Um mal chamado rotatividade
Falta respeito, sobra lucro: ao demitir bancários com maiores salários e admitir funcionários ganhando menos, Santander traz prejuízos para muita gente
Turnover é a alta rotatividade de funcionários em uma empresa, ou seja, um empregado é admitido e outro desligado de maneira sucessiva”. Essa é a definição do Sebrae para algo que acontece frequentemente no Santander. Interessante é que especialistas do setor consideram a troca de trabalhador prejudicial para as empresas. Porém, o banco espanhol usa e abusa deste recurso para aumentar sua lucratividade (que foi de R$9,953 bilhões em 2017). Demite os de salários mais altos, contrata pagando menos.
Quem perde com isso? Todo mundo. O funcionário dispensado, que foi despedido sem justificativa mesmo sendo eficiente; o bancário que permanece no posto, mas trabalha com a sensação de que é o próximo da lista; o cliente que não tem vínculo nenhum com o banco, porque cada hora é um que o atende.
A onda maléfica da rotatividade atinge até mesmo a própria empresa. E os números confirmam. No primeiro trimestre de 2018, o Santander foi o segundo banco com maior número de reclamações consideradas procedentes pelo Banco Central, segundo ranking elaborado pelo órgão, no segmento de instituições com mais de 4 milhões de clientes. A insatisfação com o atendimento prestado é um dos motivos mais citados entre as queixas.
Mas, ao que parece, o Santander não se importa com isso. Seu objetivo por aqui é lucrar a qualquer preço, algo que não faz em seu país de origem. “O Santander não demite trabalhadores na Espanha, mas demite no Brasil, que é o responsável pelo maior lucro da instituição no mundo”, comenta Maria Rosani, coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados do Santander, diretora do Sindicato dos Bancários de São Paulo e da Afubesp.
Números do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) confirmam que os bancos ganham rebaixando salários. Enquanto os bancários desligados, entre os meses de janeiro e março, tinham remuneração média de R$ 6.615,
os bancários admitidos recebem, em média, R$4.054.
“É por isso que defendemos o fim das demissões, o respeito aos empregos, a perspectiva de estabilidade profissional e a possibilidade de ascensão nas carreiras”, conclama Maria Rosani, que completa: “Promover demissões no momento em que o drama do desemprego afeta 13 milhões de pessoas, enquanto o banco atinge o maior lucro de sua história, é uma brutal injustiça e falta de respeito com o Brasil”.