Fraude trabalhista no Santander e na Pulse Client Experts é apurada pelo MPT Novo Hamburgo

O Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e de Novo Hamburgo, juntamente com a Fetrafi-RS, participou na terça-feira (23) de audiência no Ministério Público do Trabalho (MPT) de Novo Hamburgo, conduzida pela promotora Mônica Fenalti Delgado. O encontro teve como pauta denúncias de contratações fraudulentas envolvendo o banco Santander e a empresa Pulse Client Experts, integrante do conglomerado espanhol no Brasil. Além das denúncias contra a Pulse, também foram relatados problemas relacionados a funções, jornadas e condições de trabalho em agências do Santander, envolvendo empregados do segmento ES e de outras áreas.
Conforme o sindicato apurou, trabalhadores contratados pela Pulse exercem funções típicas de bancários, mas sem o devido vínculo empregatício com o Santander. A prática caracteriza fraude trabalhista, ao transferir responsabilidades legais do banco para uma empresa do mesmo grupo econômico, em prejuízo dos direitos da categoria. Durante a audiência, dirigentes sindicais e advogados apresentaram casos de desvio de função, assédio e descumprimento da legislação trabalhista. Os representantes reforçaram a gravidade da situação e destacaram a importância da atuação do MPT para que o Santander assuma suas responsabilidades diretas. O Ministério Público deve juntar os elementos apresentados ao inquérito já existente sobre fraudes nas contratações, denunciado pelos sindicatos em 2024.
As entidades sindicais também alertaram para o processo de precarização que vem se aprofundando nos últimos anos. Desde 2019, o Santander criou mais de 30 empresas coligadas e controladas no Brasil, com o objetivo de reduzir custos trabalhistas. Essa estratégia resultou em salários menores, corte de benefícios e fragmentação da categoria, dificultando a unidade dos trabalhadores. Para o dirigente do SindBancários Luiz Cassemiro, os dados são claros. “Os trabalhadores da Pulse Client Experts recebem menos benefícios e cumprem jornadas superiores quando comparados aos bancários. Essa precarização visa reduzir custos à custa de direitos historicamente conquistados pela categoria. Além de afetar diretamente os trabalhadores, essa prática também prejudica a sociedade como um todo, já que a redução de salários e benefícios resulta em menor arrecadação de impostos para a União, comprometendo o financiamento de políticas públicas essenciais”, falou Cassemiro.
Outro ponto destacado foi o fechamento contínuo de agências bancárias de Porto Alegre e do entorno da capital, o que tem abandonado comunidades inteiras e dificultado o acesso da população a atendimento presencial. Clientes seguem pagando altas tarifas de manutenção, mas precisam percorrer quilômetros para encontrar unidades em funcionamento. “Esse modelo fragiliza relações de trabalho e também piora a qualidade do serviço oferecido à população, privilegiando apenas o aumento dos lucros do banco”, acrescentou o dirigente.
Sindicatos reforçam importância do diálogo e da denúncia
A necessidade de manter o diálogo com os órgãos de controle foi reforçada pelo diretor de Saúde do Trabalhador, Diversidade e Gênero do Sindicato dos Bancários e Financiários de Novo Hamburgo e Região, Bruno Louzada. Para ele, a atuação sindical precisa ser persistente: “É importante a persistência em dialogar com as entidades jurídicas, contribuindo para esclarecimentos da atividade bancária, reafirmando e contextualizando as fraudes trabalhistas que vêm ocorrendo no sistema financeiro. Da mesma forma, denunciando as irregularidades dos contratos e jornadas de trabalho que atingem os bancários. Esse diálogo atende aos interesses de todos os trabalhadores. Seguiremos acompanhando, buscando contribuir para a correção e defesa da devida remuneração e direitos dos bancários que hoje se encontram em contratos fraudulentos e discriminatórios frente à atividade desempenhada”, explicou Bruno.
O diretor jurídico da Fetrafi-RS, Luis Carlos Barbosa, também avaliou de forma positiva a audiência, ressaltando que o problema precisa ser enfrentado para não se expandir em todo o setor. “A reunião foi muito produtiva, pois ficou claro nas falas dos dirigentes que o banco Santander, através da terceirização, aumenta o seu lucro e precariza os serviços. Colocamos que esta prática tem que acabar para que não contamine toda a categoria, ou seja, os demais bancos”, afirmou o diretor.
Os sindicatos ainda apresentaram dados que evidenciam a transferência de trabalhadores da estrutura bancária para empresas coligadas, reduzindo postos de trabalho bancários diretos e ampliando apenas empregos precários nas demais empresas do conglomerado.
Linha do tempo da precarização no Santander (2019–2025)
2019 – Criação das primeiras empresas coligadas sob a justificativa de “modernizar operações”.
2020 – Expansão de empresas de tecnologia e atendimento, com denúncias de salários mais baixos e menos benefícios.
2021 – Criação da SX Negócios, fragmentando a categoria e retirando direitos.
2022 – Santander já soma mais de 20 empresas coligadas no país, intensificando contratações fora do ACT bancário.
2023 – Crescem as denúncias de desvio de função em empresas do grupo.
2024 – Santander chega a mais de 30 coligadas; a Pulse (ex-SX Negócios) é denunciada por fraudes trabalhistas.
2025 – Caso chega ao MPT de Novo Hamburgo, com denúncias formais de fraude, assédio e precarização.
Imprensa /Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e de Novo Hamburgo