São Paulo tem maior deflação em cinco anos
Prever inflação nos últimos meses se tornou uma atividade muito difícil. E foram poucos os que estimaram taxas próximas das que realmente estão ocorrendo. A inflação, que já tinha driblado os analistas em maio, voltou a confundi-los novamente em junho. Os dados divulgados ontem pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) indicaram deflação de 0,20% – a maior nos últimos 64 meses. No início de junho, as estimativas apontavam até para a alta dos preços.
A deflação de junho veio basicamente do campo. Nas listas das maiores quedas de preços da Fipe, as 16 principais estão relacionadas com produtos agropecuários, inclusive a gasolina, que teve recuo devido ao álcool misturado ao combustível.
Julho, um período previsto inicialmente de recuperação das taxas, pode surpreender outra vez. Os preços dos agrícolas continuam indicando queda, se bem que em ritmo menor, e os reajustes das tarifas públicas vieram abaixo do que se esperava, principalmente o da energia. Outro comportamento imprevisto é o do vestuário, que, devido ao pouco frio, mantém preços em queda.
Por causa disso, Paulo Picchetti, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe, não descarta nova deflação neste mês, o que não é usual para este período do ano.
A inflação deste ano está apresentando comportamento bem diferente do dos anteriores. A taxa do primeiro semestre foi aquecida e a do segundo deverá ser menos acentuada. Isso é anormal.
Outro comportamento que destoa na inflação deste ano é que a taxa acumulada em 12 meses vem caindo. É a primeira vez que isso ocorre no IPC da Fipe, à exceção de 2002. E aquele ano guarda uma grande coincidência com 2005.
Após registrar 7,5% no acumulado de 12 meses até fevereiro de 2002, a inflação foi recuando e fechou junho em 5,75%. Naquele ano, no entanto, o desenrolar das eleições -que levaria Lula à Presidência da República- teve forte impacto na economia e a inflação fechou dezembro em 9,9%.
Neste ano, a taxa acumulada em 12 meses, que era de 7,94% em abril, recuou para 6,51% no mês passado. Se os problemas políticos atuais respingarem na economia, mais uma vez a taxa de inflação pode surtir os mesmos efeitos de 2002. Picchetti diz que, “neste ano, a economia parece blindada, mas é preciso esperar para ver”.
Cenário bom – Sem olhar para o lado político, o econômico mostra um cenário favorável para a inflação nos próximos meses. A taxa média mensal de alta dos preços deve ficar próxima de 0,30% até o final do ano.
A maior pressão inflacionária do segundo semestre virá das tarifas públicas, que estão com evolução bem menor neste ano. No ano passado, as cinco tarifas já definidas (pedágio, telefone, cartão telefônico, energia elétrica e passagens para fora da cidade -inclui ônibus, trem e avião) geraram inflação de 0,83%. Neste ano, a taxa pode ser de apenas 0,12%.
Dois motivos levaram a essa taxa menor das tarifas: um IGP-M menor e a queda nas tarifas de energia para os consumidores residenciais. O recuo da taxa do IGP-M foi provocado pelas quedas das commodities e do dólar.
Essa queda nas taxas dos IGPs (IGP e IGP-M, ambos da FGV) duram, no entanto, até que a economia sofra um novo choque de oferta. Ele cita o petróleo já sendo negociado a US$ 80 por barril no mercado futuro (contratos para dezembro) em Nova York.
fonte: Folha de S.Paulo – Mauro Zafalon (6/7)