Prefeitura desapropria área do Esporte Clube Banespa e ameaça tradição quase centenária

A decisão da Prefeitura de São Paulo, sob gestão de Ricardo Nunes (MDB), de desapropriar a área onde se encontra o quase centenário Esporte Clube Banespa (ECB), em Santo Amaro, gera preocupação entre associados, moradores da região e a comunidade banespiana.
Nunes decretou em 29 de agosto transformar o espaço em um parque público, complexo esportivo e um centro de atendimento para pessoas no espectro autista, medida que encerra a longa batalha judicial entre o Santander e o clube, mas levanta sérias preocupações sobre o futuro do patrimônio social e cultural dos banespianos.
O receio de muitos é que, sob o pretexto de criar uma área verde, o terreno de 61,3 mil metros quadrados, acabe cedendo às pressões da especulação imobiliária que avança sem freios pela Zona Sul da cidade. Não é por acaso: basta seguir o caminho até o Brooklin para perceber a quantidade de torres residenciais e comerciais erguidas nos últimos anos, em meio à valorização trazida por novas linhas de metrô e trem. Nesse cenário, o verde e a arquitetura do ECB representam um respiro em meio ao concreto.
Lazer, história e especulação: entenda
O clube, que atende mais de dez mil pessoas, além de empregar cerca de 150 trabalhadores entre funcionários e prestadores de serviço, foi surpreendido em março com uma notificação do Santander, pedindo a reintegração de posse da área sob o argumento de “falta de manutenção” e “insegurança aos frequentadores”. A Justiça, porém, suspendeu a liminar, permitindo a continuidade das atividades.
A decisão da Prefeitura agora muda o tabuleiro: ao desapropriar a área, o poder público retira do Santander o direito de prosseguir na disputa, mas abre espaço para uma nova incerteza. O discurso oficial fala em parque, mas a comunidade teme que o terreno seja redirecionado para negócios privados, descaracterizando a função social que o clube desempenha há décadas.
Investimentos e patrimônio cultural
Segundo a diretoria do ECB, mais de R$ 8 milhões foram aplicados em reformas e reparos nos últimos anos. Foram modernizadas salas para aulas de artes marciais, ballet, pilates e música, entre outras. Restam pendentes apenas as piscinas, cujo custo de manutenção é maior. O espaço possui laudo técnico atualizado e alvará dos Bombeiros.
Além da importância social, o clube guarda relevância arquitetônica: o prédio principal é assinado por Eduardo Corona, ex-sócio de Oscar Niemeyer. Há um pedido de tombamento junto ao Iphan, com apoio técnico da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, que reconhece a relevância histórica e cultural das instalações.
Um símbolo ameaçado
Para os banespianos, o Esporte Clube Banespa é mais do que um espaço de lazer e prática esportiva: é parte de uma memória coletiva que resiste à voracidade do capital financeiro e, agora, às decisões políticas da Prefeitura.
Em comunicado, a diretoria do ECB reafirmou que o clube continua em funcionamento e segue à disposição de seus associados. Ainda assim, a sombra da especulação paira sobre o terreno, e a comunidade promete mobilização para defender a história e o futuro do espaço.
Ficaremos de olho no ECB, palco histórico e referência para a comunidade banespiana, que não pode ser entregue à lógica predatória do mercado sob o manto de decisões apressadas do poder público.
Em breve noticiaremos os desdobramentos do caso.
Letícia Cruz – Afubesp
Foto: Junior Silva