Sessão solene na Alesp homenageia banespianos e resgata a memória da greve de 1985
Quarenta anos após a emblemática greve dos bancários de 1985, que entrou para a história como um divisor de águas na organização sindical e na luta por direitos trabalhistas, os protagonistas daquele movimento voltaram a ser reconhecidos. Entre eles, bancários banespianos que enfrentaram desafios em plena redemocratização do país, como Oliver Simioni, Chico Belo e João Vaccari Neto, homenageados na sessão solene realizada na Assembleia Legislativa de São Paulo, na última sexta-feira (19).
A atividade foi proposta pelo deputado estadual Luiz Claudio Marcolino (PT-SP) e reuniu lideranças sindicais, entre as quais dirigentes da Afubesp, que estiveram presentes para prestigiar a celebração da memória coletiva da categoria.
Se não sacou, é bom sacar… os bancários vão parar!
Deflagrada em setembro de 1985, a paralisação mobilizou trabalhadoras e trabalhadores dispostos a enfrentar os setores mais poderosos do país, como os banqueiros, em um momento de inflação galopante, que corroía o salário dos trabalhadores. O movimento conquistou reajuste de 90,78% e antecipação de 25%, vitórias que extrapolaram os ganhos econômicos, marcando a retomada da dignidade e do protagonismo da classe bancária.
Naquele contexto, o país saía de uma ditadura de 20 anos e iniciava um processo de redemocratização. A coragem dos bancários mostrou que, organizados, os trabalhadores podiam transformar a realidade.
Voz dos banespianos
Durante a cerimônia, o diretor da Afubesp e um dos homenageados, Oliver Simioni, lembrou os bastidores do período e a importância da mobilização para a categoria. “A greve foi muito bem organizada e teve um papel decisivo no fortalecimento dos sindicatos e das organizações de trabalhadores. Conseguimos realizar uma paralisação de dois dias, considerada um movimento vitorioso, que se deu em meio ao processo de redemocratização do país, logo após as Diretas Já e no contexto da eleição de Tancredo Neves e José Sarney”, recordou.
Simioni, membro da Comissão Nacional dos Aposentados do Banespa (CNAB) e ex-diretor representante eleito de 1993 a 2001, também destacou “o brilho de quem acreditou na mudança”.
Já Chico Belo trouxe sua experiência da greve no interior paulista, em Catanduva. “Vivíamos um momento histórico do movimento sindical brasileiro, ainda muito marcado pelo fim da ditadura militar. A maioria dos sindicatos tinha presidentes acomodados. Em Catanduva, quando a greve foi convocada, o presidente da época propôs não aderir de imediato. A oposição sindical, então, assumiu a assembleia e tomou a frente da mobilização. Mesmo com pouca comunicação, conseguimos organizar o movimento, e essa vitória impulsionou a nossa diretoria a vencer as eleições no ano seguinte, o que garantiu inúmeros avanços para os bancários da região”, relatou.
Para os banespianos, a greve de 1985 representou o início de um ciclo de lutas e conquistas que pavimentaram o caminho para a construção da Convenção Coletiva, fóruns de decisão unificados e a participação ativa em espaços estratégicos, como fundos de previdência e negociações nacionais.
As homenagens também se estenderam a nomes que deixaram marcas profundas na trajetória da categoria e que já não estão entre nós. Foram lembrados os históricos banespianos Augusto Campos e Luiz Gushiken, além das saudosas Glória Abdo e Raquel Kacelnikas, que dedicaram suas vidas à organização e ao fortalecimento da luta sindical.
Ontem e hoje
Quatro décadas depois, a celebração da greve ocorre em um momento de novos desafios. A categoria enfrenta mudanças profundas no sistema financeiro, marcadas pelo avanço da digitalização, da inteligência artificial e pela precarização das relações de trabalho. Ao mesmo tempo, cresce a preocupação com os ataques às instituições democráticas e às conquistas sociais.
Nesse sentido, a memória da greve de 1985 é resgatada não apenas como uma lembrança histórica, mas como um farol para a luta atual. Se ontem os bancários foram protagonistas na defesa da democracia contra a ditadura, hoje seguem mobilizados para assegurar direitos, dignidade no trabalho e o fortalecimento do Estado democrático de direito.
Letícia Cruz – Afubesp
Fotos: Junior Silva