Segurança bancária: Fenaban mostra descaso com proteção de bancários e clientes

Na mesa de negociação desta quinta-feira 28, a quinta rodada de negociação da Campanha dos Bancários, a Fenaban (federação dos bancos) revelou descaso com a proteção de empregados e clientes. A Fenaban apresentou uma proposta que, em linhas gerais, reduz os equipamentos de segurança em agências e postos de atendimento: sugeriu retirar portas de segurança e diminuir o número de vigilantes; em agências de negócios, a federação propôs inclusive não ter vigilante nenhum, mesmo que essas unidades tenham caixas eletrônicos, nos quais os clientes podem sacar dinheiro.
“A reunião de hoje frustra os trabalhadores. Vimos que discutir segurança para os bancos significa tirar portas giratórias com detector de metal e diminuir o número de vigilantes, para reduzir o custo de operação das unidades bancárias. A proteção dos bancários e dos clientes não entra na conta deles. Sabemos que a vida não tem preço, mas para a Fenaban, a proteção à vida é um custo”, comenta Ivone Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, que representa a categoria nas mesas de negociação com a Fenaban.
Para o coordenador do Coletivo Nacional de Segurança Bancária da Contraf, Elias Hennemann Jordão, a proposta apresentada pela Fenaban é totalmente inoportuna. “Dada a conjuntura, existe uma preocupação com a retomada da violência. Por isso, entendemos que, se abrirmos mão de aparatos de segurança e de vigilantes neste momento, estaremos colocando em risco a categoria e os clientes. Acreditamos que temos que avançar na questão da segurança e não retroceder”, disse, lembrando que a retirada de portas de segurança e de vigilantes das agências bancárias desrespeita legislações específicas de estados e municípios e que existem várias decisões judiciais que condenam os bancos a pagarem multas pelo descumprimento das leis.
Dados sobre assaltos
Na mesa, a Fenaban apresentou dados sobre a redução do número de assaltos a bancos como mais um argumento para a redução de custos com segurança.
Mas o Comando apresentou levantamento que leva em consideração assaltos, saidinhas, explosões de caixas eletrônicos, inclusive os não consumados. Segundo essa pesquisa feita pela Contraf e confederações dos vigilantes, com base em notícias na imprensa, dados de secretarias de segurança pública e de sindicatos, foram 839 ataques em 2020, dos quais 321 explosões ou arrombamentos de caixas eletrônicos; 439 assaltos ou tentativas; 34 ataques a carro-forte; e 45 saidinhas bancárias. Além de 40 assaltos a correspondentes e 86 a agências dos Correios ou lotéricas. Dentre as ocorrências, foram identificadas 6 vítimas fatais.
Os trabalhadores, por sua vez, argumentaram que, por mais que o número de assaltos tenha caído, isso não justifica a retirada dos equipamentos, até porque tem aumentado o número de agressões de clientes a bancários, em função da piora no atendimento devido à redução do número de trabalhadores nas agências.
“A questão da segurança bancária não é só impedir assaltos e sequestros, não é só uma questão patrimonial. A ocorrência de agressões contra bancários tem aumentado, principalmente em regiões de São Paulo como a zona sul, por exemplo. E levando em conta que o número de armas de fogo na sociedade aumentou, porque hoje qualquer cidadão pode ter uma arma, não podemos deixar de alertar para os riscos que correm os trabalhadores. E nesses casos, as portas com detector de metal são fundamentais para impedir a entrada de pessoas armadas nas agências”, argumenta Neiva Ribeiro, secretária-geral do Sindicato.
Fenaban nega criação de GT de segurança
Para Juberlei Bacelo, da Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro do Rio Grande do Sul (Fetrafi-RS), mesmo nos novos modelos de agência continua havendo riscos e os bancos devem negociar antes de tomar medidas que reduzam a segurança mesmo nas chamadas unidades de negócios. “Nos é cobrado de negociar antes de tomar qualquer medida, mas os bancos, infelizmente, vêm descumprindo a legislação, sem nenhum tipo de negociação com o movimento sindical”, disse. “Ninguém quer impedir novos modelos, mas não se pode simplesmente descumprir a lei. É preciso haver negociação coletiva. Queremos juntos buscar soluções”, completou.
Na oportunidade, Elias Jordão lembrou que é preciso incluir os vigilantes no debate. “Uma negociação somente entre bancos e bancários não poria fim ao conflito, pois estaríamos deixando a categoria dos vigilantes na berlinda e eles podem se contrapor ao que negociarmos. Por isso, propomos a criação de GT tripartite para debatermos o tema”, propôs.
A Fenaban recusou a proposta de criação do GT e disse que está aberta a debater o tema até o final de agosto e, caso contrário, assumirá a responsabilidade por tocar a pauta de acordo com seus interesses.
Outras reivindicações
O Comando dos Bancários apresentou na mesa as demais reivindicações sobre segurança da pauta dos bancários, entre elas:
- a proibição da guarda das chaves de agências e acionadores de alarmes pelos bancários;
- a proibição ao transporte de numerário pelos bancários;
- a que prevê diversos equipamentos de segurança, como a obrigatoriedade das portas giratórias, biombos entre os caixas para garantir a privacidade das operações feitas por clientes;
- maior número de vigilantes e obrigatoriedade de vigilantes em todas as unidades bancárias, sejam elas agências, agências de negócios, postos de atendimento, correios ou lotéricas;
- a que prevê assistência às vítimas de assaltos, sequestros e extorsões;
- acesso dos trabalhadores às estatísticas de ataques aos bancos;
- estabilidade ao empregado vítima de assalto, sequestro ou extorsão.
A Fenaban negou ou não deu respostas concretas a nenhuma das reivindicações.
Próxima mesa discute Saúde
A próxima mesa de negociação da Campanha dos Bancários é segunda-feira 1º, sobre o tema “Saúde e Condições de Trabalho”.
Calendário de negociações
– Segunda-feira, 1º de agosto: Saúde e Condições de Trabalho
– Quarta-feira, 3 de agosto: Cláusulas Econômicas
– Quinta-feira, 11 de agosto: Continuação das Cláusulas Econômicas
Informações: SP Bancários e Contraf