Negociação sobre saúde e segurança com poucos avanços e muito “não”
Debate sobre metas abusivas e medidas preventivas de segurança fica estagnado O tradicional script dos banqueiros não falhou. Depois de um dia e meio de negociação, os representantes dos principais bancos do país deram mais uma demonstração de descaso com os problemas que afligem seus funcionários. A rodada começou na tarde de quarta, 1, e se estendeu pela quinta-feira, 2.
Apesar de 80% dos bancários, em consulta realizada nacionalmente, indicarem o fim do assédio moral e das metas abusivas como fundamentais, os integrantes da federação dos bancos (Fenaban) disseram “não” às principais reivindicações de saúde e segurança apresentada pelo Comando Nacional dos Bancários.
“Temos mais duas rodadas de negociação previstas para as próximas semanas (veja calendário). Se essa postura do “não” for mantida, novamente os banqueiros estarão empurrando os bancários para a greve. De nossa parte, apostamos na negociação, mas sabemos que os trabalhadores estão mobilizados para a luta”, afirma a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira, que faz parte do Comando.
Metas
O debate sobre metas, principal problema que aflige a categoria e causa do assédio moral, não avançou. Os banqueiros não aceitaram fechar uma proposta concreta para mudar esse modo de gestão. “Queremos resolver essa situação que faz dos bancários uma das categorias que mais adoece no país. Os bancos não podem desperdiçar a chance de avançar nesse debate até o fim do processo negocial”, salienta Juvandia.
Assédio
O reconhecimento de que o problema do assédio moral existe e é grave, não fez com que os banqueiros avançassem. “Fizemos um debate importante, com base em dados. Nossa expectativa era sair da rodada dessa quinta-feira com algo concreto, mas os bancos quiseram jogar a discussão para frente”, informa Juvandia. “Esse tema está amadurecido e vamos insistir nas próximas rodadas, na criação de um instrumento para combater o assédio moral nos locais de trabalho.”
Saúde
A presidenta do Sindicato destaca que a Campanha Nacional Unificada tem foco em resultados não apenas econômicos, mas também nas condições de trabalho. “Não podemos admitir o nível de adoecimento que acomete os bancários. Essa situação tem de mudar.”
Mas não é o que os banqueiros querem. Eles se recusam a convencionar o direito de falta aos trabalhadores com deficiência que precisam fazer manutenção em suas próteses. Afirmam que essa discussão deve ser feita por local de trabalho. Também não querem debater o fim do descomissionamento dos afastados, alegando que se a pessoa não está exercendo a função não tem porque receber comissão. “Isso é inadmissível. O trabalhador que retorna da licença tem direito de voltar para sua função e receber o salário que tinha antes de adoecer”, destaca Juvandia.
Ilegalidade?
Os representantes da Fenaban chegaram a colocar em questão a ilegalidade que pode estar acontecendo nos bancos. Trata-se do pagamento dos salários dos bancários que estavam afastados, mas que tiveram o benefício suspenso em função da alta programada e não podem voltar ao trabalho porque são considerados inaptos pelo médico do banco. “Ou seja, esse trabalhador não pode retomar suas funções então fica sem salário, e também não recebe mais o benefício porque o INSS o colocou em alta antes de verificar seu estado de saúde. Como o contrato de trabalho não foi cessado, o banco tem de pagar o salário, mas não está pagando. Essa é a ilegalidade”, explica Juvandia.
O negociador da Fenaban, Magnus Ribas Apostólico, informou que vai consultar seus advogados e, caso a irregularidade se confirme, os bancos devem corrigi-la.
Segurança
Apesar de as dez reivindicações de segurança que prevêem medidas reparatórias e preventivas terem sido debatidas em quatro reuniões da mesa temática, a Fenaban não quer avançar no assunto.
Não querem falar em acabar com o porte das chaves das agências e cofres, e com o transporte de numerário por bancários. Também não admitem colocar no acordo a obrigatoriedade da emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), nem a ampliação das indenizações para as vítimas de assaltos, nem o adicional de risco.
O mesmo “não” valeu para as portas de segurança. “Nossa reivindicação é que o acordo preveja e manutenção das portas e a instalação onde não tem. Sem regras, os bancos fazem o que querem e aumentam o risco à vida de bancários, vigilantes e clientes”, ressalta Juvandia, lembrando que o Itaú Unibanco, no novo layout, está retirando as portas e o Banco do Brasil tem um projeto piloto que também prevê a retirada. “Isso é um retrocesso que indica que os bancos estão preocupados só com o patrimônio e não com a vida das pessoas.”
A Fenaban concordou em fornecer estatísticas sobre assaltos a cada seis meses e em convencionar a emissão obrigatória de Boletim de Ocorrência. Também deverá estar previsto no acordo, conforme já havia sido acertado na mesa temática, o atendimento médico ou psicológico aos bancários no local da ocorrência.
“Mas os banqueiros disseram não para outras questões fundamentais, como a isonomia de direitos para afastados em licença (pagamento de VA, VR e PLR) e o fechamento das agências assaltadas, além do acompanhamento de advogado para identificação de suspeitos”, relata Juvandia. “Sabemos da importância da retomada dos debates de segurança e isso tem de continuar para que possamos avançar mais na defesa da vida e do direito dos bancários.”