Qualidade de Vida: Abordagem policialesca na TV cria angústia e desinformação
Um apresentador da televisão aberta, geralmente de grade vespertina e/ou matutina, interrompe informações corriqueiras e chama um repórter posicionado em frente a uma casa na periferia de uma grande cidade. A pequena rua, com figuração de curiosos e carros policiais por todos os lados, parece suspensa.Mais que depressa, a postura do jornalista muda: ele anuncia um assalto frustrado, que gerou reféns.
Então, a trilha sonora de tensão aumenta, assim como o tom da voz do apresentador. A história de última hora derruba todas as outras coberturas do roteiro, e a história inquieta dura até o último segundo do telejornal – mesmo quando os créditos já sobem na tela. Já viu uma situação como essa?
Para jogar luz sobre isso, o Dr. Mauro Caseri, ouvidor das polícias de São Paulo, e seu assessor, Élcio Fonseca, aceitaram o convite da associação e deram seus pontos de vista sobre a espetacularização da violência na mídia em palestra do Qualidade de Vida, no dia 30 de julho, na sede da Afubesp. Tomado, o auditório participou com perguntas e intervenções.
Élcio reforça que essa rotina questionável segue todos os dias na mídia, com a mesma linguagem superficial e pecando no básico do jornalismo. “Essa espetacularização pode, além de tudo, gerar angústia nas pessoas”, disse. “O objetivo do jornalismo policialesco é prender a atenção, engajar, gerar picos de emoção – e não menos importante: atrair ibope e anunciantes para as emissoras”, cravou.
É importante lembrar que fragmentos da verdade constroem uma não verdade, e ter uma mente crítica e procurar fontes confiáveis em vários aspectos é essencial. A exposição ao tema da violência, além de gerar efeitos para a saúde mental, tira o foco das questões sociais mais importantes.
A segurança pública deve ser construída por todos nós
A verdade nua e crua é que a ação policial é muito mais truculenta nas áreas mais periféricas das cidades do que nas regiões centrais – e ainda quando os atingidos são jovens, pretos, pobres e periféricos. Em 2014, foram mortas aproximadamente 840 pessoas vítimas de intervenção policial no Estado de São Paulo, segundo dados da PMSP.
Mauro Caseri é banespiano e é advogado com ampla experiência na administração pública e em movimentos sociais. Para ele, medidas como a adoção das câmeras corporais, que coíbem em certo ponto o abuso policial, não podem mais ter volta, por mais que certas correntes busquem voltar atrás.
Outra medida que deve ser tomada é a diminuição das chamadas “armas não-letais” pelos policiais. “Não há arma que não seja letal. Cacetetes podem matar. Tasers (armas de choque) podem matar. Sprays de pimenta podem matar pessoas asmáticas, por exemplo. Balas de borracha podem machucar permanentemente e até levar a óbito”. Logo, é preciso mudar essa nomenclatura e dispositivos para “armas menos letais” para que se saiam às ruas nas operações.
A palestra foi transmitida ao vivo:
Letícia Cruz – Afubesp
Fotos: Letícia Cruz