Só 8% dos negros ocupam cargos de chefia nos bancos
Banqueiros desprezam condenação do Ministério Público no Trabalho de discriminação racial nos bancos, e mantêm negros nas funções de menores faixas salariais.
O Brasil foi o último país das Américas a abolir o tráfico negreiro e mantém, em mais de cinco séculos de história, uma prática racista que ainda impõe, à margem da sociedade, a milhões de negros. Mas, mesmo os negros e negras que conquistaram um espaço no mercado de trabalho, ao longo da luta de entidades não-governamentais e comunidades contra o preconceito racial, as melhores funções e os melhores salários ainda apresentam uma exigência: ser da raça branca. Nos bancos a situação é ainda mais grave.
Rostos brancos
Desde 1996, os bancários e sindicatos filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) lutam contra o racismo nos bancos. Na campanha salarial de 2000, a categoria foi a primeira a conquistar, na mesa de negociação, após intensa pressão sobre os patrões, uma cláusula que estabelece a igualdade de oportunidades de ascensão profissional independentemente de raça, origem social, sexo, religião e orientação sexual. Apesar disso, os bancos ainda praticam a mesma discriminação racial de sempre. Os negros ocupam apenas 12,7% dos postos de trabalho no setor financeiro. Destes, apenas 8% estão nos cargos de chefia.
Negras
A mulher negra é ainda mais discriminada. Somente 3% delas estão em funções de chefia (os homens negros somam 5%). As mulheres brancas respondem por 38% dos cargos mais bem remunerados e os homens brancos representam 54% deste total. “Há anos denunciamos a discriminação nos bancos. A sociedade precisa tomar ciência desta realidade lamentável, pois praticamente nada foi feito pelos banqueiros para ajudar a mudar esse quadro, que é mais grave em nossa categoria do que em qualquer outra”, disse o presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Vinicius de Assumpção. Dados do Dieese comprovam este triste quadro nos bancos.
Enquanto os negros representam 30% do mercado de trabalho incluindo todas as categorias, no ramo financeiro eles são apenas 12,7% do total. “Além das cotas nas universidades, seria fundamental aumentar as cotas dos negros nos concursos públicos e também nas empresas privadas. Consolidar a luta pela igualdade racial e resgatar a história dos afro-descendentes é garantir a soberania do povo brasileiro”, disse Verton da Conceição, diretor do Sindicato e pós-graduado em História da África pela Universidade Cândido Mendes. Os movimentos sociais organizados que defendem a igualdade racial reivindicam uma cota de 30% nas universidades e em concursos públicos.
Mas o problema está em todas as categorias e regiões do país e a discriminação é de raça e sexo. Os dados da segunda edição da pesquisa “Retratos da Desigualdade”, realizada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) em parceria com o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), mostram isso de forma clara. No mercado de trabalho, a situação de negros e mulheres piorou em praticamente em todos os indicadores.
Enquanto o salário médio mensal das mulheres brancas é de R$561,70, o das negras se limita a R$290,50, pouco menos que a metade. Entre os homens a diferença também é gritante: média de R$931,50 para os brancos e R$450,70 para os negros. O Brasil ainda está distante de uma educação pública integral, democrática, gratuita e de qualidade. Os brancos têm, em média, 7,7 anos de estudo, enquanto os negros apenas 5,8 anos. O analfabetismo atinge 7% dos brancos e 16% dos negros, mais que o dobro.
Punição
No ano passado, o Ministério Público do Trabalho (MPT) denunciou o setor mais lucrativo do país, os bancos, por praticar discriminação racial. Após longo investigação, o MPT concluiu o que os bancários já sabiam: são raros os negros que conseguem chegar aos cargos de melhor salários (6,25%) e os brancos sempre possuem nível salarial melhor. Mesmo quando negros e brancos têm qualificação acadêmica semelhante a discriminação permanece.
Dos funcionários de mesmo nível escolar, apenas 13,16% dos negros conseguem as funções mais bem remuneradas e de chefia. Os dados do relatório do MPT incluíram pesquisa no Bradesco, Real ABN Amro, Itaú e HSBC.
fonte: Feeb RS e Seeb RJ