Morre Augusto Campos, um lutador de massas
É com muito pesar que a Afubesp informa o falecimento de Augusto Campos, banespiano notável e um lutador incansável dos direitos dos trabalhadores. Ele estava internado em São Paulo, mas descansou nesta madrugada depois de uma longa batalha contra um câncer no fígado. Nos solidarizamos com a família e amigos.
O velório será realizado na quarta-feira 19, a partir das 8h, no salão nobre do Memorial Acrópole Ecumênico, em Santos (Avenida Nilo Peçanha, 50, Marapé). A cerimônia de cremação será às 16h.
Em homenagem ao “velho do rio”, como era carinhosamente chamado pelos mais próximos, relembramos o perfil dedicado a ele, publicado em julho de 2016 no Jornal Dignidade.
Um lutador de massas
Sem medo de desafios, Augusto Campos se tornou referência no sindicalismo brasileiro
Augusto Campos é um dos personagens da luta bancária que dispensa apresentações. Banespiano notável, foi presidente do Sindicato de 1979 e 1985, e um dos responsáveis pela retomada da entidade durante o regime militar. E foi nessa época de repressão que seus sentidos políticos se afloraram: como estudante da USP, experimentou a liberdade de pensamentos, conheceu a realidade da América do Sul e saiu em passeatas contra a ditadura no movimento estudantil.
Mas, provavelmente, todo esse engajamento não seria possível sem a formação familiar. Sua mãe, uma apaixonada por livros, passou o gosto pela literatura ao filho. Já o pai, músico, tocava flauta. Em entrevista em 2014 ao Memória Sindical, Campos contou como foi sua infância e adolescência em Altinópolis (interior paulista).
Jovem, trabalhou como office boy de um cartório. Enquanto estudante, nos findos anos 1960, viajou por países vizinhos. No Chile, entrou em contato com a realidade dos trabalhadores mineiros e suas precárias situações. A atmosfera de descobertas e conhecimento calhou com a situação política do Brasil, com a ditadura instaurada, repressão e a efervescência das lutas sindicais em Osasco e na região do ABC paulista.
Sua entrada no Banespa, no departamento jurídico, aconteceu nesta época. “Éramos estudantes (os funcionários), militantes estudantis e começamos a refletir sobre o banco. Ali começou a militância”, destacou. Como consequência, sua vivência no Sindicato dos Bancários foi crescendo paulatinamente. Campos foi um dos líderes da oposição bancária. A retomada do Sindicato foi de extrema importância para a redemocratização do Brasil, e trouxe elementos característicos da estrutura da entidade até hoje, como o trabalho de mobilização do bancário, os elementos de teatro de rua em manifestações e uma forma de comunicação mais rápida com boletins diários e curtos – a Folha Bancária.
Esta atuação foi fundamental também na construção do novo sindicalismo com a criação da CUT. Num contexto de ditadura onde poderia haver intervenção a qualquer momento, sua certeza era de deveria ser feito algo memorável na gestão. Junto de Luiz Gushiken, Gilmar Carneiro e outros nomes, travaram aluta de massas com objetivo de estimular o pensamento da categoria.
“Meu papel eu fiz naquele momento: colocamos o bancário no cenário nacional”, frisou. Foi diretor representante eleito dos funcionários do Banespa, colocando de oito a dez mil banespianos em assembleia. Apesar disso, considera sua companheira Lucia Mathias – conselheira fiscal do Banesprev – “melhor militante” pela causas do banco. Seus caminhos, inevitavelmente cruzaram com a política: foi eleito vereador de São Paulo em 2000 com quase 19 mil votos.
Hoje é conselheiro emérito da Afubesp e eficaz colaborador da CNAB. O sindicalista que na juventude quis ser embaixador é fascinado pelo estudo do homem e seus pensamentos e costumes. Nesta etapa da vida, dedica seu tempo aos filhos e netos. Augusto, septuagenário, foi buscar na maresia de Santos uma vida mais pacata sem abandonar os livros e, claro, uma boa conversa. “Sempre tive uma paixão muito grande em escutar as pessoas. Em todas as pessoas há uma riqueza, e é preciso aproveitar isso.”
Letícia Cruz, Afubesp