Santander Banespa faz lambança com números do balancete semestral

Ganha um doce quem responder corretamente quanto o Santander Banespa lucrou no primeiro semestre deste ano. Isso porque, os números do balancete do banco estão sendo objetos de uma verdadeira lambança, que lembra uma das frases preferidas do Chacrinha: “Não vim para explicar, vim para confundir”.

Dito pelo “Velho Guerreiro”, em seus programas na TV, o bordão até que ficava engraçado, mas quando se torna a melhor forma de descrever a performance de comunicação do banco que se diz “o melhor do mundo” é de doer.

Acompanhe, passo a passo, os números divulgados pela imprensa e o comunicado interno da empresa:

No dia 27 de julho, a Folha o­nline, divulgou nota na internet informando que o lucro do Santander Banespa teria caído 53% no período, ficando em R$ 473 milhões. “Essa queda, segundo o banco, ocorreu porque o resultado do primeiro semestre do ano passado foi inflado pela operação de venda das ações da AES Tietê, que gerou um resultado extraordinário de R$ 635 milhões naquele período”, afirma o texto, que complementa: “Outro fator que causou impacto no resultado do banco no primeiro semestre foi o aumento de 140% nas provisões de crédito em relação aos seis primeiros meses de 2005, que passaram de R$ 331 milhões para R$ 794 milhões”.

No dia seguinte, 28 de julho, o jornal Folha de S.Paulo, publica no caderno Dinheiro uma matéria sobre o mesmo tema. Entretanto, na nova versão, que cita apenas o Banespa, o lucro teria recuado em 47%, ficando em R$ 466,8 milhões. As explicações para a queda no resultado são semelhantes às divulgadas na Folha o­nline, porém os números também não batem. Segundo o texto, a venda das ações da AES Tietê, realizada em junho de 2005, “geraram um resultado extraordinário de R$ 626 milhões” e as despesas com a provisão para créditos de liquidação duvidosa “chegaram a R$ 468 milhões – crescimento de R$ 302 milhões se comparada a igual período de 2005”.

Além da confusão com o nome da empresa (Banespa ou Santander Banespa?) e das divergências nos números, a Folha de S.Paulo oferece uma novidade – provavelmente causada pela nota divulgada pela Folha o­nline. “No pregão de o­ntem (dia 27/7) da Bolsa de Valores de São Paulo, as ações do Banespa terminaram com fortes perdas: a preferencial caiu 18,15%, e a ordinária registrou desvalorização de 17,50%”, afirma.

Nos dias seguintes, tanto a Folha o­nline quanto a Folha de S.Paulo não voltaram a tocar no assunto, ou seja, não houve nenhuma correção sobre o que informaram.

Até aí a confusão dos números poderia ser resultado apenas da falta de rigor na apuração dos dados por parte da imprensa. Entretanto, em 1º de agosto (cinco dias depois da primeira matéria ter sido divulgada na internet), às 18h22, o banco soltou um comunicado interno com número diferente dos que tinham sido publicados.

Segundo comunicado interno, lucro de US$ 451 milhões foi recorde
A nota interna afirma, entre outras coisas, que “os resultados planejados estão sendo obtidos”, destacando que o primeiro semestre foi fechado “com um lucro líquido recorde de US$ 451 milhões (critérios do Grupo)”.

Como a moeda nacional continua sendo o real, a opção de informar o resultado do banco no Brasil em dólar mostrou-se intrigante. Algumas pessoas chegaram a pensar que a Folha o­nline e a Folha de S.Paulo teriam confundido dólares com reais. Embora o número (mesmo em real) não coincidisse com nenhum dos dois outros resultados publicados anteriormente – R$ 473 milhões e R$ 466,8 milhões –, pelo menos estava mais próximo.

Outro detalhe significativo é que o comunicado da empresa não menciona em nenhum momento um possível erro da Folha o­nline ou da Folha de S.Paulo.

Todos esses dados já deixaram você confuso? Então, se prepare, pois a “Lei de Murphi” voltou a mostrar que funciona. Quando tudo já parecia complicado, vem o golpe de misericórdia.

Acredite: comunicado interno estava errado
Nesta terça-feira, dia 8 (uma semana após enviar o comunicado), ao ser questionado sobre os números conflitantes, o banco informou (pasmem) que a nota interna estava errada e que ela seria corrigida. O valor correto seria em reais e não em dólares como foi mencionado.

O que fazer com as outras “informações” contidas na nota? “Os resultados planejados estão sendo obtidos”, “Fechamos o semestre com lucro recorde”, “O Santander Banespa surge como o terceiro banco privado e o maior banco estrangeiro do País” e outras frases do texto, que só fariam algum sentido se o valor fosse realmente em dólar, lembram a piada do sujeito que entra no elevador. Ao ser indagado pelo ascensorista em que andar iria descer, ele responde: “Qualquer um, já errei de prédio mesmo!”.

Versão do Jornal da Afubesp
A última edição do Jornal da Afubesp (n.º 732), publicou uma nota com o lucro do banco no primeiro semestre utilizando informações da Folha o­nline. O texto ficou assim: “o lucro do Santander Banespa, de R$ 473 milhões, caiu 53% em relação ao mesmo período de 2005, quando somou R$ 1,011 bilhão”.

Se até o fechamento da próxima edição estiver definido qual o número real, e este for diferente do escrito, o jornal da entidade fará uma errata.

fonte: Airton Goes – Afubesp