Alimentação: Nossas ações são nosso futuro

Um alerta para a fome e o desperdício no sistema alimentar
O ato de comer é muito mais que fisiológico, é também cultural e traz impactos para a saúde tanto do corpo quanto do meio ambiente. Olhar para o tema de forma diferente e agir para mudar a situação é urgente. Este é o apelo feito do setor, que celebraram o dia mundial da alimentação (16 de outubro).
A pandemia de covid-19 trouxe revelações estarrecedoras como a crise da saúde, recessão econômica, a desigualdade e agravamento da fome, da desnutrição e da obesidade, sobretudo em populações mais vulneráveis, como ocorre no Brasil. O relatório mais recente da Organização da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO), lançado em julho deste ano, aponta que 49,6 milhões de brasileiros – entre eles crianças – deixaram de comer porque não tinham dinheiro ou tiveram uma redução significativa na qualidade e na quantidade de alimentos ingeridos, entre 2018 e 2020.
A estimativa é que 23,5% da população brasileira tenha vivenciado insegurança alimentar moderada ou severa neste período.Em relação ao último estudo da FAO (2014-2016), são 12,1 milhões de pessoas a mais passando fome por aqui.
Ao mesmo tempo, a forma de produção, consumo e desperdício impactam nos recursos naturais, clima e meio ambiente. “O desafio do Brasil está em mudar a forma como produzimos, como consumimos e como descartamos os alimentos. Estes são três fatores-chave para uma transformação efetiva em nossos sistemas agroalimentares, com uma cultura de consumo mais consciente que diminua o preço dos alimentos, além de práticas agrícolas e pecuárias sustentáveis que nos permitam atender à crescente demanda por alimentos, reduzindo drasticamente o desperdício e as perdas globais”, comenta Rafael Zavala, representante brasileiro da FAO.
Em estado de atenção, em setembro, representantes de todo mundo participaram da Cúpula dos Sistemas Alimentares da ONU, que estabeleceu o cenário para transformá-los em “mais eficientes, resilientes e sustentáveis em cada etapa” até 2030.
Desperdício, uma ferida
Cerca de um terço do que é produzido em alimentos no país é desperdiçado em todo o sistema, segundo a engenheira de alimentos Ana Garbin, da Alimenteia. Ela explica que por trás daquela colher de arroz, que pode ter ido parar no lixo,
estão muitos recursos, como água, energia, esforço do trabalhador. Mas o desperdício ocorre não apenas nesta esfera, mas em todo o percurso: na hora de plantar e colher, no transporte, no comércio e na indústria, e, claro, dentro de casa.
“Trata-se de uma ferida no sistema, em que cada etapa pode ter usado recursos de forma irresponsável, enquanto por outro lado há milhões de pessoas estão passando fome. É uma conta que não bate”, comenta Ana, que completa: “Mas não há um único responsável, é um problema sistêmico, que necessita de políticas públicas e de consciência das pessoas de que o alimento precisa chegar ao destino final e não ficar pelo caminho”.
(Matéria publicada na edição 120 do Jornal Afubesp)
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