VEJA ARTIGO DE ALOYSIO BIONDI SOBRE A VENDA DAS AÇÕES DO BANESPA
“Não foi na calada da noite. Nem por isso, a manobra foi menos odiosa. Sabia-se que o governo federal estava pronto para anunciar um novo prazo, de até três anos, para os Estados pagarem uma parcela de sua dívida, renegociada com o Tesouro, e que vencia anteontem. São Paulo seria o Estado mais beneficiado, já que era também o responsável pelo maior débito a ser liquidado, na faixa dos 2,0 bilhões de reais.
O ‘‘perdão’’ provisório realmente foi anunciado. Mas São Paulo ficou fora dele. Por que? Espante-se: à tarde, o governador Mário Covas resolveu ‘‘liquidar’’ aquela dívida, simplesmente ‘‘entregando’’ o Banespa ao governo federal, para que ele seja privatizado no próximo ano.
Argumento para a doação surpreendente? Pura e simplesmente, a afirmação de que ‘‘São Paulo não quer dever ao governo federal’’… A explicação, de tão cretina, é um (outro) insulto à inteligência dos paulistas. O governador Mário Covas é engenheiro, tido e havido como de largos conhecimentos, no passado. A menos que esteja sofrendo de amnésia, deve saber, tanto quanto qualquer chefe de família ou dona de casa, que há momentos em que conseguir novo prazo para pagar qualquer dívida é ultra-vantajoso.
No caso do Banespa, o adiamento da dívida e da entrega do banco certamente seria considerado um presente dos céus pelo homem público Mário Covas que existiu no passado. Por que? Como qualquer observador atento já percebeu, a verdade é que vem crescendo, o debate sobre as distorções e negociatas das privatizações: o próprio governo FHC, agora, considera absurdos e quer revisão dos critérios para aumento de tarifas de energia e telefone (note bem: a mudança de atitude só surgiu porque o governo está preocupado com a inflação; se não fosse isso, a ladroeira continuaria).
Há a revolta contra a devolução do Imposto de Renda e ‘‘ágios’’ (‘‘mamatas’’ explicadas por esta coluna na semana passada). Estouram críticas contra as ferrovias privatizadas. E assim por diante. Em outras palavras, acumulam-se os sinais de que o processo de privatização vai sofrer revisões, e as ‘‘vendas’’ já não serão tão indiscriminadas. Isto significa que o governador Mário Covas , com o adiamento da dívida, poderia ganhar tempo para esperar a rediscussão da privatização do Banespa, ou as condições em que ela seria feita.
Por que ele fez exatamente o contrário? Por que entregou o Banespa apressadamente ao governo FHC da noite para o dia? Quem é afinal o indivíduo Mário Covas que hoje ocupa o Palácio dos Bandeirantes, que tudo decide sorrateiramente, ditatorialmente, sem abrir espaço para que a sociedade debata tema de seus interesses, ligados ao patrimônio coletivo? Ele é o oposto do homem público que mereceu milhões de votos dos paulistas ao longo de sua carreira. Que motivos o levaram a dar uma cusparada na face dos paulistas, como é o caso dessa inopinada doação do Banespa? “
fonte: AFUBESP