Saúde: Uso de ‘canetas emagrecedoras’ acende alerta sobre riscos a longo prazo
Criadas originalmente para o tratamento do diabetes tipo 2, substâncias como a semaglutida (Ozempic, Wegovy) e tirzepatida (Mounjaro) vêm sendo cada vez mais utilizadas com outro objetivo: emagrecer. A promessa de perda rápida de peso transformou esses medicamentos em um verdadeiro fenômeno de consumo, ainda que a venda só possa ser feita mediante receita médica. No entanto, o entusiasmo com os resultados visíveis esconde riscos importantes que precisam ser considerados.
Tais medicações funcionam reduzindo o apetite e retardando o esvaziamento gástrico. No contexto do diabetes, ajudam a controlar os níveis de glicose. Mas, no contexto da perda de peso, têm sido usados mesmo por pessoas sem a doença. O problema é que os efeitos tendem a desaparecer com a interrupção do uso — o que, na prática, significa que o medicamento precisa ser tomado por tempo indeterminado.
É preciso enxergar o assunto com cautela. A recente aprovação da Anvisa para o uso da tirzepatida (Mounjaro) com finalidade de emagrecimento reforça a tendência de medicalização para fim de emagrecimento.
Essa dependência contínua levanta dúvidas sobre os impactos do uso prolongado, especialmente em indivíduos saudáveis. Até o momento, os estudos de longo prazo ainda são limitados. Não se pode afirmar categoricamente que o uso contínuo seja perigoso, porém, tampouco é possível garantir que sejam totalmente seguros.
Associação a outras doenças
Um estudo recente publicado na revista científica Diabetes Care, da Associação Americana de Diabetes, acendeu um sinal de alerta. Pesquisadores de duas universidades francesas analisaram os dados de 47 mil pacientes e constataram que o uso dessas substâncias por um a três anos foi associado a um aumento significativo no risco de câncer de tireoide.
A incidência de todos os tipos de câncer de tireoide foi 58% maior entre os usuários, e, no caso específico do câncer medular — um subtipo relacionado às células C, as mesmas afetadas pelos medicamentos — o risco foi 78% mais alto. Embora o risco absoluto ainda seja relativamente pequeno (10 casos por 100 mil mulheres e 3 por 100 mil homens), a preocupação se intensifica ao considerar que o câncer de tireoide é o sexto mais comum entre mulheres.
Obesidade faz parte da equação
É importante destacar que a obesidade também é um fator de risco para diversas doenças graves, incluindo câncer, diabetes tipo 2 e problemas cardiovasculares. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade é responsável por cerca de 4 milhões de mortes por ano em todo o mundo. Nesse cenário, medicamentos que auxiliam na perda de peso podem, sim, representar uma ferramenta importante — desde que usados com responsabilidade, acompanhamento médico e indicação correta.
A perda de peso não pode ser tratada como uma corrida de curto prazo. Saúde é um projeto de longo prazo e, nesse caminho, informação é essencial.
Letícia Cruz – Afubesp








