Ziraldo é o mais novo cidadão paulistano
Em cerimônia realizada ontem à noite, a Câmara de Vereadores do Município de São Paulo concedeu o título de cidadão paulistano ao jornalista, cartunista e escritor Ziraldo Alves Pinto. Admiradores, amigos e familiares compareceram ao evento para homenagear o artista mineiro, que foi um dos criadores de O Pasquim e o “pai” de vários personagens da literatura infantil, entre os quais Menino Maluquinho, Turma do Pererê e Menina Nina.
Diversas pessoas ocuparam a tribuna do Plenário Primeiro de Maio para dar boas vindas ao novo cidadão paulistano. O cartunista Paulo Caruso, irreverente como sempre, aproveitou a oportunidade para, conforme suas próprias palavras, “puxar o saco do amigo Ziraldo”. “O escolhi como ídolo há muitos anos e essa homenagem de hoje mostra que eu não errei.” Entretanto, ele fez um pedido sério ao novo filho de São Paulo. “Além de toda essa bajulação, da qual também faço parte, gostaria que o Ziraldo nos ajudasse, com sua criatividade, a resgatar a auto-estima das pessoas que moram nessa cidade.”
A criatividade, aliás, foi o expediente que o representante da Sosaci (Sociedade dos Observadores de Saci) Vladimir Sacchetta encontrou para demonstrar sua admiração pelo criador da Turma do Pererê. Depois de dizer que Ziraldo “é um símbolo da resistência cultural brasileira (contra os super-heróis e os personagens dos filmes e desenhos importados) e uma referência única para as crianças do Brasil”, ele presenteou o escritor com uma carapuça (gorrinho) vermelha, um cachimbo, uma camiseta e um bonequinho do saci. “Parabéns, cidadão Pererê, sacis e saciólogos de todo o mundo te abraçam no dia de hoje”, concluiu.
Iniciativa uniu vereadora e Comitê Betinho – A homenagem foi uma iniciativa conjunta da vereadora Tita Dias (PT) e do Comitê Betinho dos Funcionários do Grupo Santander Banespa. “Durante o lançamento da logomarca do aniversário de 450 anos da cidade de São Paulo, o Ziraldo disse que estava muito orgulhoso de ter sido o presidente do júri que escolheu o símbolo vencedor”, contou a vereadora, explicando aos presentes como nasceu a proposta. “Ele lembrou que foi tema de uma escola de samba da capital paulista e eu lhe falei que só faltava agora ser cidadão paulistano”, continuou Tita, que, na seqüência, narrou a feliz coincidência: “No dia seguinte, o Zé Roberto Barboza, do Comitê Betinho dos Funcionários do Santander Banespa, me ligou, dizendo que o Ziraldo havia participado da inauguração de uma brinquedoteca na Zona Leste de São Paulo e que ele era uma pessoa muito legal e merecia algum tipo de homenagem por parte da cidade.”
Por sua vez, José Roberto Barboza, coordenador do Comitê, destacou o humanismo do homenageado. “Quando soube da finalidade do projeto das brinquedotecas – que é transformar os ambientes frios e duros dos hospitais em locais mais alegres que ajudem na recuperação das crianças internadas –, ele topou na hora ser o padrinho de uma delas.” Barboza relacionou a postura do artista, em defesa da democracia e da cidadania, com a de outro mineiro ilustre que inspirou a criação do próprio Comitê. “São Paulo e o Brasil devem muito a Herbert de Souza, o Betinho, e ao Ziraldo, pois eles não se calaram diante das injustiças e perseguições do regime militar.”
Além de José Roberto Barboza, diversos representantes dos funcionários do Santander Banespa prestigiaram o evento, entre os quais o presidente da Afubesp (Associação dos Funcionários do Grupo Santander Banespa), Aparecido Sério da Silva, o diretor financeiro da Cabesp, Paulo Salvador, e o diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo José Osmar Boldo.
Emoção e pernas bambas – Depois de receber o título de cidadão paulistano, o atual editor de O Pasquim 21 começou a agradecer aos presentes com as seguintes palavras: “Gente, do fundo do coração, está muito difícil falar.” Dizendo-se emocionado com o evento, lembrou o episódio em que ele e o ator José Lewgoy receberam a medalha Tiradentes das mãos de Itamar Franco. “Quando eu olhei para o Lewgoy, uma das pessoas mais fleumáticas (serenas) que eu já conheci, ele estava aos prantos”, contou, tentando externar o seu próprio sentimento. “Não dá para agüentar, estou com as pernas bambas.”
Na seqüência – mais relaxado –, contou histórias engraçadas e fez várias brincadeiras. “Realizaram um filme sobre minha vida, depois fui tema de escola de samba e, agora, a Tita e o Comitê Betinho dos Funcionários do Santander Banespa, muito carinhosos comigo, me dão o título de cidadão paulista”, pontuou, antes de questionar com um sorriso nos lábios: “Será que vou morrer?”.
Por fim, afirmou sem cautelas: “Acho que mereço esse título… mas não pelas razões aqui mencionadas e sim porque finquei o restante de minha vida nessa cidade”. Para comprovar o que acabara de dizer, apontou para seus familiares que estavam no plenário. “Tenho três filhos que escolheram construir suas vidas aqui e seis netos paulistanos, e eles são testemunhas que eu amo São Paulo.”
fonte: Afubesp