PRIVATIZAÇÕES, ESSE ASSALTO – ALOYSIO BIONDI
Agora que os preços da gasolina, diesel e outros combustíveis estão sendo aumentados, os jornais, revistas, TVs e rádios estão transmitindo as explicações do governo: ah, é por causa do aumento dos preços do petróleo no mercado internacional. Os trabalhadores, empresários, agricultores brasileiros coçam a cabeça e perguntam para seus botões:
– Mas que diabo de aumento dos preços do petróleo foi esse que eu nunca ouvi falar antes? Será que ele foi tão grande assim? Então por que os meios de comunicação não disseram nada? Afinal, a imprensa sempre fez um grande estardalhaço em torno do petróleo…
Exatamente. Desta vez, os preços internacionais do petróleo foram subindo, subindo, desde fevereiro, e até dobraram, de 10 para 20 dólares o barril, no mercado mundial – como esta coluna explicou detalhadamente ontem. A imprensa? Quieta, quietinha, meses e meses a fio – e até agora está explicando muito mal o que aconteceu, continuando a esconder as “traições do governo Fernando Henrique” contra o povo brasileiro e o País. Como entender essa conspiração? Não coce a cabeça, é simples – e tremendamente vergonhoso.
Assalto planejado – desde o final do ano passado, o governo Fernando Henrique tinha programado um leilão para “privatizar”, “vender” áreas do território brasileiro onde a Petrobás descobriu petróleo. Isto é, leilões para permitir que grupos empresariais privados e grandes multinacionais passassem a extrair petróleo e faturar bilhões e bilhões de reais que na verdade pertencem à população brasileira.
Riqueza fabulosa – poucos brasileiros sabem disto: o Brasil, principalmente na plataforma submarina (fundo do mar), tem as jazidas de petróleo mais fabulosas do mundo. São campos de petróleo onde um poço, sozinho, produz nada menos de 10.000 barris por dia.
O que isto significa? Só para comparar: a maioria dos poços de petróleo dos EUA produz miseráveis 100 barris por dia, ou cem (c-e-m) vezes menos, isto é, as multinacionais americanas precisam abrir 100 poços de petróleo para empatar com um poço brasileiro.
De graça, mesmo – leia e releia esses números, para entender os gigantescos lucros que o Brasil poderia ter com o seu petróleo. Agora, além de entregá-lo, o que foi que o governo Fernando Henrique teve a coragem de fazer – com o apoio do silêncio da imprensa? O governo anunciou a venda das áreas de petróleo brasileiro por um preço que nem é preço: só uns trocadinhos. Quanto? De 50 mil a 150 mil reais (é m-i-l, mesmo, isto é, metade do preço da Ferrari do Ronaldinho), por área onde podem ser abertos, veja bem, centenas de poços fabulosos. Melhor que mina de ouro.
A conspiração – qual foi a desculpa que o governo Fernando Henrique usou para explicar esses preços? O presidente da Agência Nacional de Petróleo. David Zylberstajn, dava entrevistas afirmando que o mercado mundial estava muito mal, os preços estavam incrivelmente baixos, e por isso as multinacionais não se interessavam pelo petróleo brasileiro. Era preciso “doar” para eles fazerem o favor de aceitar…A esta altura, você já matou a charada: o governo Fernando Henrique e a imprensa esconderam durante meses o aumento dos preços mundiais do petróleo, porque se a sociedade ficasse sabendo dessa alta, a desculpa para entregar o petróleo, grátis, estaria desmascarada.
A privatização no Brasil – telefonia, energia, rodovias, siderurgia, petróleo e etecetera – é um assalto atrás do outro. Após o exemplo dos caminhoneiros, a sociedade vai reagir e exigir revisão desse processo?
Publicado originalmente no “Diário Popular” – (edição de 5/8/99)
fonte: AFUBESP