“De peito aberto”
Banespiano é premiado por conto sobre a viagem imaginária de um infartado
O que se passa na cabeça de uma pessoa nos instantes seguintes após sofrer um enfarte? Este foi o tema escolhido pelo banespiano Domenico Canonico para escrever o conto “De peito aberto”, que lhe rendeu o prêmio de literatura do 10º Concurso Talentos da Maturidade, realizado pelo banco Real.
Concorrendo com mais 5.500 obras literárias, o texto de Domenico foi um dos cinco escolhidos. A premiação ocorreu em Recife no final de 2008.
A redação, que na verdade é o primeiro capítulo de um livro ainda em gestação, descreve a imaginária viagem de um indivíduo ao Reino de Lúcifer. A odisséia vai do humor ao drama em suas 11 laudas.
Para redigi-lo, o escritor conta que usou a imaginação, mas sem deixar, é claro, de colocar algumas pitadas de realidade somadas às experiências obtidas em sua vida pessoal e profissional. “90% do que escrevi é invenção, só 10% é mentira”, explica Domenico, usando as palavras do poeta Manoel de Barros.
Sobre o autor
Domenico Canonico é Italiano de nascimento e paulistano de coração, afinal mudou-se para São Paulo com a família quando tinha apenas cinco anos. Sua contratação no Banespa para desenvolver trabalhos na área cultural ocorreu em 1989. Na época, foi responsável por organizar ciclos de cinema, festivais de música, dança e teatro, oficinas de literatura e fotografia, entre outras atividades culturais.
Ele conta que escrever sempre foi uma de suas paixões. “É uma forma de me expressar, criar”, explica o banespiano, que enfatiza: “Preciso sempre criar se não fico desesperado”.
O livro que está em gestação não é o primeiro, entretanto é único com caráter ficcional até agora. Escreveu um sobre turismo social, publicado pela Embratur, outro sobre feira de lazer em São José dos Campos, editado pelo Sesc, além de artigo sobre lazer no Banespa, que integra o livro Lazer e Formação Profissional da Editora Papirus.
Aposentou-se em 2006 como gerente geral de segurança patrimonial, após 17 anos de banco. Desde então, divide seu tempo entre São Paulo e Ubatuba, no litoral norte paulista.
Confira Trecho extraído do conto “De peito aberto”
Claro, claro que eu gostaria de conhecer o reino de Lúcifer. Só não queria demorar muito, pois achava que alguém por aqui poderia sentir minha falta e se preocupar com isso. Virgílio me havia antecipado que, no inferno, havia uma antecâmara e mais nove círculos, cada um correspondendo a um tipo de pena a ser cumprida. Conhecer todos estava fora de questão.
Resolvi escolher um onde pudesse encontrar alguém conhecido. Se não fosse a famosa frase “Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate”* , escrita na entrada, eu juraria estar dentro de um banco. Dezenas de terminais de computador à disposição, saguão espaçoso, cores vivas, com predomínio do vermelho Santander.
Por Érika Soares