Vamos proteger o Esporte Clube Banespa, uma joia arquitetônica sob o risco de vir ao chão
A caminho do Brooklyn, bairro onde fica a sede do quase centenário Esporte Clube Banespa, salta aos olhos a quantidade de novos empreendimentos em áreas valorizadas pela inauguração de estações de trem e metrô. Virando à esquerda na entrada da rua São Sebastião, o verde do clube se torna um alívio no meio do concreto maçante. Custa acreditar que – se depender do Santander – o espaço que serve de lazer e convívio social a mais de dez mil pessoas, incluindo cerca de 150 empregados e prestadores de serviço, pode virar pó.
A diretoria do clube foi surpreendida em março último com uma notificação do banco espanhol informando decisão judicial da 14ª Vara do Foro Regional de Santo Amaro, concedendo a reintegração de posse e o encerramento imediato das atividades do clube citando falta de manutenção e “insegurança aos frequentadores”. A defesa do clube conseguiu, porém, a suspensão da liminar e continua trabalhando para manter o espaço em uso para os associados. A ação segue em trâmite na Justiça.
Em comodato previsto até 2030 no edital de privatização do Banespa, o terreno nunca foi de fato do banco, que sempre ignorou a existência do clube – e tampouco tem interesse em divulgar o rico espaço para o uso de seus funcionários.
Nelson de Souza, vice-presidente do ECB, afirma que R$ 8 milhões foram investidos em reformas e reparos no local. “Prédios antigos como esses necessitam de manutenção de tempos em tempos”, explica. Por isso, foram feitas vistorias e registros fotográficos de pontos para melhoria que, segundo ele, foram usados com má-fé pelo banco no pedido infundado de reintegração de posse. Em visita à sede, a reportagem conferiu o resultado das reformas, com novas salas para aulas como artes marciais, ballet, pilates, música, entre outros.
Já foram concluídos 90% dos reparos e adaptações, restando a área de piscinas, que têm maior custo. O espaço possui laudo técnico atualizado e alvará dos Bombeiros para o funcionamento.
Além da linha jurídica, há articulação da comunidade de sócios e dos bairros nos arredores para proteger o clube da predação imobiliária. Entre as muitas peculiaridades que o ECB carrega é a assinatura do arquiteto Eduardo Corona, ex-sócio de Oscar Niemeyer, no prédio principal. Com isso, a ideia é que o clube seja tombado como patrimônio histórico e arquitetônico. Já existe pedido junto ao Iphan. Técnicos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) estão elaborando um parecer favorável sobre a importância arquitetônica das instalações. Porém, tudo depende dos aspectos técnicos da nova lei de zoneamento do município.
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O clube é da comunidade
Proteger o clube é a pauta principal, tanto denunciando o caso na mídia, como em manifestações. As associações de moradores dos bairros (Ciranda e Apit), simpatizantes e diretores organizaram ato simbólico com abraço coletivo no Clube em 8 de junho, com grande adesão.
A investida do Santander expõe objetivos menos nobres para o terreno onde começaram a ser erguidas em 1930, na então Chácara São João, as instalações que se tornaram o complexo reconhecido mundialmente. “Não há dúvidas do que o Santander pretende fazer nessa chamada reintegração, basta olhar ao redor com tantos prédios em construção”, diz Souza. “O terreno nunca foi do banco, sempre foi dos funcionários que ergueram o clube”, lembra. Para ele, há em curso um processo de apagamento da memória do Banespa.
Há interesse do clube – que hoje recebe também sócios-frequentadores – em reivindicar a utilização dos bancários como uma iniciativa para estimular a qualidade de vida destes trabalhadores. Mas, para o presidente do ECB, Maury Roberto Muscatiello, o Santander não tem visão social e ambiental. “Sabemos que na época das integrações esportivas do Banespa, os funcionários saíam mais motivados para trabalhar. Hoje só há a visão lucrativa do banco espanhol, sem contrapartidas”, destaca.
O mais próximo que a diretoria do ECB chegou disso foi em diálogos com o ex-presidente do Santander no Brasil, Sergio Rial, e logo depois foram rompidas as tratativas verbais quando o atual presidente Mario Opice Leão tomou o cargo em 2022.
Letícia Cruz – Afubesp
Fotos: Junior Silva