Executivo do Santander vai comandar Banco Central
O executivo do Santander Roberto Campos Neto foi indicado pelo presidente eleito Jair Bolsonaro, na quinta-feira 15, para presidir o Banco Central. A nomeação significa que mais uma pessoa com ligações próximas aos bancos comandará o órgão regulador do setor financeiro.
Campos Neto é um dos nomes que aparece na investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) chamada Bahamas Leaks, uma lista de empresários e banqueiros brasileiros com registros de empresas offshores naquele paraíso fiscal, e divulgada aqui no Brasil pelo jornalista Fernando Rodrigues.
“O comando do Bacen será trocado de 6 por meia dúzia. Sai Ilan Godfajn, um executivo do Itaú, e entra um executivo do Santander. A raposa continuará cuidando do galinheiro. O dono da bola [sistema financeiro] continuará ditando as regras do jogo”, alerta a diretora executiva do Sindicato dos Bancários e funcionária do Santander, Maria Rosani.
São atribuições do Banco Central fiscalizar o funcionamento das instituições financeiras; elaborar políticas de controle da inflação; realizar operações de compra e venda de títulos públicos federais; receber recolhimentos compulsórios e voluntários das instituições financeiras; realizar operações de redesconto e empréstimo às instituições financeiras; regular a execução dos serviços de compensação de cheques e outros papéis; exercer o controle de crédito, dentre outras.
Tramita no Congresso Nacional projeto de lei que prevê autonomia do Banco Central, com mandato fixo para o presidente e diretores da instituição, não coincidente com o do presidente da República (PLP 32/03). Com isso, o presidente do Banco Central não será mais subordinado ao presidente da República.
Diretores do Santander causaram estragos em Porto Rico
O dedo de agentes egressos do Santander na política econômica já causou estragos em Porto Rico. Na ilha caribenha, Carlos Garcia, ex-diretor do Santander, foi um dos principais artífices de uma fórmula de capitalização de juros da dívida pública daquele país, da qual o banco espanhol é um dos maiores beneficiários.
Como consequência, uma dívida que era de US$ 4,3 bilhões saltou para mais de US$ 70 bilhões.
Para enfrentar a situação o governo norte-americano, que controla a ilha, formou uma junta composta também por ex-diretores do Santander que impôs à população uma política de corte nas políticas públicas e sociais, o que agravou ainda mais a situação calamitosa do país, inclusive com fechamento de escolas e hospitais. Tudo isso para pagar juros de uma dívida da qual um dos principais credores é o Santander.
Linhagem liberal
O futuro presidente do Bacen é neto de Roberto Campos, ex-ministro do Planejamento no governo militar do marechal Castelo Branco. Roberto Campos (o avô) ficou conhecido como Bob Fields pela proximidade com os EUA e por ter adotado posições liberais na economia.
Sempre contra o povo
Maria Rosani lembra que, em 2017, o Santander defendeu a aprovação da reforma trabalhista, que exterminou uma série de direitos dos trabalhadores, e tem interesse na reforma da Previdência.
“Após defender publicamente a nova lei trabalhista, o banco espanhol foi a primeira instituição financeira a colocar em prática as mudanças nocivas aos trabalhadores, mudando o regime de férias e de cumprimento de horas extras, além de mudanças drásticas que encareceram demais o plano de saúde. E agora defende a reforma da Previdência que, se for aprovada, resultará no aumento do lucro da instituição financeira por meio da venda de planos de previdência privada.”