“NÃO À VENDA DO BANESPA” – ARTIGO DO DEPUTADO EDINHO ARAÚJO (PPS)
Edinho Araújo
(artigo publicado na edição de 1º de março do jornal Diário Popular)
O leilão do Banespa, marcado a princípio para 16 de maio, mas ainda incerto devido aos questionamento na Justiça com base nas irregularidades investigas pelo Ministério Público Federal no processo de privatização, promete ser, caso realmente se concretize, uma das páginas mais lamentáveis da história de São Paulo e do Brasil. E para piorar, um decreto do final do ano passado autorizou a compra de até 100% de seu capital por instituições financeiras.
Trata-se, o Banespa, de uma instituição quase centenária, fundada em 1909 e que cresceu junto com a expansão econômica de São Paulo, tendo sido o primeiro banco do país a conceder crédito agrícola, em 1930. Hoje o Banespa é parte da história e do patrimônio paulista, com 577 agências – 500 só no Estado – e presente em mais de 400 municípios.
A força e a dimensão do Banespa podem ser medidas por alguns números. O banco tem 2,7 milhões de clientes, com R$ 15 bilhões em depósitos. No ano passado, o banco teve um lucro líquido de R$ 1,1 bilhão. Trata-se de uma holding poderosa, atuando em diversos setores financeiros, inclusive a Banespa Leasing, com patrimônio de mais de US$ 300 milhões; a Banespa Cartões, com cerca de 650 mil cartões emitidos; a corretora de valores Banescor, com patrimônio avaliado em quase 500 milhões de reais.
O papel de um banco público numa nação com tantas carências como a nossa não pode ser desprezado. Um banco público tem a missão de oferecer crédito e serviços onde outros banco não entram. As instituições públicas, por isso, são fontes importantíssimas de desenvolvimento justamente porque assumem compromissos de alto risco e baixo retorno, atuando em esferas nas quais as instituições privadas não têm interesse pela baixa lucratividade.
Qual banco privado, principalmente se for uma potência estrangeira, vai querer emprestar dinheiro para um pequeno comerciante poder alavancar seu negócio? Qual banco privado vai querer financiar o pequeno agricultor, na sua roça de milho?
O Brasil precisar estimular a produção. E não é entregando suas instituições financeiras a grupos privados que se conseguirá isso. Pelo contrário, ao privatizarmos um banco com solidez, credibilidade, capilaridade de agências e extensão da atuação do Banespa, estaremos perdendo um braço importante no apoio às micro e pequenas empresas, ao produtor final, ao trabalhador autônomo, enfim, àqueles que produzem, somam riquezas a esse País e geram empregos.
O ideal seria que, ao invés de vender o Banespa, perdendo uma sólida base para o desenvolvimento, o governo criasse condições para que ele se tornasse ainda mais forte.
Nesse sentido, é importante registrar a iniciativa exemplar dos funcionários do Banespa, tendo a Afubesp e o Sindicato dos Bancários de São Paulo, que, com a ajuda de alguns economistas, produziram uma proposta de transformação do Banespa numa verdadeira instituição pública. As mudanças sugeridas passariam pelo conselho de administrador do banco, no qual teriam assento o Estado, o Sebrae, a Banesprev (fundo de pensão dos funcionários) e representantes dos prefeitos paulistas. Teríamos, assim, um a composição híbrida e democrática, que daria ao Banespa condições de ser ainda mais competitivo.
É preciso ressaltar que o banco, a despeito das agressões que tem sofrido, continua a ser altamente lucrativo, razão pela qual desperta a cobiça de grupos nacionais e estrangeiros.
O Brasil deve resgatar a função social do crédito, um dos pilares do desenvolvimento. E, para isso, precisamos de um Banespa a serviço de São Paulo e do País.
Edinho Araújo é deputado federal pelo PPS
fonte: AFUBESP