Para gerente demitido do Santander, desligamento é estratégia ‘equivocada’
Era gerente e ficava semanas fora de casa para realizar viagens de negócios. Trabalhava até 15 horas diariamente. Batia de longe todas as metas contratadas com a instituição financeira e ficava todo o tempo com o telefone ligado, à disposição. Apesar da grande dedicação, calcada em sólida experiência de mercado, o bancário foi demitido quando estava prestes a alcançar a estabilidade de 12 meses antes da aposentadoria, prevista na cláusula 26 da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) dos bancários.
Para ele, contratado em 2004, a demissão foi consequência da política de redução de custos praticada pela instituição. “O banco espanhol centrou, equivocadamente, sua estratégia na redução de custo e está fazendo isso com demissões”, explica. “O executivo-chefe do Santander Brasil, Jesús Zabalza, está fazendo aqui o mesmo que fez quando estava na filial do México: reestruturação com demissão, falta de investimento e fechamento de unidades de negócio”, afirma a dirigente sindical Vera Marchioni.
Sem bônus – Além de demiti-lo com quase 34 anos de contribuição ao INSS, o banco não pagou o bônus devido. “Não recebi nem 1% do que devia.” Segundo o funcionário, seu caso não é isolado. “Como o banco pede engajamento, se demite e não cumpre sua palavra?”, revolta-se.
Gestão equivocada – Para ele, a estratégia do banco não é racional: “Leva-se anos para formar um profissional. Para reduzir gastos, seria preciso ver o quanto os funcionários dão de resultado, não o quanto custam”. O Santander é o maior campeão de queixas do ranking do Banco Central. Durante 2013, esteve por oito meses no topo das reclamações do BC. Em janeiro desse ano, voltou à liderança.
“Como vai querer ter resultado e não ser o líder de reclamações, se demite funcionários com experiência, sobrecarregando as agências e causando um ambiente de trabalho instável, onde o trabalhador não consegue dormir de noite por medo de ser demitido?”, pergunta-se o gerente.
Isban – A onda de demissões atinge também os funcionários da Isban Brasil, empresa de tecnologia da informação do grupo espanhol. Em 11 de fevereiro, demitiu um empregado. Detalhe: era o dia do seu aniversário. O dirigente Wagner Cabanal conta que o trabalhador chegou com bombons para comemorar e encontrou a sua mesa enfeitada pelos colegas com felicitações. Mas, momentos depois, foi demitido friamente. “Todos ficaram revoltados com a falta de sensibilidade da atual gestão”, conta.
Demissões – Apesar do aumento de clientes, o Santander eliminou 4.371 empregos – 957 apenas nos três últimos meses –, além de fechar as portas de 94 agências, 128 postos de atendimento (PAs) e desativar 835 caixas eletrônicos, em 2013. No ano passado, o banco ganhou 3% a mais com receitas de tarifas e prestação de serviços, que atingiram R$ 10,674 bilhões. Porém, o lucro da filial brasileira foi 9,7% menor que o de 2012.
Segundo o jornal Valor Econômico, de 4 de fevereiro, o banco criou uma nova área de custos, para controlar despesas, bem como um fundo de R$ 593 milhões voltados para consultorias, renegociação de fornecedores e mudanças nas localizações físicas do banco. “O resultado da política de redução de custos é a demissão e suas decorrências: falta de funcionários, metas abusivas para os trabalhadores que ficam e insatisfação dos clientes. Não vamos aceitar isso”, afirma a diretora do Sindicato Maria Rosani.
Seeb-SP