“TEM DÓ, MERITÍSSIMO”, ARTIGO DE ALOYSIO BIONDI
Artigo publicado na edição de hoje do jornal Diário Popular
O governo do Estado do Rio, sob as ordens do governo FHC, privatizou o seu banco, o Banerj, na administração de Marcelo Alencar (PFL), antecessor de Garotinho. O Banerj foi dividido em duas partes: uma, lucrativa, que foi ‘‘vendida’’ ao Itaú: a outra, ‘‘podre’’, ficou com todas as dívidas, empréstimos que nunca serão pagos etc., e foi mantida como governo do Estado, que deverá, assim, honrar — com dinheiro dos impostos do povo — todos esses compromissos anos a fio.
Toda a operação foi uma monstruosidade, um daqueles negócios da China realizados com o apelido de ‘‘privatização’’ pelo governo FHC e governadores submissos, como Mário Covas. Quem confirma as aberrações cometidas, e que a opinião pública jamais aceitaria em qualquer outro país, é o próprio Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, em relatório divulgado esta semana.
Você imagina o valor das dívidas que o governo carioca vai ter de pagar? São fantásticos R$ 9 bilhões — e o prejuízo do Estado vai ainda mais longe, a R$ 12 bilhões, segundo o governador Garotinho, quando se leva em conta também o valor real que a infra-estrutura, agências, equipamentos do Banerj apresentavam. Quanto o Itaú pagou por essa mina de lucros? Não derrube o queixo: apenas R$ 300 milhões. Isso mesmo: o governo Alencar, sob as ordens do governo FHC, assumiu dívidas de R$ 9 bilhões em troca de R$ 300 milhões.
Na verdade, diz o Tribunal de Contas, nem esses R$ 300 milhões foram reais: o Itaú (como em outras privatizações) não precisou pagar com dinheiro vivo, foi autorizado a pagar com títulos federais e estaduais que comprou no mercado por menos da metade do valor do preço real. Com isso, no final das contas o Estado do Rio recebeu ridículos R$ 100 milhões.
Em qualquer outro país do mundo, repita-se, a divulgação dessas negociatas bilionárias provocaria furor na opinião pública — e nos meios de comunicação.
Aqui, os escândalos caem no vazio e, o que é pior, os negócios lesivos ao povo brasileiro continuam. Ainda agora, um juiz de Brasília cassou a liminar que suspendia a privatização do Banespa, o banco estatal paulista, e que havia sido solicitada por nada menos de 11 procuradores da República. Os procuradores estavam errados? O juiz achou que eles não tinham razão, nas denúncias de irregularidades, ilegalidades e inconstitucionalidades que fizeram para impedir a venda do banco? Nada disso.
O juiz apenas resolveu aceitar as justificativas do governo FHC para vender o Banespa a toque de caixa: segundo essas desculpas, qualquer ‘‘atraso’’ na venda representaria um prejuízo de uns R$ 400 milhões por ano ao governo federal (a quem Covas entregou o Banespa). Por que? Porque, com a venda, o Tesouro deveria receber uns R$ 2 bilhões e, com isso, reduziria sua dívida e deixaria de pagar juros de 20%ao ano sobre aquela cifra, correspondente aos R$ 400 milhões.
Tem dó, meritíssimo. Basta ver o ‘‘rombo’’ de bilhões provocado pela venda do Banerj para concluir que, se o desejo é evitar o desperdício de dinheiro do povo, a decisão correta é impedir a venda do Banespa como planejada.
fonte: AFUBESP