Patrimônio olímpico, Esporte Clube Banespa tem relevância mundial para o esporte brasileiro
Fundado há 94 anos, o Esporte Clube Banespa traz uma história que remonta há tempos, muito antes das famosas integrações esportivas da época do banco. O local, que hoje demanda atenção extra contra as investidas da especulação imobiliária, foi palco de momentos marcantes para a cidade e gestou times vitoriosos nas modalidades de vôlei e futsal, inclusive com premiações olímpicas. Meninos costumavam fazer filas para participar de peneiras sonhando em seguir carreira no clube.
De lá foram alavancados nomes como o de Roberto Rivellino, tricampeão mundial de futebol – que possui escolinha no clube -, os jogadores de vôlei Tande e Nalbert, e o Falcão do futsal, campeão mundial na modalidade. “Praticamente toda a geração de ouro do vôlei nasceu no ECB”, lembra o vice-presidente do clube, Nelson de Souza. Atletas que iniciaram no clube ou reforçaram times também obtiveram conquistas em competições de judô, atletismo, esgrima, basquete, ginástica olímpica, handebol, tênis e xadrez.
Infelizmente, o vitorioso time de vôlei Banespa, rebatizado de “Brasil Vôlei Clube” teve de encerrar atividades em 2010, após a retirada de patrocínio do Santander. Hoje, o banco não patrocina nenhum time do clube. “Temos responsabilidade social, uma história reconhecida mundialmente. Mesmo sendo propaganda para o banco numa geração tão ligada à saúde e ambiente, a gestão não parece se importar”, lamenta Souza.
Rica história e importância cultural
O processo de compra do terreno para o clube teve o envolvimento do Banespa na permuta de imóveis em troca da chácara, que pertencia a um alemão. “Era preciso convencer a ambos – o banco e o proprietário, que não morava no país -, sobre a excelência do negócio. A concretização do negócio estabeleceu em definitivo a permuta da chácara por diversos imóveis pertencentes ao banco. A escritura foi passada em 12 de junho de 1937 e o valor da transação ficou em 320 contos de réis”, conta o livro de 80 anos do ECB. Uma grande festa marcou a posse da sede.
Importante destacar que, na época da fundação, o distrito de Santo Amaro era repleto de chácaras e espaços verdes – bem diferente da paisagem cinza de hoje. O ECB é um dos únicos locais da área que preservam a natureza.
À época, era comum a realização de eventos sociais como festas de debutantes, formaturas, bailes de réveillon e de comemorações do Banespa. O concurso de Miss Banespa ocorria religiosamente desde os anos 1950. Nos anos 1960, chegou a receber shows de artistas renomados, como Toquinho e Jair Rodrigues, e shows variados continuam a animar os salões. A inauguração do gramado sintético dos campos de futebol – construídos em 1947 – contou em 2005 com a presença de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé (1940-2022), que elogiou o “padrão FIFA” do campo.
Mantendo a beleza natural da então Chácara – até hoje os frequentadores podem beber água cristalina e potável da “biquinha”, por exemplo – muito da vegetação foi preservada no processo de construção dos ginásios e quadras. Iniciativas sustentáveis também foram implementadas nos anos 2000.
As instalações do clube contam também com um teatro batizado de “Teatro Paulo Goulart”, em homenagem ao conhecido ator (1933-2014). O próprio, acompanhado da atriz e esposa Nicette Bruno (1933-2020), inaugurou o espaço.
Consolidado como um lugar histórico que proporciona qualidade de vida, socialização e lazer há muitos anos, o ECB precisa ser protegido para escapar da predação imobiliária que o Santander investe numa infundada ação de despejo notificada em março deste ano.
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Letícia Cruz – Afubesp








