Tempo x metas: vilões na vida dos bancários
Pressão por metas gera ansiedade, depressão, síndrome do pânico e dá espaço para o assédio moral.
A idéia de que tempo é dinheiro rege a gestão das instituições financeiras nas relações com os trabalhadores. E se tornou um perigoso tipo de pressão para atingir metas, que vem causando adoecimento mental nos bancários. O assunto é grave e delicado e o Sindicato dos Bancários de São Paulo. Osasco e Região acompanha de perto o drama de muitos funcionários de bancos, empresas que para atingir metas utilizam regras que amedrontam, pressionam e adotam procedimentos inadequados, tentando obter o máximo de produtividade de cada funcionário.
A psicanalista Maria Rita Kehl, em entrevista à edição nº 24 da Revista do Brasil, sobre como a sociedade lida com o tempo, disse que “o capitalismo se considera o senhor do tempo. Essa idéia do ‘tempo é dinheiro’ que rege a nossa vida é uma brutalidade. O tempo é o tecido da nossa vida”. Então, se você negocia a matéria-prima da sua vida, valendo dinheiro, a vida se desvaloriza. Se a vida se desvaloriza, para que viver? A depressão tem um pouco a ver com isso”. A frase de Maria Rita retrata muito bem a rotina dos trabalhadores bancários.
“Todas essas atitudes dos gestores resultam em crises de pânico, depressões e outros problemas de saúde que afastam trabalhadores da empresa e causam transtornos muitas vezes irreversíveis em suas vidas”, diz o secretario de Saúde, Walcir Previtale.
Segundo levantamento do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), os trabalhadores do setor financeiro são os que mais se afastam por adoecimento mental. O Sindicato vem denunciando com freqüência práticas que pressionam os funcionários para vender produtos e atingir metas. “Os trabalhadores devem ficar atentos ao comportamento de seus gestores, denunciar ao Sindicato práticas psicologicamente brutais de tratamento dentro das empresas”, completa Walcir.
Essas práticas das empresas levam ao isolamento dos trabalhadores e ao esgarçamento da teia social e de solidariedade entre eles, abrindo espaço para o assédio moral.
Para a psicóloga Lis Andréa Soboll, autora de uma tese de doutorado sobre a saúde mental dos bancários, é considerado assédio moral um conjunto de atitudes e comportamentos antiéticos, realizados de forma premeditada, repetitiva e prolongada, que tem como objetivo destruir as redes de comunicação, atingir a dignidade, perturbar a realização do trabalho, pressionar a pessoa a chegar a abandonar suas atividades ou se isolar. Sua tese ressalta que essa violência caracteriza-se pelos abusos de gestão, utilizada como estratégia no trabalho.
Atenção – O recado para os bancários é prestar atenção em seu próprio comportamento e em sua saúde. Alguns sintomas, tais como dificuldade para dormir, sonhar com situações sem saída, desânimo, falta de coragem para enfrentar os dias de trabalho, fadiga, oscilações de humor, sensação de constante ansiedade, podem ser indicadores de sofrimento mental relacionado ao trabalho. “Os bancos devem investir mais na saúde do trabalhador. Pausas no trabalho, maneiras organizacionais que façam o trabalhador render ao invés de gerar cada vez mais estresse são boas e inteligentes saídas”, alerta o secretário.
Se o trabalhador percebe problemas como este, ele pode procurar um diretor do Sindicato, de seu banco. O trabalhador será encaminhado para a secretaria de Saúde, onde os problemas são discutidos e encaminhados individual ou coletivamente, com a assessoria de saúde e jurídica, para profissionais específicos.
fonte: Gisele Coutinho – Seeb SP