Qualidade de Vida: Caminhada revela paisagens e história do país na Estrada de Santos
Um dia sem chuva, de ar puro e temperatura amena. O cenário pareceu ter sido feito sob medida para que a atividade do programa Qualidade de Vida de agosto transcorresse da forma mais agradável possível. E assim foi: o tão esperado passeio pelo Caminho do Mar, a conhecida Estrada Velha de Santos, preencheu todas as expectativas do numeroso grupo de colegas na quarta-feira (27).
Ainda que o percurso de nove quilômetros pela histórica Rodovia inaugurada em 1844 intimidasse alguns pela sua extensão, não faltou fôlego e disposição aos participantes. Com o auxílio de monitores treinados para acompanhar o grupo, orientar sobre o andamento do passeio e informar sobre os fatos históricos, todos puderam conhecer construções antigas, ter contato com a fauna e flora local e aproveitar a paisagem.
Como diz a música de Roberto Carlos, “as curvas da estrada de Santos” estão presentes no imaginário e na memória afetiva da população. No entanto, nem todos conhecem suas particularidades. Antes só passavam carroças e diligências no caminho estreito, que já se chamou “Estrada da Maioridade” em homenagem a D. Pedro II e, depois, de Estrada Senador Vergueiro. Até seu fechamento para a passagem de carros em 1986, a estrada era uma das opções que ligavam a Baixada Santista ao Planalto paulista. Era a principal via, até a inauguração da Rodovia Anchieta em 1947. Com a Imigrantes, em 1976, perdeu fluxo de tráfego.
No entanto, o patrimônio histórico, a riqueza natural e cultural continuam preservados no local e atraindo olhares curiosos.
Confira como foi a atividade!
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História pura – Durante as paradas no percurso os colegas conheceram algumas das construções que fazem parte do período de construção e desenvolvimento da via. Na primeira, a Casa de Visitas do Alto da Serra, há exposição sobre a Usina Henry Borden – construída em 1926, de importância ímpar para o crescimento de São Paulo. São 889 megawatts de capacidade instalada e 720 metros de queda da água, vinda da bacia do Alto Tietê. Como lembrou a monitora do passeio, muitos não sabem da existência da usina, apesar de ela ter sido durante um período a mais importante do país.
Ainda no início do trajeto está o Pouso Paranapiacaba, construído em 1922 para servir de parada durante as longas viagens até Santos. De arquitetura portuguesa e ornamentada com os famosos azulejos pintados à mão, a casa rendeu diversas fotos de recordação para os banespianos – principalmente com a bela vista para a Serra do Mar e Baixada. Não à toa que muitas personalidades eram frequentadores do local, como os artistas do modernismo Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Mário de Andrade, ícones da Semana de Arte Moderna. O Rancho da Maioridade, com vista igualmente atrativa, abrigou um lanche em grupo.
Mais adiante, as ruínas de uma casa que suspeita-se ter sido moradia de trabalhadores das obras da estrada encantaram quem foi ao passeio em busca de história por conta de seus detalhes. No ambiente da casa ainda restavam resquícios de lareira e um fogão à lenha. Na Casa de Válvulas, alguns muitos passos depois, o grupo viu de perto a magnitude dos canos que transportam as águas da Usina.
Construída nos idos de 1800, a Calçada do Lorena foi o primeiro caminho pavimentado do país construído pelo então governador da capitania de São Paulo, Bernardo José Maria de Lorena. A trilha desemboca no monumento “Padrão do Lorena”, feito durante o governo Washington Luís em homenagem ao colonial. As pedras originais, ainda conservadas no lugar histórico, foram colocadas por escravos. O local servia de passagem para burros de carga e pequenos veículos com viajantes, puxados por escravos ou animais. Em 1822, D. Pedro I viajou por esta via subindo a serra sentido a São Paulo – resultando esta viagem na proclamação da independência. “(A trilha pavimentada) era a Anchieta ou a Imigrantes da época”, comparou um dos monitores do passeio.
Foi nesta mesma Calçada que os colegas foram convidados a fechar os olhos e se conectar com a natureza em um exercício de meditação em busca da paz interior. O local era propício para tal atividade: ar puro, verde e um raro silêncio que não faz parte da rotina de quem vive na cidade. Barulho só mesmo o da respiração e das diversas espécies de pássaros nativos da Mata Atlântica.
Linha de chegada – Nos quilômetros restantes do percurso, muita caminhada ao redor de cachoeiras e determinação para chegar ao final da estrada, em Cubatão. Ainda que o cansaço batesse na porta por conta da longa distância, o saldo do passeio foi mais que positivo segundo os próprios participantes da atividade.
Renato Luís Martins, banespiano aposentado do Plano II, foi além dos 9 km e viajou por horas de São José do Rio Preto para São Paulo só para fazer o caminho de Santos. “Nunca tinha participado do Qualidade de Vida e também sempre quis descer a estrada de Santos. Então esta oportunidade veio de encontro com o que eu queria”, disse o colega, que vivenciou a experiência ao máximo, tal como os demais colegas.
Toda última quarta-feira do mês, o Qualidade de Vida une a convivência entre os associados com atividades ricas em cultura e conhecimento, exercitando o corpo e a mente dos participantes. As próximas atividades serão divulgadas por meio do site e Facebook da Afubesp. Participe!
Letícia Cruz, Afubesp
Fotografia e audiovisual: Camila de Oliveira