QUEM MATA CRIANÇAS”: ARTIGO DE BIONDI
(Transcrição de artigo do jornalista Aloysio Biondi,
publicado na edição de hoje do jornal Diário Popular)
A reportagem foi publicada ontem na imprensa: “Flagelados não foram pagos em dezembro”. Logo no início, o texto informava: “Além da falta de água, de comida e de trabalho, os flagelados da seca na área mineira da Sudene nem sequer receberam os R$ 80,00 de dezembro de 1998, último mês “ em que as frentes de trabalho funcionaram em Minas Gerais.
Vale a pena ler e reler esse trecho, para ficar sabendo a realidade terrível do Brasil e seu povo, neste momento:
A manobra – Na verdade, a seca que atingiu o Nordeste no ano passado nunca havia acabado. A grande imprensa, jornais, rádios e TVs, deixaram simplesmente de noticiá-la por “encomenda” do governo.
A tragédia – Neste ano, as chuvas que deveriam ter caído até março/abril não vieram: os problemas dos nordestinos estão cada vez mais dolorosos, com um segundo ano de seca. A imprensa não pode mais escondê-los.
Os cortes – No ano passado, a tragédia nordestina ficou escondida exatamente até esta época, julho-agosto, e somente ganhou espaço na imprensa quando os flagelados partiram para o saque. Só aí o governo providenciou verbas para distribuição de cestas básicas e criação de frentes de trabalho. Mas, como o noticiário de ontem mostra, o socorro durou pouco, com a suspensão das frentes já em dezembro. Motivo: cortes no orçamento, por causa do acordo com o FMI.
O genocídio – Prova de que o governo e a imprensa escondem a verdade: em abril último, a grande imprensa publicou duas reportagens sob os títulos “Seca aumenta mortalidade infantil no Nordeste” e “Seca transforma trabalhadores em mendigos”.
Por que as manchetes são mentirosas, enganam o leitor? O texto das reportagens dizia exatamente que o governo estava atrasando em dois meses e meio o envio de cestas básicas – e não estava pagando os trabalhadores das “frentes”. Isto é: a seca não é a culpada, como dizem os títulos. Quem mata crianças é o governo, com seu corte de verbas.
A matança é pavorosa: em cada 1.000 crianças de até um ano, estavam morrendo 400, ou praticamente a metade, em regiões do interior nordestino. Para entender o que isso significa: esse número, 400 , é nada mais nada menos que o dobro do recorde mundial, de 200 crianças mortas em mil, e que pertencia à paupérrima África, dizimada por guerras civis intermináveis, com milhões de refugiados famintos vivendo em condições precárias . E o Brasil ganha da África…
A leviandade – O presidente da República, seus ministros e jornalistas chapa – rosa costumam anunciar, sorridentes, que o governo está conseguindo “cortar despesas”. Que está conseguindo cumprir o acordo com o FMI. Não ria, não festeje junto com eles. Chore pelas crianças que estão morrendo como moscas, chore pelos miseráveis de todo o País, que estão morrendo longe dos olhos da opinião pública, no Nordeste ou em São Paulo. E chore pela conivência da imprensa com esse genocídio, essa matança de brasileiros.
fonte: AFUBESP