Fusões de instituições financeiras diminuem postos de trabalho
As fusões se multiplicam, os bancos estão cada vez mais sólidos e os empregos evaporam. A atuação parasitária e irresponsável dos banqueiros inviabiliza o crescimento do país
A primeira metade da década passada foi de agressivas transformações tecnológicas nos bancos – sobretudo em seu impacto no nível de emprego. Da segunda metade dos anos 90 até agora, essa agressividade ganhou novos contornos. A sanha por redução de custos e aumento de produtividade de maneira indiscriminada fez das fusões e aquisições aliadas dos chips e das terceirizações na ofensiva dos banqueiros sobre os postos de trabalho.
O setor terminou a década de 80 com pouco mais de 730 mil empregos, chegou ao final de 1995 com 560 mil ocupações e fechou o último ano com menos de 400 mil vagas. E se a onda de fusões desencadeada nos últimos anos ajudou os banqueiros a solidificar o sistema e seus resultados, em nada serviu para garantir os postos de trabalho, muito menos gerar novas vagas: os empregos continuaram evaporando.
O Itaú é um exemplo eloqüente desse fenômeno. Entre 1995 e o ano passado, o banco abocanhou nada menos que sete instituições (veja quadro). Somados, os postos de trabalho de cada um desses bancos no momento em que foram absorvidos chegavam a 24,7 mil. Entretanto, aos 34,7 mil empregos controlados pelo Itaú em 1995, antes dessas operações, foram acrescidos hoje apenas 7 mil. Nada menos que 17,7 mil postos de trabalho desapareceram.
No Bradesco, que praticou cinco grandes aquisições nos último seis anos, processo semelhante pôde ser notado no ano passado. Em junho de 2003, o banco e suas empresas controladas contabilizavam 78,1 mil postos de trabalho, incluídas as contas do BCN, Baneb, Boavista, Mercantil de São Paulo e BVB. No final do mesmo ano, eram 75,7 mil. Isto é, em apenas seis meses, o equivalente a mais da metade dos empregos do BBV, última aquisição, desapareceu.
O mesmo extermínio deu-se com as incursões do espanhol Santander. Ao iniciar sua ofensiva no país, em 1997, com a compra do Banco Geral do Comércio e do Noroeste, esses bancos somavam de 7,1 mil postos de trabalho. Nos passos seguintes, vieram as aquisições do Meridional e do Bozano, Simonsen, que empregavam juntos em 2000, nos momentos das incorporações, 4,3 mil pessoas. Das operações com esses bancos de menor porte, o Santander partiu de uma situação que envolvia os empregos de 11,4 mil pessoas para uma situação atual de menos de 5,5 mil postos de trabalho.
Com a privatização do Banespa, a liquidação não foi diferente. O banco já havia passado por um tormentoso processo de enxugamento durante a intervenção/federalização protagonizada pelo governo FHC, quando os empregos caíram de 34 mil para 21 mil. E contra esse número de vagas encontradas pelo Santander no momento da privatização, em 2000, este continuou arrasador: estima-se que tenham restado hoje menos de 13 mil. Assim, chegam a aproximadamente 14 mil o contingente de empregos eliminados pelo Santander no Brasil em seis anos.
A secretária de finanças do Sindicato, Ana Maria Érnica, considera que a omissão das autoridades públicas durante a era FHC deu extrema liberdade aos bancos. O processo de privatização do Banespa, por exemplo, não previu nenhuma preocupação com o emprego. “Hoje, acreditamos que se nos organizarmos para exigir do Santander e do poder público postura semelhante à que se pôde conferir na Espanha podemos reverter significativamente a situação do emprego”, avalia.
Ela cita, por exemplo, a reordenação dos postos de trabalho obtida praticamente com programas voltados para antecipação e programas de incentivo a aposentadorias, combinada com valorização dos empregos, melhorias do contratos e condições de trabalho, inclusive com a absorção da mão-de-obra de terceirizados e estagiários. “O Santander não só tem de parar com as demissões como tem condições e obrigação de promover novas contratações”, afirma Ana Érnica. “Exigimos paridade com a prática do banco na Espanha. No Brasil, a convivência entre os bancos é cartelizada e socialmente irresponsável, e com ela o Santander jamais competiu, apenas aderiu. Essa postura tem de ser revertida, sob pena de invibializar o crescimento do país.”
Para o presidente do Sindicato, João Vaccari Neto, o quadro poderia ter sido ainda pior não fossem as ações de reação protagonizadas pela categoria nos últimos anos. “Desde o início dos nos 90, a conjuntura econômica do país com desemprego generalizado em todos os setores, impôs aos trabalhadores uma condição defensiva, fragilizando-os nos processo de negociação”, avalia. “Mesmo assim, conseguimos com muita pressão sobre os bancos retardar, reverter e até mesmo impedir muitas medidas de enxugamento.”
De acordo com Vaccari, a categoria bancária tem de se conscientizar de que a única forma de combater esse espírito socialmente irresponsável dos banqueiros é cerrar fileiras e fortalecer a organização dos trabalhadores em torno de seus sindicatos. “Com a participação de cada bancário – com denúncias, presença nas reuniões e eventos organizativos e apoio às manifestações – o Sindicato se fortalece no processo de negociações que pretende estabelecer com o setor bancário, inclusive com maior intervenção do poder público, com vistas a construir um ambiente de geração de empregos, já que nenhum setor dispõe de condições mais favoráveis que o financeiro para isso.”
Para se ter uma idéia da irresponsabilidade social dos bancos, o conjunto do sistema financeiro tem reduzido drasticamente a participação dos recursos humanos na distribuição de seus resultados. Segundo dados da própria Febraban, no final de 2000, pouco mais de 60% da “colheita” dos bancos foram destinados aos recursos humanos – salários, encargos sociais, benefícios etc. No mesmo ano, a participação do governo no recebimento desses valores – na forma de impostos, contribuição social e INSS recolhido sobre os salários – ficou em 22,2%. E o rendimento conferido aos acionistas teve participação de 17,3%.
Ao final de 2002, a participação dos recursos humanos havia caído para 42,3%; a do governo estava estabilizada em 23,1%; enquanto a dos acionistas ficou em 34,7%. Traduzindo: o crescimento e a solidez dos resultados do sistema financeiro significaram menos empregos e menos custeio com recursos humanos, os repasses aos cofres públicos não aumentaram e os acionistas, ou seja, os banqueiros ganharam em dobro.
fonte: Revista dos Bancários/Seeb SP






