Qualidade de Vida: exposição de uma artista a frente de seu tempo

Quem aí já conhecia Hilma af Klint? Foi com essa pergunta que os participantes do Qualidade de Vida iniciaram a visita à exposição Mundos Possíveis, da artista, realizada no dia 28 de março, na Pinacoteca de São Paulo. Divididos em duas turmas, as guias fizeram um bate papo antes de ingressar na área das obras para falar sobre a pintora sueca, cujo trabalho tem sido considerado pioneiro no campo da arte abstrata e que passou despercebido durante grande parte do século XX.
Conhecer um pouco a história de Hilma foi fundamental para que os visitantes reconhecessem o quão visionária foi esta artista, que viveu de 1862 a 1944, mas que teve boa parte das obras reveladas ao mundo – por sua própria vontade – só 20 anos depois de sua morte. Preservação de sua obra é um dos motivos que podem tê-la levado a esconder a vertente mais espiritualista de seus trabalhos.
Por este motivo, Hilma af Klint é apontada como uma nova artista, tanto que esta mostra na Pinacoteca é a sua primeira individual na América Latina. No total, a exposição traz 130 obras, entre elas a série “As dez maiores”, que foram produzidas em 1907 e referem-se às fases da vida – infância, adolescência, idade adulta e velhice.
Nelas, notam-se formas geométricas, muitas cores, flores, símbolos em grandes telas, que foram pintadas no chão e em apenas 40 dias. Segundo a própria pintora, elas apontam para a evolução de um indivíduo em direção à dualidade (matéria e espírito; feminino e masculino; totalidade do cosmos; origem do mundo; bem e mal; religião e ciência, por exemplo). A série é tida como uma das primeiras e maiores obras de arte abstrata no mundo ocidental, pois precede outras composições não figurativas de artistas contemporâneos como Kandinsky.
Outra presente na exposição, que mostra toda a espiritualidade da artista, é “Os Retábulos”. Três delas, das 193 criadas entre os anos 1906-1915, representam o Caos Primordial, segundo a pintora. “São a expressão da multiplicidade universal, não guiada pela dualidade, mas pela unidade”.
À frente de seu tempo
As obras de Hilma af Klinf levaram os cerca de 40 colegas à reflexão sobre o material e o espiritual. Atentos às informações e questionamentos das guias, os banespianos foram bastante participativos e aprovaram a primeira atividade do ano, que também marcou o final do mês das mulheres de forma muito positiva.
Em cada detalhe de sua história, que começou a ser escrita ainda no século XIX, Hilma mostrou que era uma pessoa muito à frente do seu tempo. Nascida em uma das maiores famílias de oficiais navais do mundo ocidental, ela quebrou padrões ao escolher a vida profissional ao invés de dedicar-se exclusivamente à casar e ter filhos, como as mulheres de sua época. Cursou a Academia Real de Artes da Suécia, era ligada à antroposofia – doutrina filosófica e mística fundada pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner – tendo sido membro da Sociedade Antroposófica, em 1920.
“A pintura abstrata de Hilma é seu modo de reproduzir fisicamente o mundo astral em uma tela ou papel. Mais especificamente, os trabalhos abstratos de Hilma af Klint podem ser caracterizados como: Imagens sistemáticas de idéias filosóficas complexas e conceitos espirituais”, segundo Johan af Klint, sobrinho-neto da artista e presidente da Fundação Hilma af Klint, em entrevista à Revista Caliban. Leia na íntegra
Ainda é possível conferir
“Hilma af Klint: Mundos Possíveis” permanece em cartaz até 16 de julho de 2018, no primeiro andar da Pina Luz – Praça da Luz, 02. A visitação é aberta de quarta a segunda-feira, das 10h00 às 17h30 – com permanência até às 18h00 – os ingressos custam R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia). Crianças com menos de 10 anos e adultos com mais de 60 não pagam. Aos sábados, a entrada é gratuita para todos os visitantes. A Pina Luz fica próxima à estação Luz da CPTM.
Texto: Érika Soares
Fotos: Débora Flor