Trabalhadores do Santander exigem respeito em jornada de lutas
Ato internacional cobra do banco espanhol tratamento digno para os funcionários latino-americanos, responsáveis por mais da metade dos lucros da instituição
São Paulo – Os trabalhadores do Santander realizaram uma jornada internacional de lutas nos países da América Latina onde o banco atua, nesta quarta-feira 7, para denunciar o desrespeito aos direitos dos funcionários, a pressão por metas abusivas, o assédio moral e o uso de práticas antissindicais. O continente é responsável por 51% dos lucros do banco espanhol.
> Vídeo: matéria sobre o dia de luta
Na base do Sindicato, as manifestações ocorreram nas concentrações Casa 1, Casa 2, SP1 e SP2, onde as atividades foram bem recebidas pelos bancários. Nessas unidades, como nas demais, os funcionários são obrigados a conviver com uma rotina sistemática de abusos por conta da pressão excessiva de trabalho.
A diretora executiva do Sindicato Maria Rosani ressalta que a situação nas agências é igualmente calamitosa. “O número de bancários adoecidos e afastados por causa da sobrecarga de trabalho, do assédio moral e da cobrança por metas abusivas é cada vez maior. O banco tem extinguido postos de trabalho, sobrecarregando os trabalhadores remanescentes e influindo no atendimento ao cliente. Não é por acaso que o Santander é o campeão de reclamações pelo quinto mês consecutivo, segundo o Banco Central”, afirma.
Durante a jornada internacional de luta os trabalhadores reforçaram que exigem o fim das demissões e da rotatividade por meio da aplicação da Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que inibe dispensas imotivadas.
Também foram defendidos o fim das terceirizações no banco e a igualdade de oportunidades na contratação, na remuneração e na ascensão profissional, sem qualquer tipo de discriminação.
Lucros – No primeiro semestre de 2013, o Grupo Santander lucrou € 2,255 bilhões, aumento de 29% em relação ao mesmo período de 2012. O Brasil foi responsável por 25% dos ganhos do banco. O México participou com 12%, Chile com 6% e Argentina, Uruguai, Peru e Porto Rico, juntos, contribuíram com 8%.
O restante veio dos países do primeiro mundo como Reino Unido (13%), Estados Unidos (12%), Espanha (8%), Alemanha (5%), Polônia (5%), Portugal (1%) e resto da Europa (5%).
No Brasil, o lucro líquido do Santander foi de R$ 2,929 bilhões no primeiro semestre de 2013. Em contrapartida, o banco continuou com sua política de demissões e cortou 2.290 empregos no mesmo período. Nos últimos 12 meses, a instituição já eliminou 3.216 postos de trabalho.
Alto escalão – Enquanto demite para aumentar os lucros e reduzir custos, o alto escalão da filial brasileira do Santander terá um polpudo aumento na previsão da remuneração global anual de 2013. Os 46 diretores estatutários ganharão neste ano R$ 364,1 milhões e os nove membros do Conselho de Administração, R$ 7,7 milhões, o que corresponde a um aumento de 37,5%.
De acordo com o Dieese, cada diretor vai ganhar, em média, R$ 5,6 milhões por ano, o equivalente a 118,4 vezes o que um caixa receberá no mesmo período.
A diretora executiva Maria Rosani frisou o descontentamento dos bancários quanto à diferença abissal entre o que eles recebem e o que ganha o alto escalão. “É absurdo e revoltante constatarmos essa lógica perversa, já que os verdadeiros responsáveis pelos lucros astronômicos da instituição são aqueles trabalhadores que sofrem diariamente com a exploração pelo cumprimento de metas abusivas, o assédio moral, o acúmulo de funções e o adoecimento. Exigimos respeito e valorização de todos, indistintamente”.
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Caixas – Nas manifestações desta quarta-feira os bancários também reivindicaram o cumprimento do comunicado interno do banco sobre as atividades do caixa. O documento, encaminhado aos gerentes gerais e de atendimento na rede de agências, determina que os caixas “não podem estar sujeitos ao cumprimento de metas individuais de venda de produtos bancários. E a avaliação deve ser baseada pelo atendimento.”
Práticas antissindicais – Nos atos também foram lembradas as práticas antissindicais recorrentes do Santander, como por exemplo, a ação judicial movida pela filial brasileira contra entidades sindicais que realizaram um protesto durante a final da Copa Libertadores da América, em 2011, patrocinada pelo banco espanhol.
Acordo marco – A UNI América – entidade que engloba centenas de sindicatos e milhões de trabalhadores no continente – e as entidades sindicais dos países onde o banco atua continuam a luta para abrir negociações sobre um acordo marco global que garantirá direitos iguais e fundamentais para os trabalhadores do Santander em todo o mundo.
A secretária de Finanças do Sindicato, Rita Berlofa, afirma que os trabalhadores americanos exigem o mesmo tratamento dispensado aos trabalhadores europeus. “Na Espanha, apesar de toda crise, acertadamente, o banco não demite nenhum trabalhador, enquanto que aqui a história é sabidamente outra.”
Rita acrescenta que em 2009 foi assinado um acordo de princípios para os países da Comunidade Europeia que garante direitos básicos a todos os trabalhadores do grupo. “Mas o banco tem se negado a assinar um acordo marco global estendendo iguais direitos para os demais trabalhadores”, ressalta a dirigente.
Seeb SP