Campanha Nacional dos Bancários: nas negociações sobre emprego, banqueiros só dizem “não”
Banqueiros não querem discutir criação de novas vagas, manutenção dos postos de trabalho nem mudança na política de terceirização e se recusam a melhorar as condições de trabalho
O maior patrimônio dos trabalhadores não interessa aos banqueiros. Isso ficou mais uma vez evidente na negociação que debateu as reivindicações relacionadas ao tema emprego. As reuniões entre o Comando Nacional dos Bancários e a federação dos bancos (Fenaban) foram realizadas na tarde da quarta-feira 8 e na quinta 9.
A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira, lembra que os banqueiros já disseram não ao debate sobre o fim das metas e do assédio moral e sobre aumentar a segurança bancária, questões fundamentais para os bancários. “E agora se recusaram a discutir cláusulas para um acordo que garanta empregos e acabe com o descarte de trabalhadores. Também não querem falar em criar mais e melhores postos de trabalho para melhorar a qualidade de vida, a saúde do bancário e o atendimento à população”, destaca.
“Semana que vem começam os debates sobre as cláusulas econômicas do acordo e se os banqueiros continuarem com a mesma postura, pelo sétimo ano seguido vão levar os bancários à greve. De nossa parte, estamos prontos a negociar. O setor está em excelente saúde financeira. Se continuar mostrando descaso com as necessidades de seus funcionários, também estamos prontos para lutar por nossos direitos”, completa Juvandia.
Emprego
A Fenaban até desqualificou os números divulgados pelo próprio setor, via Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), para evitar a discussão sobre emprego.
Os integrantes do Comando demonstraram que o crescimento do lucro, do volume de crédito e de vários outros indicadores apontam o aumento do trabalho do bancário e a necessidade real de mais contratações. E questionaram os negociadores da Fenaban sobre a quantidade de trabalhadores desligados dos bancos todos os anos. “Nesse primeiro semestre foram 18 mil que saíram. Embora haja um número superior de contratações, é um turn over inadmissível em empresas tão lucrativas, que não têm razão para demitir, mas fazem isso para reduzir custos”, afirma a dirigente, citando a Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que coíbe demissões imotivadas, e lembrando que em outros países onde atuam esses mesmos bancos não adotam essa postura.
Contratação
Para a Fenaban, a discussão sobre contratações deve ser feita banco a banco. “Continuaremos fazendo esse debate qualificado, como no ano passado com o BB e a Caixa Federal e que resultou no compromisso de 15 mil contratações. A Fenaban claramente não tem compromisso com o tema”, avalia Juvandia, ressaltando que os bancos geraram somente 0,61% dos postos criados no país no primeiro semestre deste ano, apesar do lucro líquido de R$ 24,7 bilhões no mesmo período.
“Se contratassem o número de bancários que faltam em agências e departamentos, estariam devolvendo à sociedade um pouco da riqueza que tiram dela”, diz Juvandia, lembrando os milhares de correspondentes bancários e terceirizados que prestam serviço para o setor financeiro no Brasil. “São os banqueiros precarizando os empregos e as condições de atendimento para lucrar mais. Dizem que isso é uma questão de gestão e que não pretendem discutir com os trabalhadores. Mas para nós é uma questão de direito que vamos continuar cobrando como parte interessada.”
Terceirização
Outro ponto colocado em debate foi a internalização de serviços que hoje estão terceirizados em boa parte dos bancos e não deveriam estar. “Os bancos até admitem que há setores que podem ser internalizados, mas ainda não informaram quais, em que condições. Comprometeram-se a apresentar essas informações e continuar a discussão na mesa temática que deve ser retomada após o fim das negociações gerais.”
Sempre não
Os representantes dos bancos não quiseram discutir abono assiduidade nem cobrança de juros menores para os bancários, argumentando que isso é uma política de cada empresa em relação ao que oferece ao funcionário. “Mas há bancos que cobram juros de 2% ao mês, o que é altíssimo e dá quase 27% ao ano, para uma Selic de 10,75%. O número é absurdo porque é uma operação totalmente sem risco.”
Não quiseram debater horário de atendimento dos bancos e controle de filas afirmando que a situação tem melhorado muito. “Os bancários estão preocupados com a relação com a sociedade. Somos nós que atendemos o público e sabemos que é preciso ter mais bancários para atender melhor e criar condições melhores tanto para o cliente quanto para o bancário”, salienta Juvandia. O Comando Nacional dos Bancários cobrou novamente dos bancos seminário para discutir o Sistema Financeiro Nacional com toda a sociedade.