Memória: Morre Neuzinha Cardoso Paixão, a companheira
por Paulo Salvador
Era 1970, e ela trabalhava na Torre Banespa desde 1968, quando começaram as contratações de mulheres e seu salário era 50% menor. Participava de um movimento de luta contra esse arrocho, e começou o namoro com o Walter Paixão, que também trabalhava na Torre e era militante da Participação Ativa, de oposição à diretoria do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região da época.
Ele trabalhava de manhã e ela a tarde, e não podiam se casar pois era proibido pelo regulamento do banco. No dia 18 de maio de 1970, três policiais chegaram à Torre. O gerente geral Greco chamou o Walter na sala e os policiais lhe deram voz de prisão. Antes de sair, pediu ao gerente que avisasse a namorada. Levaram ele ao DOPS, a polícia da ditadura, onde sofreu várias sessões de espancamento.
Queriam saber onde morava o Paulo Skromov, outro militante. Walter sabia. Era na rua Fidalga, 66 – mas não falou. Ficou até as 19h quando um dos torturadores concluiu que ele não sabia, o delegado mandou fichá-lo e – por estar apressado para outro compromisso – falou que ele ia dormir em casa e deveria voltar às 14h do dia seguinte, com a promessa de “apresuntá-lo” caso não voltasse, exibindo uma pasta com uma escopeta. Walter diz que suportou o espancamento pela experiência de lutador de boxe.
Depois do trabalho e sem notícias do marido, Neuza procurou o sindicato, falou da prisão e ouviu de Frederico Brandão, então presidente, que nada poderia ser feito. Em casa, no Largo São José do Belém, passaram a noite em claro pensando no que fazer quando decidiram que ele se apresentaria.
Na manhã seguinte, de volta ao Banespa, Walter decide não se entregar. Espera a mulher e juntos vão para a casa da irmã de Neuza em Maringá, no Paraná, endereço que consideram de fácil localização. Os pais se assustam, mas não se recusam a abrigá-los – ainda que tenha ficado inviável depois das prisões.
Voltam para São Paulo, onde uma prima de Neusa dá apoio irrestrito e passam a morar num sótão. Permanecem escondidos e assumem uma vida de semiclandestinidade. Sempre juntos, tiveram filhos. Assistiram à Copa de 1970 no sótão, vivendo de favor. Receberam a solidariedade dos companheiros, e um deles foi Oliver Simioni, que os visitava constantemente. Foi quem levou peças de tecidos para que ela fizesse suas roupas, porque ela não tinha o que vestir. Outro amigo sempre presente foi Luiz Araújo do Prado, dirigente da corrente política Primeiro de Maio. Com o tempo reorganizaram a vida, com cursos e novos empregos.
Neuza Maria Cardoso Paixão morreu na sexta-feira, 25 de julho de 2025. Este depoimento foi gravado por Walter Paixão para o livro Vidas Cruzadas, do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.








