“A vida continua”: a inspiradora história de Lady Friend Lelis, banespiana que virou médica aos 60 anos
Com um nome que parece ter saído de um filme, Lady Friend Lelis Marinho — que em tradução literal significa “senhora amiga” — e faz jus ao que carrega no RG. Filha de um professor de inglês e pastor, com pais já falecidos, Lady foi moldada por uma criação pautada em fé, educação e ousadia. E é com esse trio de forças que ela escreve, até hoje, uma das histórias mais vibrantes entre as já publicadas nesse espaço sobre nossos colegas banespianos.
Ela ingressou no banco em 4 de junho de 1979, aos 18 anos. Nascida em Presidente Epitácio, interior de São Paulo, a jovem cheia de sonhos já cursava Farmácia e encontrou no Banespa muito mais que um emprego: “Foi como uma mãe para mim”, lembra com carinho. A carreira bancária lhe rendeu crescimento e autonomia. De assistente de gerente administrativo, passou pelo setor de telex, ordens de pagamento e venda de produtos, até se aposentar como supervisora de caixa já nos tempos em que o Santander já havia tomado o controle.
“Chorei muito no dia da privatização. Amava o Banespa e amo até hoje”, confessa, ainda emocionada.
Mas Lady nunca foi mulher de parar. Em paralelo à carreira no banco, formou-se farmacêutica e atuou por 15 anos na área. Após se aposentar do banco, abriu sua própria farmácia na Bela Vista, em São Paulo. Depois de cinco anos como proprietária, decidiu que era hora de explorar o mundo – literalmente.
Do balcão da farmácia ao jaleco: um novo começo
Durante uma de suas viagens internacionais, sentiu que ainda tinha muito a oferecer. “Sempre tive vontade de ir à África ajudar os necessitados. Mas queria chegar lá com mais experiência.” Foi então que, aos 50 e poucos anos, tomou uma decisão radical: cursar Medicina.
A jornada começou em Cochabamba, na Bolívia, e terminou em Salvador, na UNIFACS, onde se formou médica recentemente, em maio de 2025 — já com mais de 60 anos. “Sempre fui a mais velha da turma e até dos professores. Isso nunca me constrangeu.” Pelo contrário, a inspirava.
Não demorou muito para ser selecionada pelo programa Mais Médicos, e atualmente atua na UBS de Caraguatatuba, litoral paulista. “Sou feliz. Nunca é tarde para recomeçar.”
Multifacetada
Lady também é musicista: toca piano e mantém o gosto pelo atletismo, corridas e caminhadas. O amor pelas artes e pelo esporte acompanha sua leveza de espírito. Com sete irmãos — todos com formação universitária, entre médicos, engenheiros, nutricionistas e advogados — ela lembra com orgulho das palavras do pai, que driblou o preconceito racial e provou que educação é caminho. “Muitos diziam que negros só dão samba e futebol. Mas meu pai colocou todos para estudar. Fugimos da estatística.”
E mesmo com tantas conquistas, mantém os pés no chão e o coração aquecido pelo que virá: “Assim que me sentir preparada, ainda quero ir para a África como médica voluntária. É o desejo do meu coração.”
Aposentadoria não deve ser o fim
Lady é prova viva de que a aposentadoria não é o encerramento de uma vida produtiva, mas uma chance de recomeçar. De se reinventar. De viver novas alegrias com mais autonomia. “A vida após a aposentadoria pode ser tão vibrante e significativa quanto qualquer outro capítulo — é só abrir espaço para o novo”, reflete.
A mensagem que ela deixa é simples, porém poderosa: “Gostaria que todos aposentados soubessem que a vida não para. Podemos ser o que quisermos, mesmo depois de aposentados. Só depende de você.”
Letícia Cruz – Afubesp
Fotos: Arquivo Pessoal