Presidente do Santander pede fim dos bancos públicos
O presidente do Santander Banespa no Brasil, Gabriel Jaramillo, o colombiano que se naturalizou brasileiro, pediu o fim dos bancos públicos e o repasse das verbas públicas aos bancos privados, entre outras sandices que cometeu em entrevista publicada na edição da revista IstoÉ desta semana.
Segundo Jaramillo, “os governos ainda têm muito o que fazer para acertar algumas coisas fundamentais. Todos os esforços devem estar em questões como saúde, educação. Não se justifica, no mundo de hoje, haver governos dedicados a uma atividade que o setor privado faz e, no longo prazo, fará melhor. Não há razões para manter essa alta participação pública no sistema financeiro”.
Ou o colombiano desconhece a importância dos bancos públicos no projeto de desenvolvimento sustentável brasileiro ou está apenas repetindo um bordão dos neoliberais. Para os banqueiros privados, seguindo a lógica da concentração financeira, quanto menos concorrência melhor.
Mas não basta ter agências em todos os lugares — o que, aliás, os bancos privados não têm, porque fogem das regiões menos rentáveis. É necessário linhas de crédito e programas de financiamento e custeio para a sociedade. Esse papel cabe ao governo como elaborador de políticas que utiliza como instrumento de suas políticas os bancos públicos, dotados de corpo técnico e operacional mais afeito a esse tipo de operações.
Se o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal fossem extintos, como quer Jaramillo, o Santander os substituirá no financiamento à agricultura, à habitação e à infra-estrutura nacional? O Bradesco e o Itaú executarão políticas públicas visando o desenvolvimento econômico, o fim das disparidades regionais e criação de empregos e distribuição de renda?
Como se não bastasse, Jaramillo também se queixou na entrevista de que “as movimentações de dinheiro público são feitas em sua maior parte pelos bancos públicos, o que limita a atuação do setor privado”. Ele quer que os governos federal e estaduais repassem as verbas públicas aos bancos privados, a exemplo do que fez o ex-prefeito José Serra, em São Paulo, que retirou as contas da Prefeitura do BB e as repassou ao Itaú.
É no mínimo divertido ver os defensores do livre mercado reivindicarem benesses do Estado para seus interesses particulares.
Veja a íntegra da entrevista de Jaramillo na IstoÉ:
“O governo não tem que ser banqueiro”
Presidente do Santander Banespa defende
a redução da fatia dos bancos públicos
Por Célia Chaim e Milton Gamez
Quando pagou R$ 7 bilhões pelo Banespa, em novembro de 2000, o executivo colombiano Gabriel Jaramillo, destacado para comandar o avanço do Banco Santander no Brasil, foi muito criticado pelo tamanho da oferta. O lance ficou quase R$ 5 bilhões acima do oferecido pelo segundo colocado, o Unibanco.
Hoje, Jaramillo ri por último e avalia que o negócio saiu barato. “Estávamos certos”, diz. O banco tem massa crítica para competir no Brasil e já contribui com 15% dos resultados globais do Grupo Santander. Acaba de unificar os sistemas e as operações das seis instituições que o formaram (Santander, Banespa, Geral do Comércio, Noroeste, Meridional e Bozano, Simonsen) e adotará, agora, uma única marca: Santander Banespa.
Aos 56 anos, Jaramillo tem planos de longo prazo por aqui. Naturalizou-se brasileiro e prepara-se para votar nas próximas eleições. O Brasil, defende, deveria olhar para outros parceiros comerciais mais importantes e fazer acordos de livre comércio com os Estados Unidos e a União Européia. O comentário vem em razão da nova crise Brasil/Bolívia.
“Um país como o Brasil não tem que se comparar com a América Latina.” Para crescer após a queda dos juros, os bancos privados terão de conquistar mais clientes de baixa renda. E, se o governo permitir, farão operações típicas dos bancos públicos – donos de quase metade dos ativos bancários no País. “Não há razões para manter esta alta participação do setor público no setor financeiro”, afirma, na seguinte entrevista a ISTOÉ.
ISTOÉ – O Santander é o maior investidor em bancos da América
Latina. Como o sr. vê a crise com a Bolívia?
Gabriel Jaramillo – Os contratos devem ser respeitados. No mundo de hoje,
isso é fundamental para fazer parte da comunidade internacional e receber investimentos estrangeiros. Os países que forem na direção contrária ficarão
numa situação muito difícil.
ISTOÉ – A América Latina está ficando um lugar arriscado para investir?
Jaramillo – Não existe um destino de investimentos chamado América Latina.
O que temos são diferentes países. No Brasil, felizmente, temos uma situação
muito positiva em termos econômicos, seriedade e respeito aos contratos. Os investimentos estão acontecendo.
ISTOÉ – O Brasil tem crescido muito menos que China e Índia. Perdemos esse bonde?
Jaramillo – É indiscutível que estamos em um momento único e muito bom na economia mundial. As economias que entraram nesse ciclo em melhores condições estão aproveitando mais. Nosso nível de crescimento é positivo. Eu gostaria que fosse maior, mas o fato é que temos um ritmo de crescimento. É admirável a disciplina e o rigor com que assumimos a responsabilidade para fazer os ajustes nos aspectos fundamentais da economia, para assegurar não só um crescimento maior, mas um crescimento que perdure. Poderíamos estar crescendo aos níveis da Índia neste momento, mas não podemos esquecer que o PIB da Índia é menor que o do Brasil.
ISTOÉ – Como brasileiro recém-naturalizado, o que o sr. gostaria de ver neste país nos próximos cinco anos?
Jaramillo – Gostaria que nós mudássemos nossa meta, nossa base de comparação. Ouço muito que somos o maior país da América Latina nisso e naquilo. Mas esta é uma referência errada. Um país como o Brasil não tem que se comparar com a América Latina, tem que pensar no mundo. É melhor a classe empresarial confrontar essa realidade e ter como meta estar entre os dez primeiros do mundo em suas áreas de atividade.
ISTOÉ – Como o Brasil pode conquistar espaço no mundo se na América Latina sua liderança está ameaçada?
Jaramillo – O Brasil já demonstrou uma grande capacidade e sabedoria para manter boas relações com seus vizinhos. Tem que seguir praticando isso. Mais importante é ter grandes ambições. Nós temos que fazer alianças e tratados comerciais com os grandes mercados. Não teremos futuro se não fizermos isso. O Brasil tem de ter um acordo de livre comércio com os Estados Unidos, com a União Européia. É um erro não ter tratados com os dois principais mercados do mundo.
fonte: SindBancários com informações do Seeb Brasília e d