LEIA ARTIGO DA DEPUTADA IARA BERNARDI SOBRE A MULHER NA SOCIEDADE
Estamos comemorando neste período o Dia Internacional da Mulher. Ao mesmo tempo em comemoramos as lutas e as vitórias das mulheres, temos o início da Campanha da Fraternidade do ano 2000, com o tema “Dignidade Humana e Paz – Novo Milênio Sem Exclusões”. Reconhecer nas mulheres a sua importância na sociedade é o caminho mais objetivo para alcançarmos a meta da dignidade, da paz e o fim das exclusões. O próprio Papa João Paulo II em seu discurso oficial marcando o início da quaresma, pediu perdão às mulheres pela maneira como foram tratadas ao longo da história e dentro do contexto da igreja católica. Entre os pecados cometidos e reconhecidos pela igreja católica estão a condenação das mulheres à fogueira na idade média. Toda e qualquer mulher que ousasse defender alguma idéia revolucionária para a época era catalogada de bruxa e condenada ao fogo.
A Marcha Mundial de Mulheres contra a pobreza e a Violência é outro evento que vem a reforçar a luta das mulheres pela dignidade e pela paz, denunciando as injustiças sociais e clamando por mudanças significativas em toda a sociedade. As principais reivindicações da Marcha 2000 no Brasil são as seguintes: reforma agrária, reforma urbana, educação, saúde, trabalho, dívida externa e rompimento com o FMI, questão ambiental, discriminação racial e étnica, autodeterminação das mulheres, combate à violência sexista e livre orientação sexual.
Apesar de já ter conquistado vários espaços, as mulheres ainda estão em condições de desigualdade nos níveis econômico, social e político. O poder dos homens sobre as mulheres se expressa no conjunto das relações sociais, fazendo com que as mulheres participem nos diversos espaços da sociedade em condições de subordinação. As relações desiguais de gênero estão sustentadas pela divisão desigual do trabalho doméstico e o cuidado dos filhos e da família, pelo controle do corpo e da sexualidade das mulheres, pela violência sexual e doméstica e pela pouca participação das mulheres nos espaços de poder e decisão. O atual modelo de desenvolvimento capitalista se utiliza desta opressão para a manutenção de uma sociedade que exclui vários setores e mantém várias desigualdades articuladas entre si, de classe, raça, gênero e geração.
Nesse modelo, o Estado sempre intervém com o pressuposto de que as mulheres são um recurso disponível para complementar suas políticas. Dessa forma, não considera prioritário e em geral nem necessário, se preocupar com a socialização do trabalho doméstico, com o cuidado das crianças e dos idosos. A naturalização das relações desiguais entre homens e mulheres, sua reafirmação cotidiana, tem sido um dos principais mecanismos para que mulheres e homens introjetem esta desigualdade e a reproduzam de forma acrítica, mesmo nos espaços onde a crítica social e política ao capitalismo é um aspecto importante.
Não há dúvidas de que o Estado deve se responsabilizar pela socialização de uma grande parte do trabalho doméstico e garantir a educação e cuidado em período integral a todas as crianças. Isso implica em considerar a creche como parte do sistema de ensino público. Só assim é que a mulher poderá ter condições de autonomia pessoal, já que a independência econômica é um dos elementos centrais da emancipação feminina e do direito pleno das mulheres à cidadania. Mas para que isto aconteça efetivamente é necessário que o governo produza ações afirmativas para a mulher, como a implementação da lei de cotas incentivando as candidaturas femininas, implementando os equipamentos sociais inclusive no que se refere aos direitos reprodutivos, na educação não sexista e no combate aos salários diferenciados, entre outras formas de discriminação.
Iara Bernardi é deputada federal (PT/SP) 08/03/00
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