Sindicato repudia ação da polícia após assalto
Carta enviada a autoridades critica vazamento de informações à imprensa, que colocam em risco a vida de bancários vítimas de assaltos
O Sindicato de São Paulo, Osasco e Região enviou na segunda-feira, 18, uma carta ao Ministério da Justiça e à Corregedoria da Polícia Civil exigindo providências com relação ao vazamento por parte da polícia de informações sobre assaltos a agências bancárias. A falta de sigilo quanto ao depoimento das vítimas e ao conteúdo das fitas dos circuitos de TV internos das agências assaltadas tem exposto a segurança e até mesmo a vida de bancários e de suas famílias.
O caso mais recente aconteceu após o assalto do dia 12 à agência do Santander da Avenida Amador Bueno da Veiga, na Penha, que teve ampla cobertura da mídia dado o grau de violência envolvido.
No mesmo dia, telejornais noturnos divulgaram a gravação do sistema interno de segurança do banco, mostrando a ação dos criminosos e expondo sem autorização os rostos dos funcionários da agência para todo o país. Dado o fato de que o banco entregou cópia da fita apenas a Policia Civil, há fortes indícios de que a gravação tenha sido repassada irregularmente por policiais às redes de televisão.
Entrevista – No dia seguinte, foi possível ler nos jornais o teor da entrevista concedida pelo delegado-assistente do 10º Distrito Policial, Richard Serrano, com informações sigilosas captadas durante depoimento dos bancários vítimas do assalto.
Entre outros detalhes, o delegado repassou à imprensa a informação de que os criminosos teriam levado até a agência uma foto da casa da gerente para obrigá-la a abrir a porta. Segundo Serrano, eles teriam dito que a família dela estaria em segurança se ela os obedecesse e abrisse o cofre.
Em trecho da reportagem publicada no dia 13 no caderno Cotidiano, do jornal Folha de S.Paulo, lê-se: Richard Serrano (…) disse que os criminosos levaram uma granada e uma foto da casa da gerente para obrigá-la a abrir a porta.(…). “Mas, em vez de desativar o alarme, a gerente ligou o alerta de pânico e acionou a PM, que chegou 15 minutos depois”, afirmou Serrano.
“O fato, além de expor a gerente à vingança dos criminosos, que sabem onde ela mora, tornou pública e conseqüentemente de conhecimento dos assaltantes, a atitude de desobediência da bancária às ordens do criminoso, que talvez só tenha ficado sabendo pelos jornais que a polícia havia sido acionada pela gerente”, lê-se em trecho da carta enviada pelo Sindicato.
“Solicitamos às autoridades competentes providências para evitar que fatos lamentáveis como este voltem a ocorrer. Não compreendemos de que forma pode ser do interesse das investigações da polícia tornar públicos detalhes das ações criminais quando isso coloca em risco a vida dos cidadãos envolvidos e de suas famílias”, afirmou na carta o presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino.
Leia abaixo a íntegra da carta enviada ao ministro da Justiça:
São Paulo, 18 de agosto de 2008
Protocolo nº o142/2008
Ao
Ministério da Justiça
Ilmo.sr.Ministro
Dr.Tarso Genro
Como representantes dos bancários de São Paulo, Osasco e de mais 15 municípios da região oeste da Grande São Paulo, vimos por meio desta manifestar nosso repúdio a atitudes de membros da Polícia Civil paulista durante recente episódio de assalto à agência bancária da capital.
O assalto em questão aconteceu no dia 12 de agosto, em agência do banco Santander localizada na Avenida Amador Bueno da Veiga, no bairro da Penha (zona leste). O fato foi amplamente noticiado pela imprensa, dado o grau de violência envolvido no episódio.
Seria mais um dos alarmantes casos de violência a que os bancários e clientes da capital estão expostos, em grande parte por conta do descuido dos bancos em cumprir as normas federais de segurança, não fosse a postura irresponsável assumida pelo delegado-assistente do 10º Distrito Policial, Richard Serrano.
O funcionário público em questão repassou para a imprensa informações sigilosas captadas durante depoimento dos bancários vítimas do assalto. Nos jornais do dia 13, foi possível ter acesso a informações que colocaram em risco a segurança desses bancários e de suas famílias, informações essas repassadas durante depoimento na delegacia pelos funcionários do Santander.
Em entrevistas aos jornalistas, o delegado repassou a informação de que os criminosos levaram até a agência uma foto da casa da gerente para obrigá-la a abrir a porta. Eles teriam dito que a família dela estaria em segurança se ela os obedecesse e abrisse o cofre. Em trecho da reportagem publicada no dia 13 no caderno Cotidiano, do jornal Folha de São Paulo, lê-se:
Richard Serrano, delegado-assistente do 10º Distrito Policial, na Penha, disse que os criminosos levaram uma granada e uma foto da casa da gerente para obrigá-la a abrir a porta.(…). “Mas, em vez de desativar o alarme, a gerente ligou o alerta de pânico e acionou a PM, que chegou 15 minutos depois”, afirmou Serrano.
Textos de teor idêntico foram publicados em outros veículos de comunicação na mesma data. O fato, além de expor a gerente à vingança dos criminosos, que sabem onde ela mora, tornou pública e, conseqüentemente, de conhecimento dos assaltantes, a atitude de desobediência da bancária às ordens do criminoso, que talvez só tenha ficado sabendo pelos jornais que a polícia havia sido acionada pela gerente.
Gravação
Outro fato grave foi ter sido tornado público o conteúdo da fita do sistema de segurança da agência, com a gravação de todo o assalto. A gravação pôde ser vista nos telejornais das grandes redes de televisão naquela mesma noite. Essa fita foi originalmente solicitada pela polícia ao banco, que atendeu ao pedido. O banco forneceu cópia da gravação apenas e tão somente aos policiais. Sabemos que o Santander tem por política não provocar publicidade sobre assaltos para preservar a integridade dos bancários e da instituição. Dado isso, há fortes indícios de que uma cópia da fita foi cedida também pela polícia às emissoras de televisão, novamente expondo sem autorização os bancários que tiveram a infelicidade de estar presentes na agência no momento do crime.
Pedimos dos senhores, responsáveis pela atuação da polícia, providências para evitar que fatos lamentáveis como este voltem a ocorrer. Não compreendemos de que forma pode ser do interesse das investigações da polícia tornar públicos detalhes das ações criminais quando isso coloca em risco a vida dos cidadãos envolvidos e de suas famílias.
Carta com mesmo teor enviada para a Corregedoria da Policia Civil de São Paulo,
Ilmo.Sr. Corregedor – Dr. Francisco Alberto de Souza Campos
fonte: Danilo Pretti Di Giorgi – Seeb SP