e com qualidade no atendimento quando se colocam objetivos absurdos?
Relatos revelam que, às vezes, os gerentes se vêm quase que implorando para que um cliente mais chegado compre um produto difícil de ser vendido. Para deixar a situação pior, quando conseguem fazer a venda ainda podem receber advertências escritas caso ela seja cancelada. “Somos excessivamente cobrados para vender produtos e ainda tem uma tabela que compara o que foi vendido versus o que foi cancelado”, relata uma funcionária que apresentou denúncia ao Sindicato dos Bancários de São Paulo. “Com isso os funcionários que tiveram cancelamentos são expostos nas reuniões com o diretor de rede”, acrescenta.
Questionado sobre o assunto, o banco confirmou que ocorrem advertências em “em casos pontuais”, alegando que o bancário é repreendido se o cliente cancelar o contrato em um período menor de três meses de vigência.
A postura do Santander vai de encontro com o Termo de Relações Laborais, que proíbe a exposição de equipe e bancário individualmente, entre outros pontos, e integra o acordo aditivo à Convenção Coletiva de Trabalho. “Condutas que possam expor negativamente o funcionário através do monitoramento e divulgação de Ranking Nominal, como por exemplo, pagamento de castigos/brincadeiras em caso do não cumprimento de metas ou divulgação de lista com no me de funcionários destacando com cores ou símbolos os baixos desempenhos” é uma das práticas não recomendáveis apontadas no documento, que pode ser conferido na íntegra aqui.
A cobrança diária por metas é uma dos responsáveis por um quadro que gera aumento da pressão, assédio moral e adoecimento. “Conheço gente que está muito abalada emocionalmente por causa das metas, não consegue nem dormir à noite, está indo ao psiquiatra e tomando tranquilizante para aguentar”, denuncia uma gerente.
Quanto mais longe, melhor
Embora divulgue campanha publicitária (O que a gente pode fazer por você hoje?) que remete estar à disposição de seus clientes, na prática o Santander busca afastá-los das agências. “A ideia é que usem telefone, internet banking ou autoatendimento e evitem ir às unidades do banco. É assim que o sistema bancário vem atuando há tempos e é essa prática que o Santander intensifica agora”, explica uma funcionária.
Enquanto busca deixar os usuários bem longe, o banco pode desviar funções de funcionários mais facilmente. É o que tem acontecido em algumas regionais do Santander, que vem direcionando caixas para efetuarem vendas fora da agência. Esses trabalhadores permanecem nas unidades bancárias só em dias de pico e, nos demais, são designados para trabalho externo.
Além de ferir mais uma vez o acordo aditivo – onde consta que os caixas não têm a obrigação de vender e não podem ser avaliados pela venda de produtos – a ausência desses trabalhadores sobrecarrega ainda mais os que permanecem nas unidades.
Jornal da Afubesp