Valor Econômico: Santander não precisa de socorro a bancos espanhóis
O Santander, único banco espanhol com forte exposição no mercado brasileiro, vai ficar de fora do resgate de até € 100 bilhões da União Europeia para sanear as instituições financeiras do país. Segundo o vice-presidente de estratégia do Santander Brasil, Juan Manuel Hoyos, o banco já atingiu o nível de capital exigido pela Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla em inglês), de 9%, e não há hipótese de o modelo de socorro da Espanha a seus bancos se espelhar no chamado Tarp americano.
Após a quebra do banco de investimento Lehman Brothers, em 2008, e o estouro da bolha do “subprime” (das hipotecas de alto risco), o Tesouro dos Estados Unidos acertou que mesmo instituições com boas condições de liquidez e capitalização receberiam dinheiro do governo. O objetivo era não expor a fragilidade daquelas que, de fato, necessitavam dos recursos.
Segundo Hoyos, o pedido de socorro do governo espanhol foi bem recebido pela matriz, deve trazer alívio aos mercados e tem potencial de restabelecer a credibilidade no combalido sistema bancário do país, às voltas com perdas severas nas carteiras imobiliárias. “A injeção vai trazer a capitalização das entidades para os níveis exigidos, deve eliminar as dúvidas sobre o sistema financeiro da Espanha e permitir que o crédito volte a fluir para as famílias e pequenas e médias empresas”, afirmou ao Valor.
Dentre as prioridades definidas pelo Santander para 2012 estão finalizar o saneamento dos ativos imobiliários na Espanha e atingir índice de capital principal de 10%.
Hoyos assinalou que, no seu diagnóstico sobre o sistema bancário espanhol, o Fundo Monetário Internacional (FMI) detectou que apenas 30% das instituições financeiras da Espanha precisariam de socorro. O fundo também identificou que instituições de porte como o Santander têm condições de reforçar provisões para fazer frente a perdas potenciais com o crédito imobiliário, num momento em que o desemprego no país está em níveis recordes. Parte dessa leitura se deve à diversificação geográfica dos dois maiores bancos espanhóis, Santander e BBVA, principalmente na América Latina.
Para a unidade brasileira do Santander, Hoyos assegura não haver mudanças na rotina da operação. “O modelo societário do grupo é de subsidiárias independentes, tanto na política de captação de funding quanto na política de concessão de crédito nada muda”, diz. “Não há fluxo de dinheiro do grupo para o Brasil e nem do Brasil para a Espanha, a não ser pela distribuição de dividendos, em condições iguais aos dos minoritários.”
A expectativa do executivo é que, mesmo diante do socorro aos bancos espanhóis, o mercado não reaviva especulações de que o Santander Brasil estaria à venda. Em entrevista recente ao Valor, o presidente da instituição, Marcial Portela, negou haver qualquer negociação da matriz para se desfazer da unidade local ou de fatia do controle. Em passagem pelo Brasil, após encontro com a presidente Dilma Rousseff, o presidente mundial do grupo, Emilio Botín, reforçou o interesse em manter os negócios no país. “Temos investido R$ 28 bilhões e eu disse à presidente que vamos continuar investindo no Brasil, pois isso é estratégico para o banco Santander”, declarou.
A crise financeira espanhola estourou em meados de maio com a nacionalização do Bankia, que solicitou €19 bilhões para sanear seu balanço. O pedido gerou desconfiança sobre a capacidade da Espanha de salvar seus bancos sozinha. A interpretação era de que o Bankia, oitavo banco estatizado desde o início da crise, seria só a ponta de um iceberg. As exigências de provisões do governo para cobrir ativos tóxicos tampouco ajudaram, especialmente num momento em que os custos de financiamento da dívida da Espanha dispararam.
A conta é que entre quatro e cinco dos 14 grupos bancários da Espanha vão precisar de ajuda. São instituições que, em sua maioria, surgiram de fusões das antigas caixas de poupança, que praticamente desapareceram após o estouro da bolha imobiliária em 2008. Segundo o Banco de Espanha, o banco central do país, o sistema financeiro suporta €180 bilhões em ativos tóxicos e créditos imobiliários de difícil liquidação.
Jornal Valor Econômico