Santander está fora da disputa pelo BankBoston no Brasil
Matéria publicada no jornal Valor Econômico desta terça-feira, dia 25, aponta que o Santander está fora da fora da disputa pelo controle das operações brasileiras do Bank Boston, que hoje são do Bank of America (BofA).
De acordo com o jornal, o banco espanhol teria recusado a oferta sob a alegação de que sua exposição ao Brasil já era elevada.
Veja abaixo a íntegra da matéria:
BofA terá 10% do capital total do Itaú
O Bank of America (BofA), segundo maior banco dos Estados Unidos, terá de 8% a 10% do capital total do Itaú se for concretizada a venda das operações do BankBoston no Brasil, Chile e Uruguai para o grupo brasileiro. Até agora, as conversas indicam que o negócio deverá ser feito por troca de ativos. O BofA, que controla o BankBoston, receberia ações preferenciais do Itaú em pagamento. O valor da transação é de US$ 3 bilhões e inclui, além do Boston nos três países latino-americanos, o private banking de Miami (EUA), que tem US$ 4 bilhões sob sua administração. As operações do Boston na Argentina foram vendidas pelo BofA no ano passado ao sul-africano Standard Bank.
A marca BankBoston não deve entrar no pacote e continuará de propriedade do BofA. O Valor apurou que Itaú e BofA costuram um acordo de acionistas que dará à instituição americana o direito de indicar um membro do conselho de administração. O negócio prevê ainda que o BofA terá a opção de dobrar sua participação no Itaú em até dois anos. O estatuto do banco brasileiro já prevê que, em caso de alienação de controle, detentores de ações preferenciais – que será o caso do BofA – têm direito a receber 80% do valor pago ao controlador (“tag along”). Procurados pelo Valor, Itaú e BankBoston informaram que não comentam rumores de mercado.
Embora a negociação com o Itaú esteja na reta final, Bradesco e o espanhol BBVA têm interesse no BankBoston e tentam interferir no processo. O BBVA tem uma participação de 5% no Bradesco, fruto da venda de sua unidade brasileira em 2003, mas quer voltar a operar diretamente no país.
O nome de outro espanhol, o Santander, chegou a circular no mercado como possível interessado na semana passada, mas o banco está fora da disputa. O BofA tem 25% do Santander Serfin, no México, e por força de acordo entre as duas instituições, foi obrigado a oferecer primeiro ao espanhol suas operações na América do Sul. O Santander teria recusado a oferta sob a alegação de que sua exposição ao Brasil já era elevada.
O cronograma da operação previa que, nesta quarta e quinta-feira, assembléias de acionistas do Itaú e do BofA colocassem o negócio em discussão. No caso do Itaú, está prevista para a assembléia do dia 26 a votação do aumento de capital necessário à operação. Haverá, portanto, diluição da participação dos acionistas minoritários.
Há temores de que o negócio entre o Itaú e o BankBoston levante questionamentos sobre a concentração do setor bancário no Brasil. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que já presidiu o BankBoston no Brasil, não havia sido informado formalmente sobre o negócio até a semana passada, segundo apurou o Valor. Com a aquisição, o Itaú encosta no Bradesco na disputa pela liderança do setor financeiro privado no Brasil e pode até passá-lo, dependendo do ranking utilizado. Dados do Banco Central sobre os 50 maiores bancos, por exemplo, indicam que Itaú e BankBoston teriam, somados, R$ 168,6 bilhões em ativos. O Bradesco tem R$ 165,8 bilhões. O BankBoston tem hoje no Brasil R$ 2,1 bilhões de patrimônio.
Na área de administração de recursos, o Itaú superaria em muito seu principal concorrente. Somaria os US$ 12 bilhões do Boston aos seus US$ 22 bilhões. Além dos fundos de investimento, o Itaú tem especial interesse em três áreas do BankBoston: os negócios com pequenas empresas, os clientes classe A (em que o banco americano teria uma participação de cerca de 24% e o Itaú, de 11%) e no produto chamado “cash management”, espécie de administração da tesouraria de grandes e pequenas empresas. A sobreposição de atividades poderia afetar até 2,5 mil funcionários de ambas as instituições no Brasil.
Com o negócio, o Itaú se torna de fato um banco latino-americano, agregando atividades no Chile e no Uruguai. Hoje, o banco opera no Brasil e na Argentina, com o Itaú Buen Ayre. O BankBoston é o quarto maior banco estrangeiro no Chile, com cerca de US$ 1,5 bilhão em ativos e US$ 350 milhões de patrimônio. No Uruguai, opera com grandes e médias empresas, tem US$ 708 milhões em ativos e uma grande emissora de cartões private label local, a OCA.
Segundo o Valor apurou, as negociações entre o Itaú e a cúpula do BofA nos EUA começaram em outubro do ano passado e a instituição americana teria optado por negociar com apenas um banco, em vez de abrir um processo de competição entre interessados. No mesmo mês de outubro, o chefe do BofA para a América Latina, Richard Praguer, deu uma entrevista ao Valor ao lado do presidente do BankBoston no Brasil, Geraldo Carbone, dizendo que o país, ao lado da China, era um mercado prioritário para o banco.
Mesmo após o início das conversas com o Itaú, o BofA continuou a dar sinais de que tinha interesse em manter – e até expandir – as operações no Brasil. Em novembro, Gene Taylor, um dos principais executivos, visitou grandes empresas, como a Embraer. Em fevereiro, executivos do BofA participaram de encontro de vendas do BankBoston em Campinas para 550 funcionários, com show da Daniela Mercury.
fonte: Érika Soares – Afubesp e Valor Econômico